Realmente não há muito a se dizer dessa peça. A adaptação para as telinhas por Guel Arraes foi muito fiel ao livro. Apenas deram jeito em algumas sutilezas. Por exemplo, eliminaram três personagens que existiam na peça: o frade, o sacristão e um demônio. De quebra, colocaram um valente só para ilustrar a falsidade da mulher do padeiro.
Também foi muito sutil o caso da bexiga com sangue. Na peça, o Grilo faz aquilo para se vingar da patroa e é isso que vai condená-lo no julgamento. Nas telinhas tiraram essa parte por censura e a usaram no caso do Grilo disfarçado de Severino de Aracaju e Chicó ia ser o valente a sangrá-lo.
Aliás, a parte onde mais sentimos as sutilezas é no julgamento. É lá onde todas as coisas que foram mudadas anteriormente acabam mudando de fato a peça. Na peça, todos são bem justificados e realmente ficam a merecer seu lugar no purgatório. Na adaptação, eles ficam mais por causa da misericórdia divina do que por qualquer outra coisa.
Um grupo de personagens que mal aparece aqui, mas é citado no filme é o do Marjor Antônio Moraes, sua filha, o valente (já citado) e o policial. Não sei ao certo, mas acho que eles contam tentam contar a história do Santo e a Porca, também de Ariano. Vai ver que é por isso que fica tudo meio embolado no filme.
Ah, na peça há também um narrador. É um palhaço que vem e volta. Praticamente um João Grilo II, mas que sabe de tudo que se passa. Sua função é mais animar e dar tempo para as mudanças de cenário, mas mesmo assim gostei dele.
Nah, queria só falar mal de como todo mundo é martirizado na adaptação. O julgamento é a prova disso. Na peça, todos são justificados por um pensamento racional (pecaram, mas também fizeram boas ações, então vão para o purgatório). Os cangaceiros vão para o céu porque são coitadinhos na adaptação. Na peça vão porque são um instrumento de cólera divina. E, por fim, o João dá uma de piegas na adaptação e se diz condenado indo em direção ao inferno. Ora, na peça o amarelo nunca desistiu de salvar o seu couro, por que iria desistir agora que tinha a melhor das advogadas?
Enfim, é legal ler a peça porque é bem rápido; basta uma tarde. Mas é meio impossível você não comparar com o filme e fica meio que enfadonho ler aquilo que você já viu. Mesmo assim ainda vale a pena.
ps: e também li numa edição belíssima da Agir. É um dos poucos livros da biblioteca que deu vontade de roubar porque é bonito, mas sou um bom rapaz e não faria isso.
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