segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Infinite Jest

Oito meses... oito longos meses. Levei isso para ultrapassar um tijolo de 1079 páginas (sendo pouco menos de 100 delas só de notas de roda-pé). Por um momento achei que o livro era realmente infinito, por outro achei sem propósito achar que eu ia chegar ao final. Agora que aqui cheguei desconfio que Infinite Jest de David Foster Wallace provavelmente deve ser um dos Best-sellers menos lidos da história (mas ainda perde humilhantemente para Danielle Steel nesse quesito). É o livro mais longo que já li, não por questão de tamanho (afinal, já li Musashi), mas de forma e de estilo (ok, a letra miúda e as páginas imensas ajudam nisso, mas esses quesitos ainda pesam mais).

O autor utiliza essas mil páginas para falar de tudo um pouco. Aliás, boa parte do livro você se pergunta sobre o que diabos aquilo tudo se trata porque nada parece ser realmente abordado (nem mesmo a própria narrativa). A Wikipédia condensa até de forma legal os diversos tópicos abordados. Por sinal, este livro é cheio de resenhas e comentários espalhados por ai. Provavelmente todos tentam entender alguma coisa falando sobre o livro. Deve haver lá algum propósito escondido lá dentro (e há muitos). Mas só cheguei a três conclusões:

- Fala-se sobre um cartucho/filme capaz de fazer as pessoas não terem mais desejo algum. Ficam lá vendo e revendo o filme até morrer. Esse filme é trabalhado durante todo o livro e só tendo uma memória de elefante para lembrar de todos os detalhes que vão construindo o filme por 1000 páginas (mas sim, é possível) (e sim, o filme acaba virando uma arma, [spoiler] mas tudo faz parte da grande piada proposta pelo autor);

- Esse é um caso raro de tragicomédia (geralmente eu prefiro até pensar que elas não existem, mas é que aqui realmente é impossível não rir da desgraça alheia);

- Tem muita gente falando idiotamente correto sobre o livro. Ficam pensando em críticas pós-multiculturalistas e em pensamentos (sim, eles pensam sobre pensar). No meio dos pensamentos alguém percebe que o livro é bom, mas só o acha porque não o consegue entender e assim chega a conclusão de que é uma bela obra de arte. Bastava dizer que era bom e inteligente, ao invés de arranjar adjetivos que só comunistas de diretório acadêmico entendem.

Ok, minto. Tenho mais conclusões. Porém elas são mais pessoais do que de fato sobre o livro. Acontece quando você segue lendo e pensa em outra coisa. Garanto que isso é muito comum na leitura de IJ. O problema é quando você fica pensando na morte da bezerra e segue lendo. Ser distraído só me parece bom para não perceber assaltos.

Voltando, a forma dele ajuda a dar asas à imaginação. Vi peças, diálogos, críticas, artigos, resenhas, roteiros, ensaios e até glossário lá no meio do livro. Só faltou poesia (ou será que não lembro?). É por isso que o livro fica parecendo maior do que já é. Mas há que se reconhecer que é um ótimo livro. Um épico disfarçado de ficção científica que fala de um futuro não tão improvável (por sinal, boa parte dele se situa cronologicamente no que seria 2008). Ele também ajuda qualquer pessoa a largar das drogas mostrando muita gente fudida por ela. Aliás, não só por drogas, por qualquer tipo de vício/mania/hobby/obsessão.

Enfim, há muito que dizer sobre ele. Só lendo para ter noção de sua grandeza. Quem tiver tempo e disposição para uma boa escalada, cá está uma boa montanha a ser transposta.

Frase não spoileadora que é um dos pontos principais do livro e supostamente ajuda a largar a bebida:

"the truth will you set you free, but not until it's done with you"

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