domingo, 20 de julho de 2008

Kokoro

Já disse aqui como encontrei o Natsume Soseki. Como ele se apresentou como um bom autor desconhecido para mim, decidi procurar mais sobre ele. Encontrei Kokoro largado em uma prateleira cinza enferrujada. Infelizmente o estado não era tão bom quando o de Botchan, mas ainda está legível (afinal, em 30 anos sou a 3ª pessoa a por as mãos nesse livro).

Kokoro é um livro é um livro que retrata o Japão da Era Meiji e as mudanças de um feudalismo para um modernismo em poucos anos. Segundo a wikipedia, o título pode ser traduzido como 'coração' (mas japonês nunca se sabe). Poderia sugerir de forma infame que Soseki quis mostrar como era o coração da revolução imperialista (mas não teria graça). Kokoro toma como narrativa a relação entre dois homens: o protagonista, um jovem estudante de qualquer coisa, e Sensei, um velho que não faz nada, e é antipático, grosso e antissocial.

Por algum motivo aleatório, o protagonista olhou para o Sensei e disse: 'vou ser amigo dele'. Após algumas tentativas tentando superar as qualidades supracitadas do Sensei, o protagonista consegue se aproximar e de criar uma amizade. A proximidade mostrou que Sensei tinha um segredo. Dai a história segue até a revelação do tal segredo, mas hoje nem atacarei de estraga prazeres.

É um livro que fala sobre amizade, sobre família, sobre o papel da mulher, sobre a universidade (o conhecimento, de forma mais geral) e sobre o Japão. Além disso, ele fala sobre o amor e sobre o ressentimento. Fosse Soseki um ocidental, o final seria completamente diferente. Para esse japa nascido entre duas eras bem distintas, o amor ainda não tinha esse poder salvador (ou total, como na moral cristã). Assim já adianto que haverá uma tragédia. E não é uma daquelas com propósito e que você pensa 'é, né...'. Acho que simplesmente discordei do autor na, digamos, moral da história, mas isso realmente não importa.

Em Botchan, o protagonista odeia o mundo e se isolava pelo temperamento. Em Kokoro, o isolamento parece mais profundo. Atinge o coração das relações de uma sociedade em mudança. Assim, das duas teremos uma: o autor ou é amargurado ou escrevia para criticar sua época. Mesmo assim é um bom e pequeno livro. Um daqueles para ler e pensar, mas acho que é para pessoas mais velhas ou mais isoladas que eu.

Uma frase que achei legal lá:
"Words are not meant to stir the air only: they are capable of moving greater things."

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