quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

E Depois

Em mais uma obra que reflete as mudanças da era Meiji no Japão, Natsume Soseki nos apresenta um protagonista peculiar. Daisuke é um homem no mínimo mal acostumado. Não possui mais vergonha alguma de ser sustentado pelo pai aos 30 anos de idade e nem acha vergonhoso passar o dia sem ter absolutamente nada para fazer. Ele vive entediado, mas acredita que estaria se rebaixando a algo menos que humano se por acaso precisasse trabalhar pelo seu próprio sustento. O destino foi muito gentil com Daisuke.

Tudo que seu pai e seu irmão queriam era que Daisuke escolhesse alguém como esposa para que finalmente a desonra que ele representava fosse dirimida de alguma forma. E não era como se ele precisasse casar com qualquer pessoa. Daisuke poderia se casar com qualquer pessoa que quisesse, mas opta por tentar deixar tudo para amanhã. É um personagem que leva ao extremo a esperança de que o seu Eu do futuro resolva todos os problemas.

'E Depois' é uma leitura agradável de um personagem que recusa a dobrar seus joelhos diante de uma sociedade em transformação. Seus motivos podem não ter tão nobres, mas não deixa de ter os seus fundamentos. Mas mesmo um poço de racionalismo egoísta como Daisuke ainda pode estar sujeito a certas peças do mesmo destino que o agraciou com uma boa vida até os 30. Uma leitura muito boa que me ajudou a lembrar porque eu havia gostado tanto de ter descoberto por acaso Soseki numa dessas bibliotecas de universidade.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

The Lover's Dictionary

Quem já viu 500 days of summer vai ter uma boa ideia do que seria esse livro. Uma narrativa não linear da história de um casal sobre o ponto de vista do homem. Claro que dá para valorizar o estilo da narrativa e a beleza de algumas citações dadas com certa facilidade pelo livro. Mas sempre fica um gosto de querer saber mais o que foi que houve. De que a história fosse mais "livro", mais narrada. Não temos nem noção do quanto foi omitido quando percebemos ficamos sabendo o tanto de tempo passado. Mas isso é questão de gosto pessoal mesmo. Há quem goste de livros excessivamente misteriosos.

No geral, The Lover's Dictionary é um livro leve e tranquilo de ser lido. Só não vale os 65 reais que tentam cobrar nele por ai.

domingo, 12 de janeiro de 2014

The Kite Runner

É possível odiar um protagonista e seguir lendo um livro até o final? Facilita quando este protagonista é cercado de personagens adoráveis. E The Kite Runner é recheado deles. Acho que até um semi-vilão é adorável, porque é um vilão à moda antiga. Daqueles bem loucos, cruéis e sem redenção. Dá para odiá-lo com facilidade e ele está lá para isso mesmo.

A história começa num Afeganistão pré-guerras e mostra como as realidades daquele povo mudou ao longo dos anos. À semelhança do que aconteceu em outros lugares como China e Rússia, as diversas guerras que afetaram o Afeganistão ao longo de 3 décadas foram responsáveis pelo fim de uma cultura. Um país que sofreu tantas mudanças em tão pouco tempo parece tão perdido quanto o protagonista do livro.

Mas não podemos culpá-lo. Amir cresceu em um lar próspero e à sombra de um grande homem, o seu "baba". Teve uma infância animada e livre de certas preocupações. Mas não quer dizer que tenha sido completamente livre de culpas. Alguns dos seus atos nos dão nojo, mas ao logo do tempo tentamos perdoa-lo. Afinal, ele era apenas uma criança e todas as crianças possuem uma inocente crueldade. A partir daí, o que se segue é uma busca de esquecimento e de redenção. E que busca... A história que ela gera é sem dúvida bela.

Portanto The Kite Runner é um livro com uma história simplesmente linda. Daqueles que é difícil parar de ler e não se encantar com os desenrolares. Uma ótima forma de começar o ano.

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

On the Road

Livro repleto de descrições de paisagens, ambientes e personagens. Tantos que nos perdemos com facilidade na estrada e viagens que o narrador Sal Paradise descreve. Mas este não é um livro sobre o que o Sal pensa, acredita ou deixa de acreditar. Na prática, acaba sendo um livro sobre um outro personagem: Dean Moriarty.

E o que esse Dean teria de especial? Ele é louco e vive uma vida louca. Pelo menos é isso que achamos inicialmente, mas no decorrer do livro podemos entendê-lo melhor. Mesmo assim algo não vai mudar nunca na opinião que temos dele: ele é louco, mesmo que tenha razões para isso. Sal Paradise possui uma adoração por ele quase como se fosse um profeta dos hipsters e bums. Dean aproveita uma vida de impulsos e claro que isso nem sempre é legal ou saudável para os amigos.

Nas viagens de Sal Paradise também observamos como toda a gangue vai se acalmando e arranjando um lugar ao sol cada um a sua vez. Até o próprio Sal parecia ter encontrado seu canto, mas o Dean sempre esteve lá, quase um monumento àquilo que todos haviam sido um dia. Porém ele é egoísta, pensa no próprio estômago e na própria diversão, por mais que adore os amigos é capaz de deixa-los ao léu e resolver seus próprios assuntos. Mas quem não é egoísta? 

No ponto de vista das viagens, tudo parece realmente muito interessante e arriscado. Sair de uma costa a outra dos EUA portando apenas 20 dólares parece algo completamente insano e definitivamente é. Mas há algo de atrativo nessa insanidade. Os lugares por onde passam e as dificuldades também. Tudo parece ganhar uma cor especial. Não é um simples subir no ônibus e dormir até chegar.

Por essas e outras, essa obra de Jack Kerouac acaba sendo uma boa leitura. Talvez até um bom desafio para quem possua um carro e a conversão de 20 dólares para os valores de hoje. Afinal, estradas não faltam por ai e todas elas devem possuir muitas histórias a se contar.

domingo, 5 de janeiro de 2014

The Ocean at the End of the Lane

Uma aventura fantástica que só uma criança poderia ter. Embora isso não seja tão verdadeiro quando se fala das obras de Neil Gaiman. Todas, independente de idade, têm sua parcela de aventura e criatividade. Nesse livro acompanhamos as aventuras de um menino de 7 anos que estava no lugar errado e na hora errada, o que o leva a viver coisas que jamais imaginou que existisse para salvar a própria pele e a de sua família.

Dentro das criaturas fantásticas que ele descobre há aquelas que fascinam e aquelas que são muito perigosas. Mas gosto daquelas que são neutras, como forças da natureza. Podem ser perigosas ou não, depende de como o garoto interage com elas. E claro, há a poça d'água que sua amiga chama de oceano que é uma das mais intrigantes. Como de costume nas obras de Gaiman, não é necessário longas explicações para se notar o quão fantásticas pequenas coisas podem ser.

É uma história bonita de sacrifício e amizade. E realmente não há muito a dizer sobre ela sem estragar as surpresas. Vale a pena ser lida.