terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Fundação e a Terra

Por algum motivo idiota, durante o período eleitoral, eu ficava um pouco incomodado com a capa deste livro. Ela me passava uma certa sensação de regime autoritário. Coisa do calor do momento, afinal este livro não toca a questão de governos. Porém uma coisa que é muito discutida nessa obra são as ameaças à humanidade.

Em Fundação e a Terra continuamos com as aventuras do conselheiro Trevize e o Dr. Pelorat exatamente onde pararam no livro anterior. Com a adição de mais uma pessoa na tripulação, eles persistem na busca pelo planeta de origem da humanidade. Trevize acredita que se conseguir encontrar a Terra, isso tirará o peso da escolha que ele fez no final de Limites da Fundação.

Desta vez, a espaçonave Estrela Distante desbrava mais mundos através da galáxia. Em cada um deles, mesmo nos mais inofensivos, a tripulação tripulação encontra ameaças que os fazem questionar a própria busca. Mas todos entregam pelo menos alguma pista, o que os dá o próximo passo do quebra-cabeça. Em um ponto, eles finalmente ouvem falar nos Siderais, humanos de vida longa, aparentemente geneticamente modificados e que utilizavam robôs. Eles fizeram parte do primeiro esforço de colonização do espaço e sumiram no mesmo período da suposta destruição da Terra.

No final, podemos perceber que cada planeta errado visitado nos deu elementos para responder a escolha feita por Trevize. Os mundos siderais mostraram uma decadência da humanidade que só pode ser comparada a da queda de Trantor, junto com I Império Galáctico. Mas foi algo muito mais grave. Eram mundos que após terraformados deixaram de ter a presença de seres humanos e estavam retornando lentamente pro seu estado natural que tolerava uma biodiversidade cada vez menor. Um deles havia até perdido a atmosfera e só possuía um tipo de fungo agressivo como habitante. Em outro, é interessante notar a confusão dos personagens ao encontrar criaturas realmente selvagens, que nunca haviam entrado em contato com seres humanos em 20.000 anos.

E nesse ponto o autor deixa clara sua postura alarmista, bem comum em autores de ficção científica. Ao mostrar o final da civilização de certos mundos, Asimov nos faz questionar o  final de nossa própria civilização. Nada de invasão alienígena e guerras épicas espaciais. Apenas uma decadência contínua da sociedade e conflitos por hegemonia que levariam até a perda da tecnologia essencial que mantinha os mundos vivos. Essa percepção faz Trevize notar que sua escolha foi ideal. Sua explicação para ela parece um pouco anticlimática, afinal foram poucas frases para resumir uma viagem por 5 ou 6 sistemas estelares e um livro inteiro sobre elas. Mas ela não falta com a realidade proposta pelo universo da Fundação.

Assim, apesar de não mostrar a formação do Segundo Império Galáctico, Asimov consegue encerrar bem a história da Fundação. Sabemos, por inferência, exatamente o que vai acontecer e o futuro é otimista. O plano Seldon certamente seria bem sucedido e levaria a humanidade inteira para outro patamar como espécie. Seguindo a escala proposta por Kardashev, a humanidade entraria no terceiro nível de civilização e se tornaria uma só com a via láctea.

Além disso, Asimov dedica um pouco de tempo para falar sobre clima, tecnologia, isolacionismo, individualismo extremo, xenofobia, racismo, política e ordem social. Fundação e a Terra é um livro robusto de ficção científica que inicia muitas discussões durante sua jornada, cujo destino nem é lá muito importante. É um bom livro para fechar esta parte da saga da Fundação. A edição do box da Ed. Aleph continua fabulosa nesta obra, o que é um extra.

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