terça-feira, 9 de junho de 2009

Harry Potter II

Acho que é bom estar de volta para terminar de vez esse assunto. Nem me sinto mais tentato a dividir os comentários por livro, como fiz com Nárnia. A história também é cada vez mais de "domínio público" por causa dos filmes e da comoção em volta do Daniel Radcliffe que nem merece muitos detalhes. Este livro de fantasia infanto-juvenil, como já disse, segue a linha do "vou ser épico", mas sinceramente deixa muito a desejar. É engraçado notar que quando o livro era desconhecido e despretensioso, ele até parece surpreendentemente legal. A partir do terceiro volume notamos que fica mais para o repetitivo mesmo e rebuscando fórmulas mais consagradas para o sucesso.

Posso estar sendo influenciado pelo fato de estar lendo muitos mangás para adolescentes ultimamente (shonens e shoujos basicamente), mas Harry Potter me parece mais próximos deles do que da, hã, literatura infanto-juvenil de fato. Geralmente fico bastante raiva dos mangás quando seus personagens adolescentes ficam com alguma frescura nipônica, por exemplo, quando acontece todo aquele choque por causa de pessoas com 18 anos namorando ou quando acham que depois do primeiro beijo é sexo na mesma hora. Bem, o Harry Potter durante sua vida mágica-estudantil me levou a sentir esse mesmo ódio. Até que comecei a notar algo: até onde estou odiando uma obra ou uma criança de 14 anos?

E aí é difícil diferenciar, pois a narrativa de J.K. Rowling é toda centrada no pequeno bruxo. Mas algumas coisas podem ser notadas. Como em todo shonen, o protagonista é envelhecido. Aquela pilha de músculos que luta perfeitamente e mata sem sem pudor tem apenas 15 anos mesmo. Harry Potter é envelhecido pelos sofrimentos que passa. Quais mesmo? Ah, tem um bruxo muito muito mau atrás dele porque ele precisaria do sangue dele (o de qualquer outra pessoa serviria, mas você sabe como são os vilões). Os tios dele também o ajudam a envelhecer ao tratá-lo de uma forma que certamente seria proibida caso fosse levada aos cinemas ou seriados no Brasil. Afinal, é proibido constrangir criancinhas, even for art's sake! E lá vou eu digredindo, mas avançando.

Nessa hora começamos a notar toda a caricatura que havia em cima dos personagens. Não é uma caricatura ruim, mas não supera as expectativas de um filme de sessão da tarde. Os velhos são covardes e burros; as crianças são corajosas e têm habilidades incríveis. Não há um simples personagem que seja atraente por ser único. A magia também é completamente overrated. Claro, todos podem fazer coisas incríveis com ela, no entanto todos podem fazer coisas incríveis com ela. Se você ouviu um encantamento, pode sair já soltando por ai. Até faz a gente se perguntar porque diabos eles precisam estudar tudo aquilo.

Ah, falando em magia, o bruxo muito muito mau que é o Voldemort seria um vilão incrível se não fosse tão patético. Se o compararmos com Sauron ou com os antagonistas de Nárnia, ele certamente esconderia o rosto de vergonha. De que adianta ser um bruxo muito muito mau e só usar uma magia? Além disso, ele parece desconhecer todos os efeitos de magias antigas salvadoras (objeto de estudo no qual ele é um "especialista"). Ele comete TODOS os erros necessários para morrer mesmo sabendo exatamente o que estava fazendo (em tese, isso seria um spoiler, mas já dá para notar que isso vai acontecer no primeiro volume mesmo). Sua derrota não chega nem a ser um mérito para os vencedores. Nem se compara a toda a tarefa colossal que foi derrotar Sauron e sobreviver para contar a história.

Considerando que é uma obra em volumes, a autora comete um erro meio chato no decorrer dos livros. Todos os livros são recheados de repetições. Parecem verdadeiras recapitulações clássicas dos animes japoneses. Como são sete livros, a coisa realmente vai se acumulando ao tédio. A vontade (muitas vezes praticada) é de saltar os parágrafos de repetições mesmo.

Enfim, Harry Potter é algo que começa legal e vai se perdendo com o tempo. Acho que isso deve acontecer constantemente com quem se arrisca a fazer épicos. Por sorte, eles não costumam virar best-sellers mundialmente amados (o que deve ser inocência minha, pois de cara já lembro das Brumas de Avalon e de muitos outros romances para quem gosta de rpgs medievais). Até há um mérito ou outro que poderia ser valorizado no livro, mas prefiro deixar quieto. Depois alguém pensa que realmente vale a pena ler sete livros e algumas poucas milhares de páginas. Sinto que Senhor dos Anéis e Nárnia não deixam muito espaço no coração para fantasias épicas bonitinhas, mas ordinárias.

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