domingo, 15 de junho de 2008

A Peste

Sempre tive um pouco de nojo de quem lia esses autores franceses metidos a filósofos. Quando via alguém com o Foucalt na mão, eu começava a rir como quem lembra uma piada que não havia entendido. Enfim, vivia feliz com os meus preconceitos.

Desde Botchan peguei um mal hábito que, sabe-se lá porque motivo, me parece divertido: pegar um livro qualquer na biblioteca seguindo um critério aleatório e arbitrário. Em Botchan, foi a capa que me atraiu. Agora por que diabos um francês metido a filósofo veio me atrair? Ok, eu sei porque.

Primeiro, porque o livro era novo e isso realmente tem muita influência (minhas delicaladas mãozinhas não gostam de poeira feia-feia-feia). O segundo motivo foi porque li as primeiras páginas e nelas vi algo bem saramagonesco. Algo realmente legal.

Bem, logo de cara Albert Camus apresenta Oran, uma cidade feia e cheia de gente que está nem ai para nada (imaginei uma cidade cheia de gente que veste boinas e enche os cafés um olhar blasé). Do nada, os ratos da cidade começam a morrer, mas ninguém se importa. Também do nada, quando já não há mais ratos, as pessoas começam a morrer, mas ninguém se importa. Até que a cidade é fechada e posta em quarentena. Parecia tudo bem encaminhado, mas...

Para mim o livro termina ai. Depois disso o que vemos é enrolação sem igual. A palavra 'peste' é repetida tantas vezes quanto 'confusão' em propaganda de Sessão da Tarde ou 'adrenalina' em Tela Quente. Nesse ponto, ele começa a argumentar que a 'peste faz as pessoas pensarem'... doeu fundo. Lembrei de quando ouvi na faculdade sobre um lugar que as pessoas não tinham onde cagar, "mas o pior mesmo é elas são analfabetas", disseram. O pior mesmo é que ele escreve bem; ele tinha uma boa idéia; mas ele precisava jogar tudo fora como jogou?

Quando já não tinha mais o que dizer sobre a peste e sobre reflexão de dor e isolamente, Camus começa a matar seus personagens. Faz sentido quando milhares de pessoas morrendo de peste. Ele mata justamente quem tomou todos os soros e se cuidou (e teve um que foi o único a morrer na história inteira de outra doença). Ou seja, mata só para dizer que peste é isso mesmo e que todo mundo morre. Só sobrevive o narrador que deixa sua mensagem de: "pense nisso, ui!".

A conclusão é uma daquelas do tipo: 'ó meu Deus! Vamos sempre lembrar da peste e do que ela nos causou'. Enfim... decepciona.

Mesmo assim, não largarei meu hábito. Já peguei aleatoriamente "E Jimmy foi ao Arco-Íris" de Simmel. Pode até ser ruim, mas não resisti ao título.

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