terça-feira, 12 de agosto de 2008

Ninguém Merece

Lá está você sentado, deitado, trabalhado ou apenas mamando nas tetas gordas do Estado. Se estiver em casa, pode deixar sua mente ir para qualquer parte do cosmo, seja no presente, futuro ou passado (ou nenhum deles de preferência). Já se estiver em locais públicos, então você corre um sério risco de ouvir um ditado popular. E nem falo dos mais simples moralistas (aqueles velhos do tempo onde ditados queriam dizer alguma coisa). Ninguém nem se lembra mais que quem com ferro fere, com ferro será ferido (até porque o chumbo da atualidade quebrou a rima).

A tal da mente social coletiva é responsável por criar muitas gírias sem graça e de mau gosto que nossos ouvidos distraídos acabam pegando. "Ninguém merece" é uma dessas expressões populares altamente questionáveis. Ela é usada em qualquer situação sem o menor critério. Exemplos:

- Está chovendo. Ninguém merece...
- Está fazendo sol. Ninguém merece...
- Como o cara perde um gol daqueles? Ninguém merece...
- Bombei no vestibular. Ninguém merece...
- O mundo vai acabar amanhã. Ninguém merece...
- Vou passar cerol na mão! Ninguém merece...

Ok, cansei. Já deu para notar como não é necessário critério nem contexto para mandar um 'ninguém merece' quentinho nos ouvidos de alguém. Há pouco tempo, os populares decoravam algumas centenas de ditadinhos (ou os criavam, sei lá) para usar em cada ocasião com o máximo de precisão. Casa de dentista sem fio dental: "casa de ferreiro; espeto de pau". Tudo no intuito de demonstrar sabedoria e pôr sua cultura inútil em evidência.

Mas havia nos ditadinhos antigos uma criatividadezinha meio romântica (ou pelo menos uma rima besta). Hoje, o melhor que se cria é um 'pé rapado' de Malhação no lugar do tal 'sem eira nem beira'. Antes chupar prego para ver se vira parafuso.

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