terça-feira, 18 de novembro de 2008

O Estrangeiro

Soube deste livro por causa de um livro maravilhoso de Mario Vargas Llosa que estou lendo. Confesso que não me interessou muito saber da história do monsieur Meursault pelo que foi dito por Llosa. Basicamente, ele é um homem indiferente a tudo e sem aspirações nenhuma que um dia acabou fazendo algo que deu uma certa guinada em sua vida (sei que isso não faz o menor sentido, mas se eu disser mais vou acabar caindo num spoiler). Lembrei do livro quando fui obrigado a ficar uma hora solitário na Livraria Cultura. Que fazer? Fui dar uma olhadela.

Pior que nem esperava nada de um plot que não pode ser explicado sem spoilers, mas acabei lendo um terço do livreto naquela hora. E, wow, praticamente não vi o escritor d'A Peste naquilo. Encontramos nele o monsieur Meursault que apesar de ser incapaz de sentir qualquer emoção (um Dexter francês) ainda consegue atrair nossa atenção. Ele não parece de todo errado em sua indiferença em relação ao mundo. Só não tem crenças e nem muita vontade de conviver com todas aquelas pessoas que têm aquela necessidade absurda de mostrar que é um ser humano ao dar espaço às suas emoções (e, sim, demonstrar obrigatoriamente que se é um ser sensível aos outros pode ser um saco).

Uma vida que é uma droga não precisa de espaços para emoções. O mesmo vale para um vida completamente simples e padrão (pois se espera muito mais atos que sentimentos dessas pessoas). O narrador personagem poderia ter vivido ainda alguns bons anos se acaso não tivesse calhado de matar um árabe por causa do sol. Yup, ótima justificativa para se matar uma pessoa. Noto que acabei soltando um detalhe que divide a história, mas, sinceramente, isso não importa. Até a contracapa do livro diz isso estragando a surpresa.

Surpresa mesmo é o seu julgamento. Por que se julga um assassino? Imagino que seja para fazê-lo pagar de alguma forma por um crime que ele cometeu. Mas ali tínhamos um réu confesso e que apenas aguardava a escolha de seu destino. Sim, ainda indiferente. Não sei ao certo porque, mas no fim acabei lembrando de Julien Sorel de Stendhal. Ia ser curioso imaginar os dois frente a frente no último momento. Que diálogo egoísta os dois seriam capaz de compor juntos, hein?

Mas após estragar todas as surpresas o que ainda se pode dizer do livro (quase um conto)? É muito bom. Tipo, bom mesmo. Mesmo no sentido de que mesmo sabendo da história podemos pegá-lo e lê-lo de um só fôlego. Ao fim iremos nos julgar na figura de Meursault e também julgaremos seus inquisidores. É complicado não fazer isso. Principalmente talvez esse seja todo o ponto da história e que é quando separamos Meursault do resto que (obviamente) nota-se o porquê dele ser estrangeiro.

Enfim, vale a pena ser lido e, de certo modo, mostra que Albert Camus talvez tenha algo muito bom a dizer em alguns momentos. E é melhor terminar antes que eu acabe escrevendo um post maior que o livro.

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