segunda-feira, 16 de junho de 2008

A Peste (again)

No fim das contas, a peste me fez refletir. Fiquei pensando se realmente havia pego a idéia lá do Camus (franceses têm essa habilidade de serem geniais travestidos de idiotas fazendo coisas idiotas. Por exemplo, Victor Hugo, que se meteu em política francesa, e Alexandre Dumas pai, cuja foto dispensa comentários). Foi enquanto debatia o assunto com meu eu-lírico que cheguei a uma conclusão: Camus é genial.

Tudo é questão de uma simples interpretação.

Lá estava Deus sem fazer nada porque fez tudo em sete dias e ficou com o resto da eternidade livre quando observou uma cidadezinha feia cheia de franceses fazendo o que franceses fazem: falam francês em cafés enquanto tomam vinho e falam sobre arte (sem esquecer a expressão blasé jamé). No meio de todos aqueles serem empertigados de egos avantajados, havia um médico (o protagonista e narrador) que se destacava na arte de ser mais francês que os demais franceses (além de todo o resto ele era ateu e moralista).

O Pai Todo Poderoso pensou consigo próprio: "ó meu Eu! Preciso fazer esse meu filho a quem já perdoei pensar um pouco".

Deus, que já havia deixado tudo pensado de antemão, sacou seu plano secreto de fazer as pessoas pensarem. Funcionou muito bem na primeira vez que foi usado, mas Deus decidiu aderir a moda e optou por tirar coisas bregas como gafanhotos, sapos, rios de sangue e chuva de fogo. Os franceses seriam insensíveis a castigos divinos. A única coisa que poderia chocá-los seria um ultra-naturalismo seco e escarrado.

A primeira ação é mandar peste na cidade do sujeito a ser atingido. A peste não é exatamente chocante, mas como o alvo é médico ele vai ter que olhar para ela e meter a mão na massa. O ataque de Deus é claro, pois o primeiro a morrer de peste é o porteiro do médico. Desde o primeiro caso o médico já entendeu que a peste servia para refletir, mas sabem como é? Deus gosta de ter certeza.

Só para confirmar a reflexão, a peste leva o Juiz, o Padre, os amigos, a esposa, milhares de pessoas que eram enterradas em valas comuns ou cremadas, todos os ratos, todos os gatos e todos os cães (imagino que todas as pulgas também). No fim o Pai olhou orgulhoso para seu feito e viu que havia atingido o objetivo estabelecido antes do surgimento do cosmos: o médico estava refletindo (fora dos cafés, por sinal).

No fim Camus consegue pintar uma figura do que é necessário para fazer um francês típico pensar. Afinal tem alguma forma mais fácil que essa?

Nenhum comentário: