quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Neverwhere

É só pegar o livro e ler na capa mais uma comparação com Alice no País das Maravilhas. Isso significa muita coisa. Assim já sabemos que vai acontecer uma viagem e uma pessoa vai sair de seu dia-a-dia normal. Wow, disse tudo hein. O legal é que essa classificação envolve histórias como a de "Ferris Bueller's Day Off" (Curtindo a vida adoidado, se não estiver errado) e Senhor dos Anéis. Alice é um ótimo livro, mas essa coisa de tomá-lo como medida de todas as coisas é meio, hã, errada.

Neverwhere conta a história de Richard Mayhew e como ele fez uma viagem fantástica a uma Londres mágica que existe embaixo da verdadeira. Por ajudar uma jovem que estava sendo perseguida, Richard passa a ser parte da Londres Inferior e começa a ser completamente ignorado pelos londrinos superiores. É enfrentando e andando por lugares esquecidos (além de tropeçando em alguma piadas londrinas que para mim não significaram nada) que Richard faz o seu caminho e sua história.

Ok, agora com esse resumo, volta a dúvida: o que diabos isso tem haver com a Alice? Chuto que seja a equação: "pessoa => viagem maluca". Nem preciso dizer que isso não é uma equação válida.

Neverwhere, apesar de fantástico, se passa nos esgotos e subterrâneos de Londres. Locais que foram esquecidos são seus cenários. Lá embaixo uma civilização inteira de pessoas perigosas e coisas irreais têm lugar. Mas é exatamente isso que difere de Alice. As coisas são fantásticas, mas lógicas. Elas foram se acumulando lá embaixo, mas foram ocupadas por habitantes que estabeleceram domínios. Tudo é meio magicamente óbvio. Earl's Court deixa de ser um lugar para ser uma corte. A Nightbridge faz jus ao nome e por ai vai. É uma lógica bem legal (apesar de fazer muito mais sentido pra quem esteve em Londres e é por isso que tem um mapa da cidade no livro).

Agora, depois de protestar, posso confessar que desde que li Pedra do Reino e assisti aquele seminário que eu estava cabreiro com Neil Gaiman. Eu achava ele o máximo, mas depois desses eventos pensei: "o que há de bom nele?" Ai decidi ler Neverwhere para procurar descobrir se ele é bom ou é só mais um best seller vazio. Wow, ainda bem que me vi errado na desconfiança.

Gaiman é realmente bom. Pode não ser um mestre na forma e estar mais próximo de King que de um Saramago. Mas ele é genial nas sacadas. A criatividade fantásticas para trazer histórias bonitinhas cheias de um mistério, uma sabedoria esquecida e aventura parece realmente ter nascido com o escritor Gaiman (e aqui gostaria de lembrar que o roteirista é diferente. Nos quadrinhos ele faz algo mais próximo ao terror e ao gótico. Mas não tão bem. Ele beira um senso comum [ou então foi responsável por estabelece-lo]).

Enfim, acho que ele traduz bem a fantasia moderna e Neverwhere é um excelente exemplo. Não importa que seja previsível, o legal é seguir os passos de Richard naquele universo fantástico. E lembrando de uma frase de ETA Hoffman que o Gussie me mostrou, encerro: "people will very soon cease to believe in fairies once they begin to walk among them".

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