Comprei esse livro aproveitando uma dessas promoções imperdíveis da amazon. Pena que enrolei tanto para começar a ler. A edição especial de 50 anos é belíssima com direito a capa dura, ilustrações e mais. Nos extras há até um glossário (que só descobri tardiamente e tirou algumas dúvidas) e outros textos de Burgess discutindo o seu próprio sucesso. A tradução também está de parabéns nesse livro.
O livro é narrado em primeira pessoa por Alex, um adolescente que faz questão de contar tudo em sua língua de gueto, o nadsat. Antes de iniciar o livro, os tradutores explicam algumas expressões e escolhas utilizadas para expressões de nadsat (que basicamente mistura inglês com russo). E mesmo assim, fui surpreendido por um texto carregado dessas expressões. Acho que só senti algo semelhante quando li Grande Sertão.
Ainda que inicialmente chocante, logo nos acostumamos com a linguagem e vamos acompanhando o jovem Alex em sua rotina de ultraviolência, que dominava as noites da cidade. Mesmo sendo o narrador, ele não se poupa de detalhes das atrocidades cometidas por ele e seus amigos. Até que um dia algo dá errado e o jovem é traído e preso. Até criamos alguma expectativa de que ele vá mudar na prisão, mas o narrador nunca muda. Seu pensamento é exatamente como no começo do livro.
A discussão que o livro propõe também é curiosamente moderna. Jovens violentos, marginalizados, bandidos. Há os que achem que bandido bom é bandido morto. Que esses jovens não podem ser recuperados. São uma geração perdida. Mas essas mesmas pessoas "de bem" não percebem a crueldade de seus desejos. Elas só desejam segurança, mesmo que o preço seja destruir essas "pequenas sementes do mal" de qualquer maneira possível.
Nesse quesito, Laranja Mecânica envelheceu bem. Sua crueldade urbana e juvenil ainda é moderna. Sua sociedade "do bem" é cheia de dúvidas, incertezas, manipuladores e medo, o que serve de justificativa para reações violentas da sociedade contra seus contraventores. Há quem pregue que essa é a solução para os que vivem a margem da lei, mas a solução em si não é foco do livro. O foco aqui é um jovem marginalizado que é agente da violência de seu tempo e depois vítima da reação da sociedade, que não parece tão diferente do jovem em si.
Laranja Mecânica é um excelente livro sobre violência. É um clássico muito atual no Brasil e vale muito a pena ser lido. Alguns podem ter dificuldade na linguagem inicialmente, mas com um pouco de esforço isso é superado. Aconselho especialmente essa edição de 50 anos, mas parece que ela anda meio difícil de ser encontrada. Há também o filme de Kubric que parece ser bem fiel ao livro, mas cada mídia tem uma experiência diferente.
Laranja Mecânica é um excelente livro sobre violência. É um clássico muito atual no Brasil e vale muito a pena ser lido. Alguns podem ter dificuldade na linguagem inicialmente, mas com um pouco de esforço isso é superado. Aconselho especialmente essa edição de 50 anos, mas parece que ela anda meio difícil de ser encontrada. Há também o filme de Kubric que parece ser bem fiel ao livro, mas cada mídia tem uma experiência diferente.