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terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Fundação e a Terra

Por algum motivo idiota, durante o período eleitoral, eu ficava um pouco incomodado com a capa deste livro. Ela me passava uma certa sensação de regime autoritário. Coisa do calor do momento, afinal este livro não toca a questão de governos. Porém uma coisa que é muito discutida nessa obra são as ameaças à humanidade.

Em Fundação e a Terra continuamos com as aventuras do conselheiro Trevize e o Dr. Pelorat exatamente onde pararam no livro anterior. Com a adição de mais uma pessoa na tripulação, eles persistem na busca pelo planeta de origem da humanidade. Trevize acredita que se conseguir encontrar a Terra, isso tirará o peso da escolha que ele fez no final de Limites da Fundação.

Desta vez, a espaçonave Estrela Distante desbrava mais mundos através da galáxia. Em cada um deles, mesmo nos mais inofensivos, a tripulação tripulação encontra ameaças que os fazem questionar a própria busca. Mas todos entregam pelo menos alguma pista, o que os dá o próximo passo do quebra-cabeça. Em um ponto, eles finalmente ouvem falar nos Siderais, humanos de vida longa, aparentemente geneticamente modificados e que utilizavam robôs. Eles fizeram parte do primeiro esforço de colonização do espaço e sumiram no mesmo período da suposta destruição da Terra.

No final, podemos perceber que cada planeta errado visitado nos deu elementos para responder a escolha feita por Trevize. Os mundos siderais mostraram uma decadência da humanidade que só pode ser comparada a da queda de Trantor, junto com I Império Galáctico. Mas foi algo muito mais grave. Eram mundos que após terraformados deixaram de ter a presença de seres humanos e estavam retornando lentamente pro seu estado natural que tolerava uma biodiversidade cada vez menor. Um deles havia até perdido a atmosfera e só possuía um tipo de fungo agressivo como habitante. Em outro, é interessante notar a confusão dos personagens ao encontrar criaturas realmente selvagens, que nunca haviam entrado em contato com seres humanos em 20.000 anos.

E nesse ponto o autor deixa clara sua postura alarmista, bem comum em autores de ficção científica. Ao mostrar o final da civilização de certos mundos, Asimov nos faz questionar o  final de nossa própria civilização. Nada de invasão alienígena e guerras épicas espaciais. Apenas uma decadência contínua da sociedade e conflitos por hegemonia que levariam até a perda da tecnologia essencial que mantinha os mundos vivos. Essa percepção faz Trevize notar que sua escolha foi ideal. Sua explicação para ela parece um pouco anticlimática, afinal foram poucas frases para resumir uma viagem por 5 ou 6 sistemas estelares e um livro inteiro sobre elas. Mas ela não falta com a realidade proposta pelo universo da Fundação.

Assim, apesar de não mostrar a formação do Segundo Império Galáctico, Asimov consegue encerrar bem a história da Fundação. Sabemos, por inferência, exatamente o que vai acontecer e o futuro é otimista. O plano Seldon certamente seria bem sucedido e levaria a humanidade inteira para outro patamar como espécie. Seguindo a escala proposta por Kardashev, a humanidade entraria no terceiro nível de civilização e se tornaria uma só com a via láctea.

Além disso, Asimov dedica um pouco de tempo para falar sobre clima, tecnologia, isolacionismo, individualismo extremo, xenofobia, racismo, política e ordem social. Fundação e a Terra é um livro robusto de ficção científica que inicia muitas discussões durante sua jornada, cujo destino nem é lá muito importante. É um bom livro para fechar esta parte da saga da Fundação. A edição do box da Ed. Aleph continua fabulosa nesta obra, o que é um extra.

quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Limites da Fundação

Este livro nada mais é que uma continuação da trilogia da Fundação. Nele, o universo da Fundação é revisitado pelo autor que tenta explorar melhor seus personagens. Na trilogia original, eles são meros coadjuvantes, enquanto a própria entidade da Fundação é a grande protagonista da narrativa. E não há como negar que ao longo de seus primeiros séculos, muitos personagens influenciam a história da Fundação de Terminus, mas é ela que é sempre o principal destaque de todas as narrativas.

Em Limites da Fundação, Asimov nos introduz a um jovem e impulsivo conselheiro de Terminus, Golan Trevize, que percebe uma falha essencial no plano que prevê a unificação da galáxia: ele funciona perfeitamente demais. Isso o leva a atrair os olhares de diversos agentes tanto da Fundação quanto de outras facções. 

Mexer com esses poderes força Trevize a bordo da Estrela Distante, espaçonave de última geração, para uma busca que inicialmente parece uma perda de tempo: a localização do planeta original da humanidade, a Terra. Em companhia do Dr. Janov Pelorat, historiador especialista em mitos e lendas sobre o planeta original, Trevize inicia a aventura em busca do mítico planeta.

Ao mesmo tempo, na antiga capital do Primeiro Império Galático, somos introduzidos ao ambicioso orador Gendibal, que nos oferece um outro ponto de vista da história. Ele nota que algum poder desconhecido anda controlando a política e o desenvolvimento da galáxia de forma sutil e de alguma forma aquilo estava relacionado ao conselheiro Trevize.

Deste ponto em diante, percebemos 3 facções numa guerra fria por hegemonia e no olho desse furacão estão Pelorat e Trevize. O clímax da história é um verdadeiro `mexican standoff`, que apesar de ser montado de forma excitante, tem um desfecho decepcionante pelo excesso de simplicidade envolvido.

Asimov busca nessa obra atualizar o universo da Fundação com tecnologias excitantes, processos evolutivos estimulados pela ciência e uma galáxia que parece sempre estar pronta para entrar em crise. Além disso, ele inicia o processo de unificação do universo da Fundação com o universo de Eu, robô. Assim ,ele nos explica um pouco o fato de num universo de 400 quatrilhões de seres humanos, nenhum tenha pensado em fazer robôs.

Limites da Fundação é um livro que valoriza mais a viagem até o clímax do que o próprio destino da viagem. Ainda assim é uma viagem interessante e divertida, mesmo que careça de alguns elementos que a tornam uma Space Opera de primeira qualidade. Exploração, descoberta e reviravoltas estão todas presentes nessa obra e já prepara o terreno para uma continuação que no final do livro nos parece no mínimo intrigante.

Quase como um bônus à leitura do livro, a editora Aleph fez um belo box contendo os livros que ampliam a trilogia da Fundação. Realmente vale a leitura, além de ficar bonitinho na estante. 

quarta-feira, 6 de setembro de 2017

A Princess of Mars

Edgar Rice Burroughs devia ser um homem de imaginação fértil. Afinal no mesmo ano que criou Tarzan, ele também criou John Carter. O que mais me surpreendeu foi esse ano bastante criativo ser 1912. Um período de tensão política mundial e este senhor escrevendo sobre homens pelados em locais exóticos sendo heróis com H maiúsculo... Se pararmos para pensar, isso é uma solução genial. Se o mundo em que vivemos é cinza e sem graça. Imaginamos um planeta vermelho cheio de aventuras.

A Princess of Mars relata a história fantástica de John Carter, da Virgínia. Ainda na terra, ele foi explorar o oeste e quase morre ao ser perseguido por selvagens. Sua fuga o leva misteriosamente ao planeta vermelho, onde ele é logo capturado por selvagens alienígenas verdes, gigantes de 4 braços, os Tharks. Nesse ponto, ele vai aprendendo e se adaptando aos novos costumes. Como a gravidade do planeta é diferente, ele é mais forte que os nativos embora seja bem menor que eles.

Pouco depois de sua captura, John Carter conhece Dejah Thoris, uma bela princesa marciana, pertencente a uma raça de homens vermelhos e mais civilizados que os Tharks. Apesar de possuírem costumes diferentes, eles vão se aproximando e o amor entre eles movimentam uma guerra que envolve 3 ou 4 raças de povos em Marte.

A Princess of Mars é uma obra exemplar de 'damsel in distress' e aventura. Apesar de se passar em outro mundo, dificilmente conseguimos associar a ficção científica. Sem dúvida a arquitetura local é exótica e os barcos que flutuam utilizando um tipo de luz são fantásticos, mas estão mais próximos da fantasia.

Ainda assim, Burroughs conseguiu fazer uma aventura leve e divertida de ser lida. É um bom livro para ser lido sem buscar sentidos profundos ou significados escondidos. Praticamente um filme de sessão da tarde.

domingo, 4 de junho de 2017

Diadem of the Stars

Meu primeiro contato com este livro foi através da capa de sua continuação no tumblr. Parecia uma capa de Conan, o bárbaro, no espaço. Eu lembro de rir na hora e pensar que era bem típico de algum escritor da década de 70 ou 80 fazer algo com uma mulher nua no espaço. Fiquei surpreso ao descobrir que este livro foi escrito por uma mulher, Jo Clayton. Isso o fez ganhar minha atenção, afinal são raras as mulheres nesse período que escreviam ficção científica.

O começo do livro é chocante pela linguagem. Somos introduzidos logo de cara com o que eu chamo de 'space gibberish', aquele monte de palavras sem significado que parecem ter algum significado. Vemos o 'ladrão' Stavver roubar um objeto valioso e escapar, mas a fuga não foi perfeita e logo o ladrão parece que vai entrar em apuros. A partir daí podemos esquecer o ladrão, pois a história não é sobre ele.

Novamente, temos um novo choque linguístico ao sermos introduzidos a Aleytis. Podemos esquecer espaçonaves e tecnologias, a jovem Aleytis vive numa aldeia na idade do bronze num clã das montanhas.  O seu mundo é alienígena (2 estrelas no sistema solar e um clima desértico, mas não se chama Tattooine) e sua linguagem é recheada de expressões que aumentam nossa estranheza do lugar. Aleytis vive no ostracismo na vila porque é filha de uma estrangeira com o líder do clã. Sua linhagem materna, no entanto, vem das estrelas e após alguns eventos, a jovem é forçada a seguir os passos de sua mãe.

Este livro narra as aventuras de Aleytis cruzando um mundo extremamente perigoso, cheio de bestas e homens selvagens. Ele é uma ópera espacial presa em um mundo primitivo onde os seres humanos 'perderam' a tecnologia. É uma obra que coloca uma protagonista feminina sob diversas dificuldades e vê-la triunfar nos dá prazer. Porém este livro está inserido numa saga de outros 10 livros... e esses 10 livros ainda estão associados a outros de outra saga e isso nos faz perder o foco e o fôlego.

Neste livro, Jo Clayton nos dá um começa para uma saga que provavelmente toma proporções épicas. Aleytis é potencialmente uma protagonista que sai do nada e supera seus desafios até o topo. Enfim Diadem of the Stars é uma boa leitura (se você for capaz de ignorar o space gibberish) para quem deseja ver uma protagonista feminina de força em um meio dominado por Luke's e Han Solo's .

sexta-feira, 5 de maio de 2017

O evangelho segundo Jesus Cristo

Fazia um bom tempo que não lia Saramago e, ao iniciar este livro, lembrei o que me fez desistir de lê-lo na primeira vez: períodos longos. Tão longos que me faziam esquecer o começo e terminava relendo a mesma coisa algumas vezes para absorver. Mas após alguns capítulos, logo o costume voltou e pude aproveitar a leitura. Este livro é provavelmente uma das obras mais conhecidas de José Saramago, ao lado de Ensaio sobre a Cegueira, porém bem mais polêmico. No entanto, isso não é culpa do autor, Jesus Cristo, sua vida, concepção e morte, sempre foram alvos de polêmicas quando a história desvia um pouco da Bíblia.

Eu gostei muito deste livro. Apesar de já saber desde o começo o que vai acontecer, ele conseguiu me surpreender em quase tudo. Saramago é um ateu declarado, ele não precisa se ater a imagem sagrada que normalmente as pessoas buscam quando falam de Jesus. Com isso, o livro mostra um Jesus muito mais humano, mas ainda assim O Cristo. Este é definitivamente um livro com o estilo de Saramago, algo que gosto de chamar de realismo fantástico, coisas estranhas e fantásticas acontecem (os milagres, Deus e o diabo), mas este não é o foco da história. O evangelho segundo Jesus Cristo é um livro sobre dois personagens em 3 partes bem definidas.

A primeira parte tem o foco em José e como ele vai influenciar decisões futuras do filho, pois ele herdará o pecado do pai. A segunda parte é após a morte de José, quando Jesus herda a túnica e as sandálias do pai, mas também herda seus pesadelos e descobre o pecado que fez seu pai cometer ainda na infância. Eventualmente, um misterioso pastor que esteve envolvido na sua infância adota o adolescente em seu rebanho. Por anos, este pastor ensina seu ofício a Jesus. Alguns anos mais tarde, Deus finalmente se faz presente e diz a Jesus o seu destino, do qual ele não pode escapar, dando início a terceira e última parte. Jesus sai pelo mundo pregando a palavra do Senhor e promovendo milagres, mas não isento de conflitos.

Claro que aqui a história está bem resumida, mas é possível notar que quando resumimos, não há muitas diferenças da versão bíblica. É apenas quando observamos os detalhes que a história introduz suas polêmicas. Alguns spoilers polêmicos esperados são: Maria de Magdala é amante de Jesus, Judas estava destinado a trair Jesus e o faz em obediência a ele, o pastor que influenciou a vida de Jesus desde o nascimento era na verdade o diabo, a mãe e os irmãos de Jesus não acreditaram nele quando ele se anunciou o Cristo e, por fim, Deus é mostrado como alguém que está a apresentar um plano de metas, sem se importar que este plano envolva o sacrifício de seu filho. O próprio Deus não tem toda a certeza de que Jesus é seu filho, o que ele nos dá é apenas um 'misturei minha semente na de José, então você provavelmente é meu filho'.

Quando ignoramos os aspectos da fé e da história, o que temos é um brilhante romance sobre sacrifício, culpa, religião e ironia. Saramago consegue mostrar diversas parábolas bíblicas de forma despretensiosa, sem exageros, mas com os mesmos milagres. É encantador o Jesus mais humano apresentado por Saramago. Um Jesus recheado de anseios, medos, necessidades e dúvidas, alguém que cresce até aceitar seu destino como cordeiro de Deus e que sempre teve empatia pelo próximo. Quando descobre que muitas pessoas morrerão por sua causa, Jesus faz questão de ouvir uma ladainha descrevendo a morte de todos os santos mesmo quando Deus tenta resumir a lista diversas vezes.

Por fim, apesar de ser um livro denso, o evangelho segundo Jesus Cristo é uma excelente obra de Saramago, mas deve ser lida de coração aberto. Este não é um livro católico ou ateu. É apenas um romance sobre um homem que viveu num período e local onde a fé era tudo e que morreu vítima de seu destino.

quarta-feira, 8 de março de 2017

Uma Breve História do Tempo

Ah, o espaço: a fronteira final. Quantas séries de tv e filmes não o exploram de todas as formas possíveis? Quantos livros de ficção científica apostam que um dia serão lembrados por terem antecipado alguma tecnologia útil? Sem dúvida, o espaço facilmente ativa nossa imaginação por um motivo bem simples: é bem difícil de imagina-lo. Na série do Guia do Mochileiro da Galáxia, Douglas Adams propõe uma tortura que seria colocar uma pessoa numa máquina onde ela seria colocada em escala real no universo. O universo é tão vasto que a pessoa enlouqueceria quando colocada em proporção a ele.

Sabemos algumas coisas sobre o universo, o espaço, o tempo e outras coisas, mas estamos ocasionalmente presos à escala humana e tendemos a não ver no dia a dia a estranheza do universo. Em Uma Breve História do Tempo, o físico Stephen Hawking tenta de maneira simplificada debater o 'tempo'. Algo que parece tão simples quanto respirar para nós é analisado de forma que nos faz questionar a própria realidade. 

Para tal análise, Hawking faz uma revisão história da física desde os filósofos gregos até os dias atuais. Várias teorias sobre a composição, evolução e possível fim do universo são explicadas da maneira mais simples possível pelo autor. Para mim, foi mais fácil de acompanhar porque estou na área de engenharia (muita coisa ali já pude ver em sala de aula de forma mais agonizante), mas tenho que elogiar Hawking por conseguir traduzir as teorias para os leigos.

Por que iniciei falando sobre ficção científica? Porque, por mais que o autor se esforce, algumas das teorias mostradas sobre o desenvolvimento do universo são quase fantásticas. Falam de cordas que compõe o 'tecido' do espaço-tempo, de outras dimensões que somos incapazes de perceber e até questionam a própria percepção do tempo; afinal, como o tempo passa? Nossa escala humana desaparece quando nossa própria galáxia não é nem um grão de areia no universo. 

Há no espaço massas que fariam a terra parecer uma pena, escalas energéticas que fariam o nosso sol parecer uma bateria de relógio e períodos de tempo onde, simplesmente, não há tempo. Hawking também explora escalas inferiores aos átomos ao tratar de partículas elementares que compõem basicamente tudo no universo e se funcionassem ligeiramente diferente, simplesmente não existiríamos. 

Por fim, 'Uma Breve História do Tempo' é um excelente livro para entender as novas e velhas teorias que tentam explicar o funcionamento do universo e do tempo, do início ao fim. Sem tentar polemizar a questão, o livro deixa até espaço para conciliar ciência e religião em relação a criação/final do universo. Enfim, excelente leitura para quem tem espaço no coração e na cabeça para entender um pouco melhor do funcionamento físico da realidade e do tempo em que vivemos. 

terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

O Sol é para Todos

Fui tentado durante meses a comprar a comprar este livro por inúmeras promoções (quase semanais na Amazon) e por boas opiniões. Terminei não resistindo e o li quase em um fôlego só. Tão rápida a leitura que só depois me toquei que eu conhecia este livro como 'To Kill a Mockingbird', que é um título bem mais chamativo, por sinal.

O livro se passa na década de 30 numa cidade no interior do Alabama nos Estados Unidos. A protagonista é Scout Finch, uma menina, que... bem, é uma menina de cidade pequena. Após refletir mais sobre o livro, comecei a achar os personagens superficiais. Eles são apenas pessoas que fazem o que estão predeterminadas a fazer: Scout e seu irmão Jem brincam pela cidade, os taciturnos Radleys se escondem em casa, os Cunningham não pegam nada que não possam devolver e por ai vai. Não há muito espaço para originalidade. Mas qualquer pessoa que conheça um interior, vai saber que essas cidades são assim mesmo. Não há muito espaço para novidade ai, apenas a contemplação (quase saudosista) da simplicidade da vida no campo.

E é pelos olhos de Scout que descobrimos que o verdadeiro personagem é a cidade de Maycomb. Cidade que não tinha muito a oferecer, principalmente com a grande depressão dos anos 30, mas foi avivada pelo caso do suposto estupro de uma branca por um negro. De repente, duas facções bem claras se formaram e vemos mais um personagem surgir no livro: o racismo clássico. Scout vê seu pai explicar por A + B, que o seu cliente negro era inocente da acusação de estupro, mas a lógica não estava em julgamento. Era um negro acusado por um branco. Ele estava condenado na hora em que foi acusado, simples assim.

No mais, esse é um romance que também trata da perda da inocência. Ainda que Scout seja um pouco precoce para seus 8 anos, ela vai adequando seu comportamento ao meio. Sabemos que ela terminará com a mente mais aberta que outras senhoras da cidade, mas ela própria vai se adequar às exigências sociais do local. Em dado momento, Scout chega a criticar o fato de que mulheres não podem participar de júris, mas a discussão sobre isso mal acontece e é descartada como 'coisa de criança'. E talvez não pudesse ser diferente, o livro se passa nos anos 30 e foi publicado na década de 60, feminismo ainda parecia coisa de queimar sutiãs.

Por fim, o Sol é para Todos é um clássico que nos mostra de forma interessante um passado que hoje nos parece absurdo. É uma boa e simples leitura para qualquer época. 

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Laranja Mecânica

Comprei esse livro aproveitando uma dessas promoções imperdíveis da amazon. Pena que enrolei tanto para começar a ler. A edição especial de 50 anos é belíssima com direito a capa dura, ilustrações e mais. Nos extras há até um glossário (que só descobri tardiamente e tirou algumas dúvidas) e outros textos de Burgess discutindo o seu próprio sucesso. A tradução também está de parabéns nesse livro. 

O livro é narrado em primeira pessoa por Alex, um adolescente que faz questão de contar tudo em sua língua de gueto, o nadsat. Antes de iniciar o livro, os tradutores explicam algumas expressões e escolhas utilizadas para expressões de nadsat (que basicamente mistura inglês com russo). E mesmo assim, fui surpreendido por um texto carregado dessas expressões. Acho que só senti algo semelhante quando li Grande Sertão. 

Ainda que inicialmente chocante, logo nos acostumamos com a linguagem e vamos acompanhando o jovem Alex em sua rotina de ultraviolência, que dominava as noites da cidade. Mesmo sendo o narrador, ele não se poupa de detalhes das atrocidades cometidas por ele e seus amigos. Até que um dia algo dá errado e o jovem é traído e preso. Até criamos alguma expectativa de que ele vá mudar na prisão, mas o narrador nunca muda. Seu pensamento é exatamente como no começo do livro.

A discussão que o livro propõe também é curiosamente moderna. Jovens violentos, marginalizados, bandidos. Há os que achem que bandido bom é bandido morto. Que esses jovens não podem ser recuperados. São uma geração perdida. Mas essas mesmas pessoas "de bem" não percebem a crueldade de seus desejos. Elas só desejam segurança, mesmo que o preço seja destruir essas "pequenas sementes do mal" de qualquer maneira possível.

Nesse quesito, Laranja Mecânica envelheceu bem. Sua crueldade urbana e juvenil ainda é moderna. Sua sociedade "do bem" é cheia de dúvidas, incertezas, manipuladores e medo, o que serve de justificativa para reações violentas da sociedade contra seus contraventores. Há quem pregue que essa é a solução para os que vivem a margem da lei, mas a solução em si não é foco do livro. O foco aqui é um jovem marginalizado que é agente da violência de seu tempo e depois vítima da reação da sociedade, que não parece tão diferente do jovem em si.

Laranja Mecânica é um excelente livro sobre violência. É um clássico muito atual no Brasil e vale muito a pena ser lido. Alguns podem ter dificuldade na linguagem inicialmente, mas com um pouco de esforço isso é superado. Aconselho especialmente essa edição de 50 anos, mas parece que ela anda meio difícil de ser encontrada. Há também o filme de Kubric que parece ser bem fiel ao livro, mas cada mídia tem uma experiência diferente.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

The Gift of Rain

Peguei esse livro na amazon quando estava expandindo minhas leituras para o oriente. Fui surpreendido pelo fato de que o oriente em questão era China, nem Japão e nem Índia. Aparentemente, existem outros lugares no oriente, sendo um deles a Malásia, que, por sinal, é o local de origem do autor.

O livro se inicia quando um homem idoso e solitário recebe a visita de uma estranha. Esses dois nunca haviam se encontrado antes, mas possuíam uma pessoa e um hobby que unia seus passados. O hobby era o aikido e a pessoa, professor de ambos, é apresentado de forma enigmática como Endo-san.

O homem inicialmente nega em contar o que houve com Endo-san durante os anos da guerra, mas após relutar por algum tempo, ele aceita. O homem é Philip Hutton, herdeiro de uma das famílias mais ricas de Penang, ilha na Malásia. Sua família possuía terras e bens que vinham desde a colonização britânica na ilha. Mas o detalhe curioso é que ele é filho de um inglês com uma chinesa, coisa rara na época e que o fez sofrer diversos tipos de bullyings.  A mulher era uma antiga paixão do tal Endo-san e que perdeu o contato com ele antes dele sair do Japão para começar seus trabalhos com a preparação da guerra, mas sua importância é quase mínima.

O que se segue no livro é o drama da família Hutton e o crescimento pessoal do jovem Philip, como artista marcial, filho, amigo, diplomata, traidor, espião, entre outras coisas. A história contada pelo velho Philip deveria ser sobre Endo-san, mas após terminá-la, ele próprio acaba reconhecendo que a história é mais sobre ele mesmo e como Endo-san salvou e condenou sua vida ao mesmo tempo.

O autor Tan Twan Eng conseguiu nessa obra fazer um livro de guerra que não é um livro de guerra. Não se enganem, a guerra chega e passa, mas é quase um personagem secundário. As dúvidas e o medo constante acabam falando mais alto do que a violência em si. Como o próprio personagem admite, a visão constante da violência o fez ficar apático a ela. O que ele podia fazer apenas era vazar informações e desviar o olhar, que é expressa aqui:

"And I realized then that there was an emotion worse even than the sharpest fear: it was the dull feeling of hopelessness, the inability to do anything".

Mas o futuro conta que as ações do jovem Philip ajudaram muitas pessoas. Sua reputação é no mínimo controversa por ter trabalhado para os japoneses, mas ao mesmo tempo por ter vazado informações que salvaram muitas pessoas. Sempre sobram aqueles que "acham" que ele deveria ter salvado a todos.

Por fim, the Gift of Rain é um bom livro, nos faz pensar num período que cada vez mais nos é distante e estranho. Mas sua principal mensagem é sobre multiculturalismo, amizade e destino.

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Por Favor, Cuide da Mamãe

Shin Kyung-Sook conseguiu me fazer sentir algo que há muito tempo não sentia com um livro: culpa. 'Por favor, cuide da mamãe' é um livro sobre uma família cuja matriarca subitamente desaparece após perder-se do marido no metrô da capital. A história é narrada em 4 pontos de vista de seus familiares, cada um nos faz perceber o quanto a 'mamãe' era o coração daquela família e sua ausência fez seus familiares começarem a perceber o silêncio.

Cada membro da família acha que é o dono da culpa e reflete na falta que a mãe faz para ele/ela/todos. Também há a reflexão sobre os motivos pelos quais cada um seria o culpado do sumiço da mãe. Mas mesmo após intensa reflexão, ainda há espaço para surpresas com a mamãe - sempre tão amada que foi esquecida por 5 filhos, agregados e marido.

Numa narrativa com intensa carga emocional, chega a ser um golpe baixo da autora escrevê-la em primeira pessoa. Toda culpa é compartilhada conosco usando pronomes diretos e não há como fugir deles.

Por fim, este é um excelente livro para pensar na família. A vontade que ele passa é de deixar de lado o cinismo por algum tempo e darmos valor a alguém que sempre esteve presente em nossas vidas (pelo menos a maior parte das pessoas). Vale a pena ser lido.

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"O hábito pode ser algo assustador. Você falava educadamente com outras pessoas, mas suas palavras se tornavam ásperas quando dirigidas a sua esposa."

sábado, 23 de abril de 2016

A Insustentável Leveza do Ser

Livros que falam de sexo normalmente me deixam constrangido. Especialmente quando você está lendo em um local público como ônibus ou biblioteca de escola de engenharia (engenheirandos acham fascinante um colega lendo algo que não seja para a faculdade). Esse livro trata bastante do tema, mas esse não é seu tema principal.

A obra de Milan Kundera tem como personagens quatro pessoas que estão ligadas de uma forma estranha com a introdução do livro sobre a leveza e o fardo da vida. Ao acompanharmos suas histórias durante a ocupação da Boêmia pelos russos, podemos observar como eles evoluem espiritualmente. Estranhamente, os quatro personagens conseguem de alguma forma atingir o estágio de leveza proposto no começo do livro, mas cada um a sua maneira.

Eventualmente notamos um quinto personagem, o próprio autor, que ao observar a vida dessas quatro pessoas passa a refletir sobre a condição humana e outros temas. Ele próprio não se liberta do peso da vida e parece de alguma forma ter ciúmes de seus personagens, mesmo revelando ter consciência que eles são suas criações.

Por fim, 'A Insustentável Leveza do Ser' é um ótimo livro para refletir sobre a vida. Talvez não seja o mais atrativo livro sobre o tema, mas certamente vale a leitura.


quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Novembro de 63

E se pudéssemos voltar no tempo para corrigir o passado? Esse simples mote serve de guia para esta obra de Stephen King. Longe de ser uma ideia original, o autor vai buscar alternativas para narrativa em algo que inicialmente parecia ser só enchimento de linguiça. Afinal, mesmo quando temos uma missão, ainda somos humanos e somos sujeitos aos erros e aos passatempos.

Nesta obra, acompanhamos a viagem de Jake Epping, um simples professor de inglês que é levado por um amigo a um portal mágico para o ano de 1958. Seu amigo também lhe deixou uma missão: evitar o assassinato de JFK. Apesar de parecer simples, o passado é obstinado e se recusa a ser mudado. Nesse processo, Jake enfrenta todo tipo de sorte e se descobre numa viagem fantástica a um tempo que não existia mais.

Novembro de 63 é uma obra de saudosismo. Não é de forma alguma original, mas ainda é bastante agradável de ser lida. King acertou uma boa receita de feijão com arroz neste livro.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Under the dome

Sempre ouvi dizer que Stephen King era o rei do terror moderno. Claro que boa parte dessa fama vem dos filmes B que fizeram de várias de suas obras. E como ele tem obras! Parece que não descansa a mão nunca. Under the dome é uma de suas obras que, de acordo com o posfácio, foi iniciada ainda na década de 70. Mas ele não gostou do resultado e inclusive jogou fora os primeiros manuscritos.

Em 2009, King volta com a ideia num mundo mais moderno. Fico tentando imaginar como teria sido essa obra em 79. Dificilmente teria a mesma pegada nos dias de hoje. No entanto, algumas coisas do original provavelmente foram mantidas. Os vilões provavelmente são os mesmos e são tão atuais quanto eram na década de 70. Políticos corruptos, policiais opressivos e a própria crueldade humana são algumas das coisas que abusam os mocinhos dessa história. Mas onde estava todo aquele terror que sempre ouvi falar em obras de King?

Só o encontrei perto do final. Quando finalmente um dos personagens realiza a real situação onde eles estão metidos e elabora uma metáfora disso. O terror que ele sente ao perceber o que estava acontecendo é contagiante. O terror não vêm do perigo de serem capturados pelo político com aspirações a ditador (que parecia ter esperado uma situação como o domo por toda a sua vida e fez questão de aproveitá-la ao máximo). O terror vem com a realização de que não há como evitar o domo. Com toda a esperança perdida, só resta aos mocinhos esperar pelo melhor.

Under the dome é uma sobre a transformação das pessoas em situação de stress e medo constante do desconhecido. E apesar de um pouco longo, como quase qualquer livro de King, é uma excelente leitura. Há uma série sobre o livro, mas ela se arrasta demais e não consegue capturar a essência do terror da obra justamente por isso, além de deixarem algumas situações mais leves por causa do fator TV.

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

1Q84

O que você faria se se encontrasse num mundo diferente do seu próprio? Muitas obras trabalham com essa hipótese, algumas de forma fantástica e outras de forma realista. A obra de Haruki Murakami tenta ficar entre os dois. O mundo não é muito diferente do normal, mas coisas estranhas acontecem nele. A lógica do mundo é diferente. E nesse mundo louco, Tengo e Aomame vão começar cada um a sua jornada.

1Q84 é um livro muito longo para as jornadas que descreve. Repleto de situações insólitas, mas que parecem se encaixar bem dentro deste mundo. Além disso, o autor parece não estar preocupado em explicar muita coisa. Ele parece querer deixar tudo por indução. Podemos achar que estamos entendendo tudo ali, mas só porque preferimos acreditar assim. 

Talvez a frase que melhor explique o livro seja uma que aparece no final do segundo livro: "If you can't understand it without an explanation, you can't understand it with an explanation". Todo terceiro livro está pautado dentro dessa lógica. Os próprios personagens desistem de entender muitas coisas e começam a simplesmente aceitá-las.

Ainda assim, 1Q84 consegue de alguma forma nos prender. É um bom livro. Milhões de pessoas não podem estar erradas ao lê-lo, mas com certeza elas sobrestimam este livro. É realmente um bom livro, mas cansativo e repetitivo em muitos momentos e o final... Bem, vale a pena ler para quem está disposto a atravessar 1200+ páginas para não encontrar algo sublime e explicativo, mas que não chega a ser frustrante.

terça-feira, 26 de agosto de 2014

The Executioness

Uma mulher de família miserável. Um mundo que sofre os efeitos colaterais do uso indiscriminado de magia. A perda do seu bem mais valioso: os filhos. Esses três motes compõe a história desse livro curtinho, simples e um tanto divertido. Quase uma sessão da tarde literária.

A personagem principal do livro sai em busca de bárbaros assassinos que combatem a magia do mundo para tentar reavê-los. Sua busca a faz viajar por meio mundo em busca de vingança e dos filhos. E como é de costume, a viagem a faz mudar. A única coisa que restará de sua antiga vida é o machado de seu pai e a vontade de rever os filhos.

Uma leitura tranquila e sem surpresas, mas que mantém algum nível de qualidade.

domingo, 17 de agosto de 2014

The Monarch of the Glen

Uma continuação de American Gods. Talvez não tão necessária, já que American Gods tem um desfecho bem legal, mas interessante em vários pontos. É quase um exercício de imaginar o que aconteceria com tal personagem após o final de um livro. Principalmente um onde acontece todo tipo de transformação com esse personagem.

Nesse livro, voltamos a encontrar Shadow. Ainda com alguns problemas de autoafirmação, porém menos traumático nesse ponto. Ele está num lugarejo escocês, local onde os deuses nórdicos também estiveram e também haviam sido há muito esquecidos. Seu passado e uma nova situação de outro mundo vão se cruzar e colocá-lo à prova.

Um livro curto, praticamente um conto mais longo. Interessante para quem leu American Gods de Neil Gaiman. E vemos de forma definitiva o fim da história de Shadow. Talvez sem todo o glamour do final de American Gods, mas ainda com um tom especial e de esperança no futuro. Uma boa leitura.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Moby Dick

De modo geral, fora alguns momentos legais e brilhantes, esse foi um livro que me decepcionou. Esperava bem mais dele, mas o que vi foi um grande sofrimento em descrições intermináveis e muitas, mas muitas mesmo, consultas ao dicionário. Melville usou e abusou das descrições de todas as coisas presentes no navio para nos dar a imagem de como era a vida dos pescadores de baleias. Era uma arte perigosa, que já estava em declínio pela pesca predatória, mas que ainda fazia muitos homens se lançarem ao mar.

Mas a pesca da vez não era só pelo lucro. Ishmael decide em sua jovialidade experimentar um pouco daquela vida. Faz amizade com um selvagem e termina no navio do capitão Ahab, que havia recentemente perdido a perna para um demônio branco conhecido como Moby Dick. Ahab está louco, mas ainda é o capitão do navio e usando de intimidação e propina consegue fazer seus homens o seguirem até o fim do mundo. Embarcados no Pequod, eles atravessam vários mares e encontram vários outros navios antes de finalmente localizarem a baleia. Quase uma busca de uma agulha no palheiro. Em termos de páginas, só vemos Moby Dick ser apontada quando chegamos em cerca de 90% do livro.

Nesse meio termo, são intermináveis as descrições. Cheguei a saltar capítulos inteiros que falavam de tipos de baleias, velas, ganchos e outras coisas existentes nos navios. Parecia quase uma caça do que valia a pena ser lido e o que não. O capítulo que mais me chamou a atenção foi esse aqui, que compartilho sem vergonha pois pode ser lido sem prejudicar o resto da leitura. Mas tanto enchimento de linguiça para tão poucos momentos bons assim.

Enfim, é um livro longo demais. Melville dá vida a imagens muito distantes da realidade de seus leitores e para isso se perde numa enfadonha infinidade de descrições. As quebras de narração para descrever coisas no navio são tão constantes que a vontade, a qual eu cedi algumas vezes, é de simplesmente pular alguns capítulos. O encontro com a grande baleia branca acaba deixando por desejar. Ahab sai para caçar um monstro e o seu destino faz parecer que ele subestimou, e muito, um ser que todos os baleeiros evitavam. O final não compensa tanta dedicação para chegar até ele.

sábado, 17 de maio de 2014

SuperFreakonomics

Tentar ser didático com conceitos chatos e ver economia em lugares inusitados. Basicamente, essa é a proposta deste livro. Em alguns pontos os autores conseguem ser bastante didáticos, em outros acabando falando de temas que facilmente levantam sobrancelhas, mas de modo geral eles conseguem atingir o objetivo de forma agradável. Mesmo assim, ainda é mais fácil ver esse livro como um livro de curiosidades com algum humor perverso aqui e ali.

De modo geral, este livro acaba sendo um bom ponto de partida para aumentar a visão de alguns tópicos aos quais não dedicamos muitos pensamentos. Por exemplo: prostitutas, aquecimento global, sistema de saúde e afins. Em diversos momentos encontramos polêmicas, mas a intenção nunca é ficar batendo na tecla "oh meu Deus como sou polêmico", mas tentar de algum modo analisar a situação e até propor soluções.

Por fim, pode-se de dizer que é uma boa leitura. Só não vale achar que ler este livro torna qualquer pessoa um economista. Também não vale acreditar que todas as soluções apontadas são válidas e simples como os autores sugerem. Mas com algum bom senso é possível tirar bom proveito de sua leitura.

terça-feira, 18 de março de 2014

The Idiot

Um livro épico quando se trata do quanto a sociedade pode ser odiosa com um 'homem de bem'. Não um daqueles homens de bem que podem ir em shoppings enquanto rolezeiros ficam em casa. Mas um homem que não consegue enxergar o mal nas pessoas e sempre vê o lado positivo de tudo, que se deixa enganar por acreditar que quem engana alguém precisa disso para sobreviver. Em outras palavras: um idiota.

No livro acompanhamos 6 meses do príncipe Muishkin (que na wikipedia por algum motivo está como Myshkin) e vemos toda sua inocência e caráter serem abusados e corrompidos até um final trágico. Pode passar a impressão que o comentário foi um spoiler, mas é bem claro que o conhecimento de mundo quase nulo do príncipe e sua crença quase infantil na bondade das pessoas não poderia levá-lo a um lugar muito bom.

Além disso, o príncipe não é muito bom em fazer escolhas. Assim pensa que pode corrigir quaisquer decisões que tome abrindo seu coração inocente para as pessoas. Infelizmente a realidade o maltrata. Ficamos esperando um momento onde ele poderia finalmente tomar jeito e se redimir. Algumas horas até sentimos que esse momento está vindo, mas no fim terminamos com uma grande tragédia, coisa que esperamos desde que entendemos a natureza do real problema do príncipe.

O livro nos traz também diversas pequenas discussões e opiniões da Rússia de Dostoyevsky. São opiniões que traçam uma realidade estranhamente moderna em alguns aspectos. Porém em alguns momentos essas discussões parecem saídas pela tangente de trivialidades intermináveis e terminam demasiadamente enfadonhas. Ainda assim, este livro é um bom livro e vale a pena ser lido se houver muito tempo sobrando e alguma paciência para tragédias.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

After Dark

Certamente há muitos livros que contam histórias de personagens que habitam a noite. After Dark poderia facilmente ter se tornado um deles, mas escolheu outro caminho. Não há nenhum vampiro ou enfoque especial nas figuras da vida noturna. Apesar de falar de alguns desses personagens, o foco aqui é mais em uma estudante que por certos motivos, opta por passar aquela noite fora de casa. O livro é a história dessa única e longa noite e dos personagens que de uma forma ou de outra interagem com essa estudante.

Mesmo com uma ideia simples, o livro de Murakami consegue nos prender e nos levar durante aquela noite que de alguma forma acaba sendo agradável e tensa ao mesmo tempo. Ficamos querendo saber mais do que acontece depois e meio que nos irrita saber que é apenas a história de uma noite. Como tantas outras de histórias similares que podem haver por ai, mas sem deixar de ter o seu charme.

É um bom livro, curto e de leitura tranquila. Nos conta de forma simples e agradável algumas histórias que podem ser verdadeiras na vida de qualquer pessoa sem buscar lugares comuns.