sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Direito de resposta

De repente chega o final de semana e você percebe que a criatividade de todo mundo aflorou menos a sua. Todos estão a dizer coisas legais ou pelo menos coisas que foram ou um dia vão ser legais. Eles não precisam dizer de forma legal, é verdade, mas só de falar nessas coisas parecem já vale. Como fazem isso afinal?

De repente chega o final de semana e você percebe que ainda não tem nada para dizer. Simplesmente nada. Mente limpa e clara. Aliás, a cada minuto que passa sem que tenha nada a dizer só confirma algo: você nunca mais vai dizer nada. Isso pode até ser verdade e uma verdade até confortável. Afinal, para que ficar falando por ai coisas legais a todo mundo? Não é melhor simplesmente guardá-las para um dia sem graça ou quando ninguém mais tiver nada a dizer?

De repente chega o final de semana e você percebe que o direito de permanecer calado é pretty cool. Porque, além de se reservar a não dizer nada, você ainda ganha tempo para arranjar o que dizer e da forma certa (se é que existe uma forma certa de organizar palavras. Tudo que é definido por lei me é muito suspeito). Não que você consiga achar algo a dizer nesse tempo. Pelo menos você sente que está tentando mudar em algo ou fazendo algo. Ficar parado não parece da natureza humana (a não ser no funcionalismo público, mas já há relatos de servidores com coração).

De repente chega o final de semana e você a vê. Em algum cantinho sem chamar atenção. Tão sem palavras quanto você. Ou melhor, tão sem palavras quanto você era antes. Porque agora você está em dúvida e a dúvida sempre vem em forma de palavras (e geralmente palavras deslocadas porque não somos ensinados a ter dúvida, mas sim a matá-las). Você duvida de sua incapacidade de falar, duvida de sua mente clara e limpa, duvida até que um dia pensou no direito de permanecer calado como algo pretty cool (agora o cinema mudo não é nada além de brega). Duvida, principalmente, que vá conseguir passar um só dia sem ter algo a falar em sua companhia. Com ela, até o silêncio parece tagarela.


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domingo, 21 de setembro de 2008

Mr. Sandman, bring me a dream

Sonho com o dia que alguém olhará para meu cabelo e dirá: "é preto mesmo". Não que não seja. Mas ninguém acredita que é. Preto parece ser uma cor natural não existente em minha terra. As vezes, é pior que louro no quesito credibilidade. Por isso que, por exemplo, pessoas que conseguem soletrar metrossexual ao contrário olham para ele e perguntam se é pintado. Pô, sou machão pernambucano daqueles com três cojones roxos, essa pergunta é chata. Isso me faz sonhar no dia em que as pessoas vão perceber o que é evidente sem precisar ficar repetindo ou usando o óbvio como argumento. Exemplo: "evidentemente, calor esquenta". Sim, evidentemente não pinto o cabelo (o que é evidente).

Falando em sonhos, tenho alguns outros: quero ser ferreiro, carpinteiro, capitão de navio e contador de histórias. Por um motivo nobre e egoista, sempre achei os pais de filmes de família legais. Eles sabem fazer tudo que a casa necessita. Nessa hora alguém deve ter lembrado que a casa necessita de eletricistas e alguém que entenda de encanamentos. Como um bom pai de família de cinema, eu também sonho em me meter no que não entendo. Possivelmente, farei a casa ruir, mas espero que alguém me faça perceber que não entendo daquilo um pouco antes disso (afinal com os pais de família de cinema, o único argumento válido é o coração).

Vou gastar uma vida recuperando as besteiras que fiz (um pai de família de cinema não vive com o coração em pedaços). Assim, terei muitas histórias que os netinhos ouvirão antes de dormir, com as devidas alterações, como a inclusão de supervilões e coisas mágicas. Não que as histórias sejam ruins (vale lembrar que serei um contador de histórias), mas elas vão fazer os pequenos sentirem vontade de sonhar seus próprios sonhos. Penso que serão bons sonhos. Com muito bang bang, piratas e cavaleiros, espero. Sei que qualquer educador ou psicólogo metido vai dizer que isso é má influência. Mas o que diabos eles entendem de sonhar afinal?

Só dispenso ser viúvo e ter duas filhas gêmeas que vão ficar me forçando para arranjar alguma namorada ao gosto delas. Nups, os pequenos têm que saber o seu devido lugar.


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segunda-feira, 15 de setembro de 2008

The Catcher in the Rye

Holden Caulfield é o adolescente que fomos (e que alguns nunca deixam de ser). Por algum tempo somos rebeldes e não nos encaixamos no "sistema" chamado vida. É quando andar sentado numa escada rolante é um protesto contra tudo e todos (não importando o quanto ficamos com a bunda suja no processo). Apesar de todos os protestos ridículos e da falta de um bom motivo, as vezes sentimos que essa é uma fase perdida de nossas vidas. E se alguém disser que todos aqueles problemas existenciais e piegas que enfrentamos são reais e que são um assunto para se levar com seriedade, pois se não forem superados podem fazer de você um, hã, desajustado? Eu diria que já vi isso em Malhação, mas JD Salinger me parece muito melhor nisso (até porque Malhação fala apenas de jovens adultos imbecis que tomam suco para curtir melhor a night com a galiera).

De agora em diante eu fico muito tentado a sugerir esse, esse e esse vídeos para se ter uma idéia de tudo que se fala por lá. Alguém distraído e insensível pode passar pelo livro inteiro pensando em Holden como um fresco problemático que odeia o mundo inteiro porque todos vivem numa falsidade descarada e que, muito provavelmente, ele (Holden) apenas gostaria de viver nessa falsidade sem se sentir mal. Esse insensível seria chamado de phony pelo Holden. E seria merecido. Após acompanhar Holden por meio livro simplesmente tentando ser ouvido por alguém e falhando, só alguém insensível e phony conseguiria achá-lo mais um drama estilo Malhação. Ele fica deprimido exatamente como qualquer ser humano ficaria. Até aquele gordo de cueca jogando World of Warcraft às três da manhã do sábado ficaria triste nessa situação.

O curioso é que, apesar do papel que tem, não é exatamente a tristeza quem leva o Holden a ter sua pequena aventura de 48 horas mais ou menos. É a esperança de que mesmo no fundo do poço ainda há uma saída que guia Holden. Por muito tempo, ele crê que a saída seja a fuga, o isolamente e até a morte algumas vezes (oh yeah, mesmo assim não perdôo os emos). Ficamos fascinados por isso.

Não pelas saídas ruins, claro. Mas sim porque Holden Caulfield é muito real. Isso me levava a vez por outra pensar em The Truman Show. A sensação de que estamos vendo uma história real se passando com alguém real e que não queremos influenciar só para ver o que o cara lá faz para continuar sua história é constante aqui. Pelo menos a vida do Holden não era uma grande farsa como a de Truman (e é aqui que as semelhanças findam). Principalmente porque é ele é o narrador da própria história. Isso é um dos tchans da história. O que levou aquele cara tão real que estava tão mal a falar sua própria história de forma tão longa e detalhada, principalmente, quando notamos que ele passa o livro inteiro sem conseguir se fazer ouvir por alguém?

Fico tentado em me responder e estragar uma leitura de alguém, mas lembro que o universo inteiro já leu esse livro e sou eu que estou atrasado aqui. Enrolei demais para lê-lo e me arrependo de ter feito isso. Um livro ótimo para saber se você tem, se já teve ou se ainda vai ter um coração algum dia. O meu está aqui com o Holden e com todas as pessoas que gosto.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

10 bolas de sorvete um real

Estamos numa nova era. A tecnologia invade o nosso dia-a-dia e faz Jornada nas Estrelas parecer um brega setentão (blábláblá...). É até estranho pensar que isso acontece no Brasil; afinal aqui temos uma cultura forte e cultura impede qualquer avanço tecnológico (em minha terra, a cultura impede qualquer tipo de avanço. Até o mental). Sempre imaginei o Brasil como uma imensa ilha quente, sem fronteiras, cheio de mulatas seminuas que sambam enquantos os muleque jogam uma pelada. Não precisaremos de inovações melhores que uma caixa de fósforo, radinho de pilha ou freezer (a cerva PRECISA ser gelada, disso não se abre mão).

Aliás, a tecnologia tem uns aspectos curiosos em minha terra. Penso que nunca vamos ser evoluídos porque as pessoas simplesmente preferem continuar vivendo de forma ruim. Sim, opção própria. "A tradição nos trouxe até aqui" me parece uma outra forma de dizer "o que não mata engorda". Se algo é tecnológico, então deve ter uma bruxinha do capitalismo fazendo feitiçaria dentro daquele celular. Ou, por algum motivo aleatório, o toque polifônico destrói a alma do frevo (que cresce assustadoramente lançando zero músicas novas por ano. [Aliás, é muito curiosa a tradição que vive de subsídio, mas como Mestre Salu bateu as botas esta semana então deixa quieto]).

Indo direto ao ponto: o pernambucano tem um severo problema em lidar com coisas novas. A situação onde melhor vejo aplicada essa máxima é quando acontece o dilema do ar condicionado coletivo.

Supondo que estejamos numa sala que fica numa terra onde a temperatura mínima durante a noite do inverno à sombra da lua chega aos 24º. A sala está cheia de gente. Não é preciso pensar duas vezes para deduzir que ela esteja quente. Mas a ciência moderna inventou algo para esses casos. Uma maravilha chamada Ar Condicionado que é capaz de aliviar um calor, chamado neste exemplo de infernal. Infelizmente essa não é uma sala com pessoas quaisquer. São pernambucanos. Bastará que a temperatura chegue aos 29º para que alguém comece a pensar no frio. 28º já vira região sul. 27º Buenos Aires. 26º Europa. 25º Era glacial. E vale ressaltar que essas temperaturas são as indicadas pelo aparelho, afinal somos incapazes de dizer a temperatura sentindo o ambiente e muito menos definir frio ou quente.

Temos um sangue quente e revolucionário, não é a toa que somos o Leão do Norte. Fatalmente, alguém vai reclamar. E pior, como temos o hábito de perder revoluções, simpatizamos com qualquer tipo de reclamação. Com uma turva sensação térmica e o apoio das massas, o ar condicionado sempre sai de vilão. E para que dialogar sobre a questão? Oh yeah, muito sangue será derramado por causa dessa inovação segregadora.

Se o pernambucano quiser algum dia poder dizer que finalmente evoluiu em algo, poderia começar percebendo para que serve um ar condicionado.