Pode até não parecer, mas aqui no Nordeste a gente realmente não tem o que fazer. Não parece porque há cidades como Porto Seguro, Salvador, Fortaleza e Recife que dão a entender que sempre teremos chance de encontrar alguma coisa no caderno cultura (nem que seja ajudar uma ONG que limpa catarro de bebês cegos, ou um show exclusivo de qualquer cantor bicho grilo vestido que nem Chico Science e cantando algo entre forró, axé, rock e maracatu). Mas no geral o Nordeste é uma grande faixa de terra sem ter nada para fazer, além de reclamar que a mesma seca de quinhentos anos atrás está fazendo o povo sofrer e pedir ajuda do governo.
Essa falta do que fazer acaba levando os nordestinos a achar que sua própria falta do que fazer é culpa do excesso de coisas para fazer que os estados do sul/sudoeste possuem. Uma lógica muito acertada. Afinal, se seu vizinho é mais rico e culturalmente mais bem formado e diversificado que você, ele está moralmente obrigado a dividir tudo isso com você, pois vocês são vizinhos! Vejamos pelo bom lado, há criancinhas do sul que ficam felizes quando ajudam os pobres nordestinos. Sempre é lindo ver um sorriso no olhar de uma criança.
Não era sobre uma rivalidade social que eu queria falar. Aliás, nem me importo com elas. Mas, ok, há uma que cultivo. Uma rivalidade futebolística. Apesar de eu não achar que ele chegaria lá, meu Sport eliminou o Vasco (com direito a falha de arbitragem e penalti à la Baggio) e está na final da Copa do Brasil. Essa vitória coloca o Sport o mais próximo da Libertadores, mas pela frente temos o time com a maior cartolagem já sonhada no futebol brasileiro. O Coringão tem no histórico uns quatro campeonatos da Série A suspeitos (o último com suspeitas comprovadas e escancaradas) e alguns não-rebaixamentos milagrosos demais.
É um adversário duro. Humilhado ano passado por não ter conseguido permanecer na elite nacional (na ocasião, o Goiás conseguiu um bom resultado contra um Internacional cheio de mágoas pela perda de um campeonato ajeitado para o alvinegro), o Corinthians chega cheio de vontade para ganhar a Série B invicto e já estrear na elite nacional e na Libertadores no próximo ano. Parece tudo muito ajeitado para que esses sulistas atinjam suas metas. Só falta combinar com o Sport.
O Sport está fazendo uma campanha belíssima na Copa do Brasil. Tirou Imperatriz-MA (grande potência maranhense), Brasiliense (campeão distrital), Palmeiras (campeão paulista de nariz em pé), Internacional (campeão gaúcho que comemora antes da hora) e por fim o Vasco (com Edmundo, o melhor cobrador de penaltis do mundo). O Sport vem melhor e derrubou melhores. Basta que não aconteça nada de suspeito para que ele consiga o caneco inédito para o Nordeste (e do jeito que somos por aqui, vamos nos gabar durante anos de ter conseguido algo que lá é comum. Quase como quem diz com orgulho e sotaque: 'Aqui tem coca-cola, sim!').
Agora chega de parêntese. Até lá, esperemos o resultado (e que seja positivo).
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