domingo, 26 de outubro de 2008

Romance d’A Pedra do Reino e o príncipe do sangue do vai-e-volta

Esse eu posso chamar de tijolo sem medo de ser feliz. Também posso a recomendar a qualquer pessoa sem nenhum medo de ser feliz. Coincidências? Mas isso nem importa; o que vale é que eis aqui uma obra que posso dizer "wow" de boca cheia. Uma obra com uma carinha de América Latina. Será que deveria dizer sertaneja? Não creio. Assim estaria deixando Ariano Suassuna no mesmo patamar que os 99% dos autores chatos e ruins que povoam minha terra e tentam nos sufocar com um regionalismo bobo do tipo ‘o que é daqui é melhor que o seu, lero lero’.

Por que Ariano sai desse povão? Bem, primeiro temos aqui uma obra com alguma preocupação estética (sim, as pessoas na minha terra acham que reler significa ‘deixar de fazer uma obra pura e sua’. Eu prefiro coisas boas a coisas puras). A Pedra do Reino conta a história de Dom Pedro Dinis Ferreira-Quaderna, o Decifrador. Na verdade, ele é um cantador e burocrata dono de bordel sem grandes perspectivas, se olharmos de fora. Para si ele é o quinto Rei da Pedra do Reino, o verdadeiro Império do Brasil. Dom Quixote? Talvez, mas o cavaleiro da triste figura busca coisas diferentes do rei Dom Pedro IV.

Dom Quixote poderia ter sido cavaleiro dos que desejava ser se tivesse nascido umas boas centenas de anos antes. Já o Quaderna estava impressionado com a história de seus ascendentes que 100 anos antes haviam formado o verdadeiro Império do Brasil na Pedra do Reino. O antigo império havia lavado com sangue duas místicas pedras que eram o castelo do Reino, mas fora derrotado em pouco tempo e sua história esquecida.

Quaderna, assim como Dom Quixote, quer reviver esse tempo e os privilégios que sua família possuiu. Mas não nasceu para soldado e sua coragem deixava muito a desejar. É quando durante uma conversa com seus tutores, amigos e parasitas, Samuel e Clemente, ele descobre que há uma forma de reaver a glória perdida. Ele e só ele poderia ser o Gênio Máximo da Humanidade e escrever a Obra da Raça. E não é que o desgraçado consegue!

Sua obra se propõe a contar uma história de aventura, amor, sangue, vingança, fantasia, religião, mistério e glória. Nisso o Quaderna opta por contar sua própria história, começando com o que o leva a estar ali preso em 1938. É engraçado como muita realidade se mistura na ficção aqui. Tanto para o leitor quanto para Dom Dinis. Samuel, integralista (ou armorial, embora segundo o próprio Ariano isso seja questionável), e Clemente, comunista, ajudam muito nessa confusão de datas, citações e eventos semi-históricos que mostram uma realidade sertaneja sem aquelas perebas, fomes e mortes. Aqui tudo precisa brilhar.

Encontramos nele uma obra sertaneja e universal. Como me disseram lá no seminário de literatura, esta seria a obra máxima do barroco brasileiro, mas cá tenho minhas dúvidas sobre isso. Só sei que é o melhor livro escrito em português que já li. Além disso, só por curiosidade, Ariano Suassuna é realmente muito gente boa e um moooonstro de formação clássica. Penso que sua literatura merece mais reconhecimento que suas interpretações globais. Enfim, Tiro meu chapéu.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

De quando eu fui num seminário Letras

Holy crap, estive mesmo em um! Eles iam falar sobre literatura clássica e o Gussie me convenceu a dar uma olhada. Aparentemente ia ser mui bom, apesar de eu ser obrigado a atravessar duas cidades para chegar na universidade (e todos sabem que o tempo que você fica na universidade é inversamente proporcional à vontade de ir lá [oh, esqueci que ainda tem gente que quer entrar. É bein legaulz, gentix. Podjem ir lááá!). Enfim, acabei indo esperando encontrar alunos de Letras falando besteira (o que de fato havia) e algum professor com três idéias ruins e uma boa pelo motivo errado.

Mas não é que havia professores com boas idéias (ponto). Incrivelmente também havia alunos de Letras falando coisas legais! Mais incrivelmente ainda aparece Ariano Suassuna de repente e me surpreende mostrando ser um monstro no tema!

Emoções demais para um só dia e olhe que ainda vem mais (não é todo dia que tenho meus preconceitos abalados, infelizmente). Ai ai, de repente a universidade apronta poucas e boas para a melhor (ok, ainda assim é melhor esperar até o final antes de dizer qualquer coisa, afinal universidade pública nunca se sabe...).

Continua no próximo capítulo (se eu sobreviver).

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

As Mil e Uma Noites... mentira!

Ps: (agora alguém deve se perguntar porque diabos há um ps na frente do texto e na frente do ps há um comentário nada relacionado só para perder o tempo alheio e que na realidade não há nenhum ps a ser dito [wow, três ps's na mesmo frase!]. Bem, só deu vontade de fazer, perdoem meus caprichos).

Esse texto ia ser sobre eleições e acabou sendo. Falar tudo o que já foi dito por ai. Que votar em branco ou anular é que é a vibe do momento e que se ganhou alguém na sua cidade azar o seu. Também ia falar coisas engraçadinhas como dizer que em minha cidade disputaram uma das vagas na nossa querida câmara omissa Reginaldo Rossi, o rei do brega nordestino, Odete, a maior cafetina de pernambuco, e He-Man, para combater o atual prefeito que era um fóssil vivo (possivelmente eu poderia dizer que ele estudou na mesma escolinha que Dercy só para me sentir cool e mais novo). No fim, as eleições municipais são uma experiência frustante em nível menor.

Ai veio a lembrança do terceiro volume das Mil e Uma Noites (aquela edição linda da ed. Globo que custou a minha vida). Num mundo fantástico de vastos territórios selvagens onde só se encontra areia e mar, existem cidades. É interessante ver que nas cidades o que manda é o gosto do povo e um pouco da sorte de 'estar no lugar certo e na hora certa'. Algumas histórias trazem reis malvadões e corruptos que são substituídos por estrangeiros de bom coração, índole e origem (lembrando que é tudo obra do divino nesses casos embora seja o povo que dê um belíssimo pé na bunda nos reis). Enfim pressupõe-se que você tenha que ser justo e fiel (e muitas vezes simplesmente não atuante) para ser um bom rei, caso contrário a porta da rua será a serventia da cidade.

Sempre penso que seria tão mais legal se as coisas ainda fossem obra do divino. Mas lembro que não se pode discordar (a não ser com dez milhões de assinaturas numa petição online) e ainda somos obrigados a entrar numa festa democrática do direito obrigatório. Um rei e um vizir como primeiro ministro parece uma coisa tão mais lógica. Se eles forem corruptos, ai Deus castiga. Infelizmente, como não funciona na prática, temos prefeitos (mas se funcionasse, quantos prefeitos sobrariam no Brasil?).

O acaso sempre traz coisas boas apesar das adversidades. Na história de Simbad, o marujo, (que na verdade é um mercador marítimo) temos uma demonstração disso. Todas as viagens de Simbad são fantásticas e quase levam o mercador à morte (aparentemente quase morrer é fantástico). Mas o acaso sempre o salva e presenteia-lhe com riquezas. Por isso quando envelheceu ele bebe e come de tudo aquilo que conquistou em vida com sua família e prova a um outro Simbad, o estivador, que ele sofreu para estar lá e merecer o que conquistou.

Será que é por isso que no Brasil votamos em toda sorte de candidatos ruins para que no fim de toda história sejamos recompesados com algo bom? Ou é só para dizermos que sofremos e merecemos o que temos? Difícil, até lá vamos tomando remédio pra curar a ressaca dos boca-livres eleitorais.