segunda-feira, 21 de abril de 2008

Botchan

Toda universidade pública tem locais obscuros onde seres estranhos habitam. No caso da UFPE, a Biblioteca Central é o lar destes seres (dizem que seres mais estranhos habitam no centro de artes. Até agora ninguém são voltou para contar a experiência). Nesta biblioteca os livros estão em tal estado de abandono que poderiam ser considerados seres vivos pela quantidade de fungos que neles habitam. Além disso, famílias inteiras de ácaros vagam por aquela terra santa.

Foi andando por lá para matar o tempo que achei uma pérola. Um livro novo que brilhava na prateleira chamou minha atenção. Em três segundos percebi que ele ia ser roubado, pois alguma anta pública colocou a tarja magnética na contra-capa removível. No quarto segundo me surpreendi, pois o prefácio comparava esse livro as Aventuras de Huckleberry Finn e a Catcher in the Rye. Saí de lá feliz com o livro.

Ainda assim, o autor era um japa e isso sempre me dá a sensação de que vai sair algo semelhante a anime, mesmo que a obra tenha sido escrita em 1902. Botchan conta a história de um jovem revoltado que por sua própria porra-louquice acabou como professor de matemática em um lugar perto do fim do mundo onde se mete em muita confusão causada por pessoas sem moral e noção de honra (macacos do interior, na sua própria definição).

O primeiro capítulo do livro é genial. Lá Botchan apresenta toda sua capacidade de se meter em confusão e também sua honra em assumi-las. Nada de sair se escondendo por ai ou fingindo que não fez nada. Quando ele se forma e sai de Tóquio, Botchan passa a ter que conviver com pessoas dissimuladas e covardes no interior do Japão. Não pude deixar de pensar em Ayn Rand com seu mundo dominado por saqueadores morais. Natsume Soseki coloca Botchan contra o sistema, mas é impossível de levar o protagonista a sério. Suas brigas e seus protestos são tão infantis quanto a cara de pau dos outros. E assim ele segue sem perceber um palmo diante de seu nariz e agindo sem pensar.

As vezes parece que o autor quer mostrar o Japão em transição do feudalismo fechado para um império mundial. Botchan parece um samurai com 100% de honra e nenhum neurônio e todo o resto é rato capitalista querendo perverter o sistema. No fim das contas o autor só queria contar uma história de um professor falando mal dos alunos e mostrar que aquele tal 'futuro da nação' não passava de um bando de arruaceiros.

Não vai emocionar nem fazer alguém mijar de rir, mas vale a leitura. Até porque daqui a alguns dias seremos nós a falar mal da juventude.

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