Lá está você sentado, deitado, trabalhado ou apenas mamando nas tetas gordas do Estado. Se estiver em casa, pode deixar sua mente ir para qualquer parte do cosmo, seja no presente, futuro ou passado (ou nenhum deles de preferência). Já se estiver em locais públicos, então você corre um sério risco de ouvir um ditado popular. E nem falo dos mais simples moralistas (aqueles velhos do tempo onde ditados queriam dizer alguma coisa). Ninguém nem se lembra mais que quem com ferro fere, com ferro será ferido (até porque o chumbo da atualidade quebrou a rima).
A tal da mente social coletiva é responsável por criar muitas gírias sem graça e de mau gosto que nossos ouvidos distraídos acabam pegando. "Ninguém merece" é uma dessas expressões populares altamente questionáveis. Ela é usada em qualquer situação sem o menor critério. Exemplos:
- Está chovendo. Ninguém merece...
- Está fazendo sol. Ninguém merece...
- Como o cara perde um gol daqueles? Ninguém merece...
- Bombei no vestibular. Ninguém merece...
- O mundo vai acabar amanhã. Ninguém merece...
- Vou passar cerol na mão! Ninguém merece...
Ok, cansei. Já deu para notar como não é necessário critério nem contexto para mandar um 'ninguém merece' quentinho nos ouvidos de alguém. Há pouco tempo, os populares decoravam algumas centenas de ditadinhos (ou os criavam, sei lá) para usar em cada ocasião com o máximo de precisão. Casa de dentista sem fio dental: "casa de ferreiro; espeto de pau". Tudo no intuito de demonstrar sabedoria e pôr sua cultura inútil em evidência.
Mas havia nos ditadinhos antigos uma criatividadezinha meio romântica (ou pelo menos uma rima besta). Hoje, o melhor que se cria é um 'pé rapado' de Malhação no lugar do tal 'sem eira nem beira'. Antes chupar prego para ver se vira parafuso.
Words are not meant to stir the air only: they are capable of moving greater things.
terça-feira, 12 de agosto de 2008
segunda-feira, 11 de agosto de 2008
O Velho e o Mar
Um dos raros casos de tradução literal de títulos do inglês para o português. Rara também seria a beleza dessa história se eu estivesse ouvindo algo emo por aqui. Só posso dizer que é mó bonitinho e simpático, como toda e qualquer história que fale de pobre e sofredor ("que é antes de tudo um forte").
Um velho pescador chamado Santiago cai no mar para ver se afasta a quizumba de passar 84 dias sem fisgar nada. Ele se arrisca mais para os outros seguindo para o mar aberto e lá pesca o maior peixe da sua vida (de sua vila e de sua ilha, provavelmente). Claro que nada é fácil para pobre. Ele precisou de 2 dias para conseguir capturar o peixe em um duelo homem x natureza.
Duelo esse que trocando um peixe por um samurai e trocando a linha de pesca por uma espada seria bem nerd. Eles têm essa paixão por coisas lentas e introspectivas, algo como: "sou o cara mais foda do universo inteiro, o que preciso para vencer meu inimigo supermaisfodaqueeu é apenas encontrar o meu eu interior". E voi là; fim de luta. Geralmente termina com uns dizeres à la 'o meu Kung Fu é melhor que o seu'.
Hemingway não fala de bobagens para salvar o mundo e nem encontrar o eu interior. Ele simplesmente fala de um velho sem sorte e debilitado que conseguiu lutar contra todas as adversidades usando apenas sua experiência para fisgar o maior peixe das paradas. O velho se supera, mas não previra que a luta não estava terminada. Seu peixe é devorado por outros e no fim temos apenas um velho pescador sem sorte e triste (o que nos deixa triste, por sinal).
É um livro bonito. Não indicado para quem quer um pouco de ação, claro. Mas é um dos tops daqueles livros que qualquer pessoa deveria ler antes de morrer (o resto deixa para depois).
.....
Cheguei ao post 100 e ainda me agüento, céus! Estou ficando velho!
Um velho pescador chamado Santiago cai no mar para ver se afasta a quizumba de passar 84 dias sem fisgar nada. Ele se arrisca mais para os outros seguindo para o mar aberto e lá pesca o maior peixe da sua vida (de sua vila e de sua ilha, provavelmente). Claro que nada é fácil para pobre. Ele precisou de 2 dias para conseguir capturar o peixe em um duelo homem x natureza.
Duelo esse que trocando um peixe por um samurai e trocando a linha de pesca por uma espada seria bem nerd. Eles têm essa paixão por coisas lentas e introspectivas, algo como: "sou o cara mais foda do universo inteiro, o que preciso para vencer meu inimigo supermaisfodaqueeu é apenas encontrar o meu eu interior". E voi là; fim de luta. Geralmente termina com uns dizeres à la 'o meu Kung Fu é melhor que o seu'.
Hemingway não fala de bobagens para salvar o mundo e nem encontrar o eu interior. Ele simplesmente fala de um velho sem sorte e debilitado que conseguiu lutar contra todas as adversidades usando apenas sua experiência para fisgar o maior peixe das paradas. O velho se supera, mas não previra que a luta não estava terminada. Seu peixe é devorado por outros e no fim temos apenas um velho pescador sem sorte e triste (o que nos deixa triste, por sinal).
É um livro bonito. Não indicado para quem quer um pouco de ação, claro. Mas é um dos tops daqueles livros que qualquer pessoa deveria ler antes de morrer (o resto deixa para depois).
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Cheguei ao post 100 e ainda me agüento, céus! Estou ficando velho!
terça-feira, 5 de agosto de 2008
In Nomine Dei
Todo mundo já teve um professor de história comunista que falou na época da reforma (lembrando sempre aquela aula sobre as torturas da inquisição) e que vivia criticando a Igreja por sua postura, hã, religiosas (ainda espero algum reclamar que o nome Igreja Apostólica Católica Romana não é um nome cool e comercial e que se o nome Igreja fosse oficializado [antes de ser roubado pelos crentes] a história seria outra...). Bem, teve muita guerra por religião e muita briga para decidir se eram os bizantinos ou os gregos que ficavam discutindo o 'sexo dos anjos' e merecendo a autoria da expressão.
Saramago pega esse tema rebatido e brinca de ateu em In Nomine Dei (parece que todo ateu tem essa necessidade de vez em quando). A peça se passa em Münsten durante os anos da reforma anabatista (1532-1535). Os reformados insistem que o seu Deus é mais deus que o Deus dos católicos e dos luteranos. Nessa salada de deuses a briga estoura, a cidade é sitiada e os anabatistas são derrotados.
É tudo bem simples e sem nenhuma enrolação (nem parece Saramago, mas ele geralmente faz isso nas peças [talvez porque sejam, hã, peças]). Ele mostra o radicalismo religioso como feio-feio-feio e que nesse meio fica muito mais fácil de charlatões aparecerem. A história pode ser modernizada utilizando alguns milhares de pastores modernos (afinal, Igreja é o negócio que mais cresce no país desde 1500) e/ou jogadores de futebol. Mas é melhor nem pensar nisso porque caso contrário alguém pode me excomungar de algum credo alheio. Independente de fé, inferno é inferno. Não quero estar em nenhum deles.
Saramago pega esse tema rebatido e brinca de ateu em In Nomine Dei (parece que todo ateu tem essa necessidade de vez em quando). A peça se passa em Münsten durante os anos da reforma anabatista (1532-1535). Os reformados insistem que o seu Deus é mais deus que o Deus dos católicos e dos luteranos. Nessa salada de deuses a briga estoura, a cidade é sitiada e os anabatistas são derrotados.
É tudo bem simples e sem nenhuma enrolação (nem parece Saramago, mas ele geralmente faz isso nas peças [talvez porque sejam, hã, peças]). Ele mostra o radicalismo religioso como feio-feio-feio e que nesse meio fica muito mais fácil de charlatões aparecerem. A história pode ser modernizada utilizando alguns milhares de pastores modernos (afinal, Igreja é o negócio que mais cresce no país desde 1500) e/ou jogadores de futebol. Mas é melhor nem pensar nisso porque caso contrário alguém pode me excomungar de algum credo alheio. Independente de fé, inferno é inferno. Não quero estar em nenhum deles.
segunda-feira, 4 de agosto de 2008
Infinite Jest
Oito meses... oito longos meses. Levei isso para ultrapassar um tijolo de 1079 páginas (sendo pouco menos de 100 delas só de notas de roda-pé). Por um momento achei que o livro era realmente infinito, por outro achei sem propósito achar que eu ia chegar ao final. Agora que aqui cheguei desconfio que Infinite Jest de David Foster Wallace provavelmente deve ser um dos Best-sellers menos lidos da história (mas ainda perde humilhantemente para Danielle Steel nesse quesito). É o livro mais longo que já li, não por questão de tamanho (afinal, já li Musashi), mas de forma e de estilo (ok, a letra miúda e as páginas imensas ajudam nisso, mas esses quesitos ainda pesam mais).
O autor utiliza essas mil páginas para falar de tudo um pouco. Aliás, boa parte do livro você se pergunta sobre o que diabos aquilo tudo se trata porque nada parece ser realmente abordado (nem mesmo a própria narrativa). A Wikipédia condensa até de forma legal os diversos tópicos abordados. Por sinal, este livro é cheio de resenhas e comentários espalhados por ai. Provavelmente todos tentam entender alguma coisa falando sobre o livro. Deve haver lá algum propósito escondido lá dentro (e há muitos). Mas só cheguei a três conclusões:
- Fala-se sobre um cartucho/filme capaz de fazer as pessoas não terem mais desejo algum. Ficam lá vendo e revendo o filme até morrer. Esse filme é trabalhado durante todo o livro e só tendo uma memória de elefante para lembrar de todos os detalhes que vão construindo o filme por 1000 páginas (mas sim, é possível) (e sim, o filme acaba virando uma arma, [spoiler] mas tudo faz parte da grande piada proposta pelo autor);
- Esse é um caso raro de tragicomédia (geralmente eu prefiro até pensar que elas não existem, mas é que aqui realmente é impossível não rir da desgraça alheia);
- Tem muita gente falando idiotamente correto sobre o livro. Ficam pensando em críticas pós-multiculturalistas e em pensamentos (sim, eles pensam sobre pensar). No meio dos pensamentos alguém percebe que o livro é bom, mas só o acha porque não o consegue entender e assim chega a conclusão de que é uma bela obra de arte. Bastava dizer que era bom e inteligente, ao invés de arranjar adjetivos que só comunistas de diretório acadêmico entendem.
Ok, minto. Tenho mais conclusões. Porém elas são mais pessoais do que de fato sobre o livro. Acontece quando você segue lendo e pensa em outra coisa. Garanto que isso é muito comum na leitura de IJ. O problema é quando você fica pensando na morte da bezerra e segue lendo. Ser distraído só me parece bom para não perceber assaltos.
Voltando, a forma dele ajuda a dar asas à imaginação. Vi peças, diálogos, críticas, artigos, resenhas, roteiros, ensaios e até glossário lá no meio do livro. Só faltou poesia (ou será que não lembro?). É por isso que o livro fica parecendo maior do que já é. Mas há que se reconhecer que é um ótimo livro. Um épico disfarçado de ficção científica que fala de um futuro não tão improvável (por sinal, boa parte dele se situa cronologicamente no que seria 2008). Ele também ajuda qualquer pessoa a largar das drogas mostrando muita gente fudida por ela. Aliás, não só por drogas, por qualquer tipo de vício/mania/hobby/obsessão.
Enfim, há muito que dizer sobre ele. Só lendo para ter noção de sua grandeza. Quem tiver tempo e disposição para uma boa escalada, cá está uma boa montanha a ser transposta.
Frase não spoileadora que é um dos pontos principais do livro e supostamente ajuda a largar a bebida:
O autor utiliza essas mil páginas para falar de tudo um pouco. Aliás, boa parte do livro você se pergunta sobre o que diabos aquilo tudo se trata porque nada parece ser realmente abordado (nem mesmo a própria narrativa). A Wikipédia condensa até de forma legal os diversos tópicos abordados. Por sinal, este livro é cheio de resenhas e comentários espalhados por ai. Provavelmente todos tentam entender alguma coisa falando sobre o livro. Deve haver lá algum propósito escondido lá dentro (e há muitos). Mas só cheguei a três conclusões:
- Fala-se sobre um cartucho/filme capaz de fazer as pessoas não terem mais desejo algum. Ficam lá vendo e revendo o filme até morrer. Esse filme é trabalhado durante todo o livro e só tendo uma memória de elefante para lembrar de todos os detalhes que vão construindo o filme por 1000 páginas (mas sim, é possível) (e sim, o filme acaba virando uma arma, [spoiler] mas tudo faz parte da grande piada proposta pelo autor);
- Esse é um caso raro de tragicomédia (geralmente eu prefiro até pensar que elas não existem, mas é que aqui realmente é impossível não rir da desgraça alheia);
- Tem muita gente falando idiotamente correto sobre o livro. Ficam pensando em críticas pós-multiculturalistas e em pensamentos (sim, eles pensam sobre pensar). No meio dos pensamentos alguém percebe que o livro é bom, mas só o acha porque não o consegue entender e assim chega a conclusão de que é uma bela obra de arte. Bastava dizer que era bom e inteligente, ao invés de arranjar adjetivos que só comunistas de diretório acadêmico entendem.
Ok, minto. Tenho mais conclusões. Porém elas são mais pessoais do que de fato sobre o livro. Acontece quando você segue lendo e pensa em outra coisa. Garanto que isso é muito comum na leitura de IJ. O problema é quando você fica pensando na morte da bezerra e segue lendo. Ser distraído só me parece bom para não perceber assaltos.
Voltando, a forma dele ajuda a dar asas à imaginação. Vi peças, diálogos, críticas, artigos, resenhas, roteiros, ensaios e até glossário lá no meio do livro. Só faltou poesia (ou será que não lembro?). É por isso que o livro fica parecendo maior do que já é. Mas há que se reconhecer que é um ótimo livro. Um épico disfarçado de ficção científica que fala de um futuro não tão improvável (por sinal, boa parte dele se situa cronologicamente no que seria 2008). Ele também ajuda qualquer pessoa a largar das drogas mostrando muita gente fudida por ela. Aliás, não só por drogas, por qualquer tipo de vício/mania/hobby/obsessão.
Enfim, há muito que dizer sobre ele. Só lendo para ter noção de sua grandeza. Quem tiver tempo e disposição para uma boa escalada, cá está uma boa montanha a ser transposta.
Frase não spoileadora que é um dos pontos principais do livro e supostamente ajuda a largar a bebida:
"the truth will you set you free, but not until it's done with you"
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