terça-feira, 25 de agosto de 2009

Revolta e Melancolia: o Romantismo na Contramão da Modernidade

É normal que exista um certo preconceito (e não sem razão) contra livros acadêmicos. Penso que sejam um dos catalisadores do sono em bibliotecas universitárias, mas isso não vem ao caso. Este livro de Michael Löwy e Robert Sayre não é, inicialmente, muito diferente desses que merecem nosso preconceito. É bem legal e cabeça aberta quando pretende buscar o seu objeto de estudo em qualquer coisa. Neste caso, estamos falando do romantismo.

Para citar logo a parte chata, o próprio movimento e as interpretações são analisados de modo, hã, amplo. São tantas fontes citadas que por várias vezes não fazemos a menor idéia de quem está falando sobre o que por causa de alguns excessos do uso do 'apud'. Mas é engraçado que a obra vai se construindo e a análise acaba sendo bastante completa e abrangente. Se alguém realmente quiser aprender mais sobre o romantismo este é um bom lugar para ampliar os conhecimentos, mas não para iniciá-los.

Ai aparecem alguns juízos de valores que fazem nossas sobrancelhas se divertirem num sobe e desce sem fim. Os autores colocam o romantismo como um movimento que esteve sempre deslocado do tempo dos, er, capitalistas e dos industrialistas. Colocam os escritores românticos como pessoas que sempre viviam a fugir da realidade porque não se adaptavam a ela. Era mais divertido criar algo que fosse do seu gosto que viver num mundo , hã, errado.

Sendo assim, por que não considerar qualquer ficção como uma variação do romantismo? É o que acaba acontecendo. É o velho dilema do mundo dividido em dois: a situação que detém o poder econômico from hell e a revolução que é bonita, fofa e legal. Isso realmente me faz questionar sobre o que motiva um autor a escrever. Será que eles andam na rua vêem um mendigo e pensam: "ó meu Deus, tenho uma história", enquanto os carinhas da classe média continuam sendo aquela coisa eternamente sem gosto?

Mas é ai entre uma zoação e outra que paira o sentido do romantismo. É só pensar em um grupo de autores que de repente tiveram sentimentos semelhantes em relação a sua época e que com isso criaram obras brilhantes. O que o livro realmente quer dizer é que se um dia isso aconteceu, por que não de novo? Assim Löwy e Sayre saem à caça de referências contemporâneas do romantismo (com um destaque especial para a ficção científica e a fantasia). No final acaba sendo um bom livro de pesquisa (ou de curiosidades mesmo) que até nem nos faz dormir muito.

ps: outro ponto que achei divertido (e que muita gente deve achar revoltante por motivos bem diversos) foi o fato de Marx ser tachado como romântico no livro. Mas quando vejo em Marx, Hitler e Tolkien compartilhando idéias, penso que deve ter algo errado nessa classificação. Isso porque nem deu vontade de falar em George Lucas...