terça-feira, 13 de novembro de 2012

Deus seja louvado

Há quem reclame de expressões que aparecem aqui e ali contendo coisas inofensivas. Essa daí está nas cédulas desde que elas surgiram e aparentemente só incomodou até hoje quem nunca as teve em demasia. Mas é melhor deixar de lado essa questão religiosa que está prendendo a atenção de muitas pessoas (0.01% da população) que se importam com isso enquanto tão poucos estão nem ai (99.99% da população). Poucas pessoas conseguem observar o verdadeiro preconceito que há em nossas cédulas: o preconceito linguístico (saudades do trema, RIP).

Ora, o Brasil é um país de dimensões continentais, claro que há minorias linguísticas que são forçadas a usar esta cédula escrita nesse tal português brasileiro. Fica aqui uma sugestão, por que não abraçar todas essas minorias ao mesmo tempo? Seria um movimento semelhante ao da Coca-cola do João, da Maria e do José que por algum motivo faz sucesso nas redes sociais. Pode-se ter versões da cédula para cada dialeto Tupi existente, bem como o de outras linguagens indígenas. Também precisa-se atender aos estrangeiros e descendentes que vivem em nosso país. Cédulas em japonês, italiano, francês, alemão, espanhol e carioca devem resolver o problema.

Enfim, soluções não faltam. Mas se algum ateu ou seguidor de oxossi e ganesha estiver incomodado com as cédulas existentes, aceito que me enviem as deles. Ficarei muito feliz com os envios, com ou sem louvor.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

To the Moon

Acho que sempre tive o hábito de me arriscar. Não minha integridade física claro. Não costumo ter medo de narrativas, mesmo quando se apresentam em formas diferentes. Há quem desmereça, mas acho que há muito de narrativa em jogos. Alguns em especial são puras histórias como as de qualquer livro, porém com imagem e som. O lugar da narrativa de jogos talvez esteja entre cinema e quadrinhos devido a uma certa liberdade que o meio proporciona. Como de costume falo muito daquilo que não quero falar sobre.

Acabei de jogar esse inocente jogo. Comprado num pack de jogos dos quais não pude muito bem avaliar o valor. Tinha a noção de que era bom apenas por ouvir dizer pela internet. É muito difícil descrever o quão bom é este jogo. Não pelo jogo em si, nem pelos gráficos, mas pela história que é contada de maneira simplesmente bela. O jogo em si é uma espécie de misto entre RPG e puzzle. Você não interage muito e não parece promover nada do que acontece nesta história.

To the moon é situado em algum momento no futuro, nada muito distante, onde existe uma agência com uma tecnologia capaz de modificar as memórias de pessoas em estado terminal de forma que essas pessoas possam realizar seu último desejo antes de morrer. A máquina é apenas um mero coadjuvante. Somos então apresentados aos seus operadores, os doutores Neil Watts e Eva Rosalene. Eles recebem a missão de realizar o último desejo de um senhor já incapacitado pela doença, John. Seu desejo era ir 'para a lua', mas nem a própria memória do John sabia explicar muito bem o porque. Digo memória porque em momento algum vamos ter contato com John, apenas com suas memórias e o mínimo de interação que elas permitem com os operadores.

A partir daí começa o quebra cabeça dos nossos protagonistas que vão se aprofundando nas memórias do convalescente John em busca da solução. É uma premissa bastante simples. A história é contada ao contrário o que não quer dizer que morra em um lugar comum que facilmente vemos em jogos e filmes. Os dois protagonistas vão navegando pelas memórias através de objetos (mementos) que marcaram de alguma forma a memória de John e tentando interagir e observar o que pode ser mudado para que o desejo de John se realize. O que há na lua que John deseje tanto? Ou será que há algo além dela? A partir daí fica muito difícil de falar desta história sem spoilers.

Mas é fácil dizer que é uma narrativa fantástica e comovente que fala de amor, morte, sonhos e vida. Mexe também com nossas memórias através de diversas referências a coisas comuns da cultura moderna. Vi várias coisas lá que fizeram parte de minha infância e adolescência e gostei de como são tratadas. Neil e Eva também são ótimos como personagens e não desaparecem como espectadores em meio ao foco da história, que seriam as memórias de John.

Como jogo em si, pode-se dizer que é fraco e muita gente que goste de tiros, mortes e ação certamente vai odiar. Não há explosões nem nada demais. Acho que até prefiro chamar esse jogo de uma graphic novel com sons e movimentos. Ah, e claro, uma belíssima trilha sonora. Toma pouco mais de 4 horas de sua vida e proporciona uma experiência talvez única em narrativas de jogos.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Pobreza

É quando você pode ter um celular maneiro e não pode comprar um headphone. Assim é forçado a compartilhar seu gosto musical duvidoso com as outras pessoas. Não se engane, elas odeiam o seu gosto musical seja ele qual for.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Steam Greenlight

Algumas tecnologias ou ideias são avançadas demais para o seu público. Após o primeiro final de semana do Steam Greenlight, pude ver muitos projetos horríveis e muita gente aprendendo a trollar, postando jogos de outras empresas e até mesmo pornografia e coisas racistas. Os administradores não se fizeram de rogados e procuraram sempre remover e banir quem estivesse postando coisas inadequadas com bastante eficiência. Infelizmente ainda restou o spam de projetos ruins, mas nem tudo pode ser perfeito.

Steam Greenlight é uma ferramenta do Steam para permitir que empresas ou desenvolvedores pequenos tenham a chance de apresentar seus projetos e com a devida aceitação do público, eles podem ser lançados na loja virtual. É realmente um espaço de destaque simplesmente estar na loja da Steam, pois costumo ver sempre uns 4 milhões de usuários online o tempo todo. Pequenos desenvolvedores podem também interagir com os usuários e até melhorar os seus produtos.

Fica meio claro que esses projetos deveriam estar em estágio final de produção ou prontos mesmo. Mas muita gente entendeu que o espaço era uma espécia de lista de discussão de projetos e chegaram a postar ideias apenas e conceitos artísticos. Outros não possuíam uma boa noção de preço e já projetavam 5 dólares por jogos completamente horríveis. O que me fez achar bastante divertido negar e aceitar jogos durante horas, pois num piscar de olhos mais 700 projetos foram postados.

Era bastante claro quando o desenvolvedor havia gastado seu tempo produzindo algo que prestasse. Outros caiam no mau gosto outros vícios, mas no geral a experiência de poder ver tantas ideias e projetos lado a lado tentando ser vendidos é interessante. Ponto para a Valve pela ideia e ponto para todos os jogos criativos e bem desenvolvidos. Merecem o espaço que espero que consigam.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Releitura: O Hobbit

A última vez que li este livro foi provavelmente há uns 12 anos, acho. Lembro de ter gostado bastante e não muito mais que isso. Mas quando vi o trailer do filme que está sendo produzido, deu uma certa vontade de relembrar a história. Lembrava apenas de linhas gerais e de alguns eventos, mas fiquei realmente surpreso ao descobrir o quanto eu havia esquecido da história. Não apenas esqueci de detalhes aqui e acolá, mas eventos inteiros desapareceram de minha mente e muitas vezes me sentia como se estivesse lendo o livro pela primeira vez.

Tenho que reconhecer que durante boa parte da leitura fiquei imaginando como serão as cenas no filme. O que deve ser tirado e o que deve ser adicionado. Inicialmente achei 2 filmes muito para um livro de pouco menos de 300 páginas. Mas observando que nessa obra Tolkien ainda economiza bastante no estilo, dá para perceber onde e como vários nós podem ser desenrolados sem ficarem de forma alguma fora de contexto ou forçados. Acho que os anões, por exemplo, vão ganhar algum destaque maior no filme. O livro é muito sobre Bilbo Baggins, ele é quem põe todos os acontecimentos em andamento e quem tira o grupo de quase todas as enrascadas nas quais se metem. Gandalf apesar de botar tudo em movimento aparece de forma tímida aqui e acolá.

Fiquei com muita expectativa no filme que está sendo dirigido por Peter Jackson. E claro recomendo bastante a leitura deste livro. Pode não ser tão épico quanto Senhor dos Anéis, mas é mais leve e divertido. Sem contar que Bilbo é um protagonista umas 10 mil vezes melhor que Frodo.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Grande Sertão: Veredas

Soube que esse livro esse existia por causa daquela lista de livros que obrigam você a ler para o vestibular. Nunca realmente havia prestado atenção. Ele era como Vidas Secas para mim, só um livro sobre um passado pobre e sem lei no sertão. Nossa versão triste, porém cabra-macha de faroestes. Ah, e sem mexicanos que são substituídos por um libanês ou judeu, claro.

Também graças ao vestibular e aos professores de literatura, também já sabia boa parte da história. Eles não estimulam a leitura alguma, apenas falam de forma geral e dão discas sobre o que possivelmente será cobrado. Acho que qualquer surpresa que talvez tivesse nesse livro morreu nessas "dicas" que me foram dadas. Nem sequer lembro se usei algo para o vestibular, mas já sabia que este era um livro sobre o sertão que contava a história de Riobaldo, um jagunço, e Diadorim, também jagunço. Acho que muita coisa na minha leitura teria ido por outro caminho caso não soubesse que Diadorim é na realidade... (omg spoilers... oh, todo mundo já sabe) uma mulher. Nosso faroeste tupiniquim é na realidade um Brookeback Mountain, mas não fica só nisso.

É realmente um livro sobre sertão, sobre pobreza, sobre vingança, sobre sangue, sobre justiça e sobre Deus e o Diabo, mas não lembro de em momento algum ouvir que seria um livro sobre guerra. E muito bom livro de guerra. Nada de estratégias mirabolantes, mas formas de fazer guerra inteligente numa região pouco amigável ao ser humano. Morde e assopra. Dividir para conquistar. Usar vantagens do terreno e o escuro da noite. Coisas que vemos constantemente nessa obra contada pelo próprio Riobaldo, agora já velho.

Mas parece que misturar tudo isso num bolo ainda não é suficiente. Tudo é guiado como uma bela narrativa que vai se desenrolando conforme o narrador vai lembrando. Então linearidade fica meio de fora, mas nada que nos deixe completamente perdidos. Em geral, conseguimos até botar os fatos em ordem facilmente. Riobaldo pequeno conhece Diadorim, sob outro nome. Anos mais tarde o encontra quando decide tentar a sorte de jagunço e a partir daí vão estar sempre juntos até o final. Mas é interessante como apesar de falarem pouco, afinal as agruras da guerra não davam muita margem para papo, eles conseguem se entender. Aliás, não só eles, mas Riobaldo e todo o bando do qual faz parte. Situação que o faz crescer no grupo e adotar outra postura próximo ao final.

Acho que o momento que mais esperava durante toda a leitura foi a revelação e apesar de todos os avisos de meus professores, eles não conseguiram estragar esse momento. O climáx do livro é algo bonito e triste. Podemos até ouvir o som da alma do Riobaldo se quebrando. Mas nesse ponto prefiro deixar que a curiosidade alheia se complete.

Grande Sertão: Veredas é realmente uma grande obra. Escrita por João Guimarães Rosa, chega a figurar em alguns top 100 de melhores livros. O que me deixou intrigado, porque como os gringos leram este livro se não achei em lugar algum a versão em inglês custando menos que "muito caro"? Talvez tenham lido em espanhol ou mesmo em português, mas fico feliz que seja lido e lembrado e espero que algum dia receba alguma boa tradução. Embora tenha que admitir que seria muito complicado conseguir passar todas as nuances linguísticas presentes aqui. De qualquer maneira, vale a pena lê-lo em algum momento da vida. Não é um livro triste, é um livro sobre a vida de uma pessoa que agora velho pensa no que viveu e nos pergunta o que poderá ser dele.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Nova cara

Tenho que admitir que ficou bem menos feio de se olhar e nem precisei saber nada de html para isso!

segunda-feira, 23 de abril de 2012

So long and thanks for all the fish & Mostly harmless.

Quando estava relendo o Ultimate Hitchhiker's guide to the galaxy, achei engraçado que eu não possuía a menor lembrança desses 2 últimos livros. Não foi nada estranho reparar depois que nunca os havia lido. Cheguei a começar o primeiro há alguns anos, mas parei acho que na primeira página mesmo. Estava cansado da série. Aliás, acho que estava mesmo cansado do peso do livro. Todos juntos num só lugar pode ser uma boa economia na hora da compra, agora um tijolo de quase mil páginas está longe de ser confortável.

Enfim, finalmente terminei a leitura de todos os livros dessa saga escrita por Douglas Adams. Achei estranho que muita gente comente como se ainda pudesse haver alguma continuação. Sinceramente, não acho que há. Tudo termina numa louca gargalhada insana. Acho que não poderia ser diferente, a vida que o coitado do Arthur Dent levou era realmente digna disso. É bem bacana a ausência do Zaphod. Deixou o livro muito melhor e sem randomness.

Mesmo assim após terminar a saga, sinto um pouco de tristeza. Não sei se consegui pegar o que o autor realmente quis passar nesses dois últimos livros. O primeiro do título é provavelmente um trocadilho com temas ambientalistas. Aquela coisa do "nós é que estamos e extinção e precisamos de proteção". Também é interessante como o Arthur volta à terra tão mudado por sua viagem que ele se transforma em um estranho em sua própria casa, no caso, em seu próprio planeta. Conhecemos um novo personagem feminino que deixa claro como a Trillian é uma casca oca sem sal.

O segundo livro, Mostly Harmless, é intrigante. Achei-o desconfortável. Tudo que o Arthur consegue, ele perde e isso se repete várias vezes. Parece que o universo é um bully perverso contra o Arthur e fica testando sua racionalidade. Ele acaba virando uma espécie de Jó que só faz sofrer e no final não vai receber nada em dobro. A gente até imagina que alguma hora a sorte aleatória que Arthur sempre teve vai ajudá-lo, mas dessa vez seu inimigo, o universo, parecia ter um plano infalível contra ele. E ai temos a gargalhada final...

Deve ser coisa da idade, este último livro foi escrito alguns anos após os demais terem feito algum sucesso. Talvez tenha a ver com o trabalho ambientalista que o Douglas Adams vinha desenvolvendo. Ou mesmo tenha a ver com qualquer outra coisa, vai saber. Mas este último livro é realmente desconfortável. Certamente dá um desfecho que pode ser considerado final à saga, mas não é bem o que era esperado. Talvez o próprio autor tenha pensado nisto e quase uma década após Mostly Harmless tenha começado um livro que, dizem, terminaria a saga de um outro modo. Mais feliz? Menos? Não há como saber. Só visitando o Douglas Adams no além. Acho que ainda posso esperar alguns muitos bons anos antes de matar essa dúvida.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Releitura: The Ultimate Hitchhiker's Guide to the Galaxy

Dia desses me peguei pensando nesse livro. Lembrava de algumas piadas, do robô depressivo e dos golfinhos. Mas não conseguia lembrar de forma alguma de porquê tudo acontecia. Apos reler, noto que aparentemente... não há motivo para nada. O universo para Douglas Adams é um lugar estranho e onde muita coisa improvável acontece. É difícil dizer como seus personagens vão reagir diante dos acontecimentos.

O Arthur em geral assume a postura de bobo incrédulo. O Zaphod é completamente aleatório, o que o autor parecer considerar a genialidade do personagem. Trillian é uma figurante. Ford é realmente o palhaço da história, por vezes inteligente por vezes apenas serve para ficar em denial. Os demais personagens parecem apenas seguir uma obsessão clara e ignorar todo o resto. Aparentemente esse é o universo de Douglas Adams e na realidade é sua visão da humanidade. Cada um com seu problema ignorando tudo que não é o seu problema. Isso inclusive é a justificativa da tecnologia de invisibilidade em algum momento.

Em geral, nesse primeiro livro o grupo, mais o robô maníaco depressivo, está em busca de um planeta esquecido pelo tempo. Lá descobrem que a terra é um experimento e depois saem do planeta fugidos e sem que tenha havido algum motivo para eles sequer terem ido àquele planeta. É um pouco assim que toda a narrativa é levada daí então. É divertido, mas não faz muito sentido se você estiver pensando em alguma história. É uma espécie de sketch cronológico que leva nada a lugar nenhum com algumas risadas no meio.

Gostei bastante na primeira leitura, mas na segunda não havia surpresa alguma. Talvez deva esperar mais uns 20 anos até a próxima.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Game of Thrones

Acho que sou o último a assistir essa fantástica série. Mas lembro que a Globo existe e que ainda deve passar lá como alguma super novidade quando o 5º livro já estiver disponível em DVD. Mesmo assim, ainda valeria a pena assistir só para ver o que fariam com as traduções. Particularmente gostei bastante da versão do livro em português.

Tradução bastante fiel e pontual. Apenas nomes que teriam traduções aceitáveis foram traduzidos e nenhum deles era o nome de uma pessoa. Nesse caso, acho que as traduções ajudam a visualizar os ambientes mesmo. The Wall é bem claro em inglês, o tradutor quis passar essa clareza ao chamar o lugar de A Muralha. Red Keep virou Fortaleza Vermelha. Enfim, foram escolhas óbvias e felizes.

Voltando à série, posso dizer que gostei pra caramba. É tudo meio épico, até os jogos de traições para alcançar o trono. Talvez a série apenas peque em mostrar já coisas que só vão aparecer em próximos livros. Já mostram Theon Greyjoy bastante insatisfeito e razoavelmente insubordinado. Mostram também Renly com seu amante pensando no golpe. E os cadáveres de olhos azuis logo de cara. Há também alguns nomes que vão ter importância na história e sequer são mencionados, como o Roose Bolton e o próprio irmão do príncipe Joffrey.

Não acho que tenha sido de modo algum ruim. A série não está sendo feita a esmo. Está sendo bem trabalhada e pensando já no segundo livro e essa é uma tendência que deve continuar nas próximas temporadas. Em especial, gostei bastante da Daenerys. A atriz conseguiu manter o ar de jovem assustada do começo e cresceu conforme a história se desenvolvia.

Acho que com tudo isso nem preciso dizer o quão boa é a narrativa e o livro. Pelo que ouvi dizer, a tendência é só melhorar. Só fiquei com pena do Stark, achava-o bacana. But no more spoilers. Muito bom série e livros. Só espero que o autor não morra antes de terminar!

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Sou louco por ti Corinthians

Começou a roubalheira pra fazer esse time tão... honesto... campeão de novo. Sacanaj.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Tirant Lo Blanc

Ouvi falar desse livro pela primeira vez quando o Gussie comentou estar interessado nele porque é citado em Dom Quixote. Nessa época já havia lido Dom Quixote, mas juro não ter prestado nenhuma atenção naquela parte onde vários livros são queimados e comentados. Na segunda vez que li, reparei que este foi um dos poucos livros que foram salvos do fogo. E, realmente, mesmo na ficção seria um injustiça queimá-lo. Acho que esse foi um dos melhores livros que já li, mas talvez esteja exagerando um pouco.

Mesmo assim, qual o problema de exagerar? Muitas obras de cavalaria são todas baseados num exagero que beira o absurdo. Essa obra também não deve ser nenhuma exceção, mas nenhum de seus exageros beira o absurdo. Tirant é belo, corajoso, honroso e inteligente, mas ele ainda é só um homem. Em nenhum momento vamos vê-lo desbaratar um exército inteiro só com sua espada no estilo Chuck Norris medieval.

Cada luta sua é realmente uma batalha onde Tirant é obrigado a por sua vida em risco. Quando é contra grandes senhores, ele escapa geralmente por um fio. Quando enfrenta grande massas de inimigos, também precisa de ajuda dos seus para não ser mortos por vários. Podemos dizer que é extremamente poderoso, mas não é imune a ferimentos. Sentimos que Tirant é tão mortal quanto os homens que mata. Suas vitórias são mais baseadas na estratégia que em coragem ou força individual. Ele está mais para Sun Tzu que para um Hércules.

E é isso que o deixa interessante. Ele é humano. Ele se apaixona, ele se fere, ele tem medo e quando pensou que a natureza o mataria, ele chegou até a pensar mal do Deus que tanto ama. Ele é realmente e simplesmente humano. E é por isso que gostamos dele e é por isso que sofremos com ele e torcemos por ele.

O final também não deixa de ser menos surpreendente. É melhor não falar dele para evitar spoilers. Mas há um trecho que me empolgou bastante. Quando Tirant começa a juntar tropas para retornar a Constatinopla. Toda essa parte que envolve a convocação, a conversão, a contratação e movimentação de tropas contra o tempo curtíssimo, pois os turcos já batiam às portas de Constantinopla, lembram-me muito da cavalgada do exército de Rohan para ajudar na batalha de Minas Tirith. Lembro que quando li pela primeira vez o Senhor dos Anéis torci bastante para que desse tempo deles chegarem e ajudar na batalha. Mas toda a expectativa que senti com aquela cavalgada não se compara a que é criada por Tirant. Acho que sua chegada é o ápice do livro.

Acho que falei demais. Enfim, este é um grande livro. Algo para se ler e reler sem perder nada. Certo que alguns momentos pode parecer ligeiramente massante, mas vale lembrar que é um livro com mais de 500 anos. Isso realmente me surpreende em vários momentos, especialmente pela liberalidade e também da importância de várias personagens femininos na história. Valeu cada minuto de leitura.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Ficando velho

Descobri dia desses que o msn deixou de ser moda. O negócio da vez parece ser o facebook mesmo. Meio que uma pena já que demorei séculos para reunir todo mundo no msn. Ter todo o trabalho novamente não parece nem de longe tentador. Se bem que como ninguém reparou a ausência de 2 anos por lá, acho que podem esperar mais uns 10 antes que eu volte.

Agora realmente espero que essa moda de facebook não passe. Ia ser muito chato ter que mover todo mundo para a mais nova rede social que terá lasers e Angry Birds 6.0.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Anna Karenina

Após uma looonga leitura fiquei com a impressão de que não entendi muito bem a história. É bem escrito, mas acho que todo livro antigo que ainda merece ser citado é assim. Mas algo me incomodou profundamente nele e penso que esse algo tenha sido o final. Demorei muito tempo lendo, mas a parte final foi o que realmente me fez parar completamente as vezes. Ficou enfadonho. Não consegui realmente entender todas as dúvidas e loucuras do Levin. Ele tinha tudo e estava triste com tendências suicidas. Acho que só faltava a franja. Mas noto que começo a colocar os pés pelas mãos aqui.

Anna Karenina conta a história de uma mulher da high society russa que se apaixona por um nobre em ascensão. O problema é que ela já era casada com um servidor público de renome. Daí então começa a narrativa de todas as pessoas que de uma forma ou de outra estão envolvidas nesse pequeno círculo social. Também são citados os grandes problemas da vida russa da época. Nobres que não sabia administrar suas posses, resistência a modernização, burocracia burra e excessiva do Estado com a presença de vários cargos que ninguém realmente sabe o que é e também a questão das traições e aceitações.

Fiquei com a impressão de que 95% da nobreza russa era composta de covardes que tentavam roubas as mulheres dos outros sem se envolver num duelo. Pessoalmente fiquei frustrado de não ter visto um duelo sequer e olhe que houve motivos para muitos. Em geral eram resignados. Acho que o melhor exemplo foi o Oblonsky, personagem feliz alegre comilão e bom de flerte, mas... aceita sua condição de ser um B na sociedade. Bem, mas não podemos condená-lo, ele só quer ser um bon vivant mesmo.

Ainda assim o Levin foi o personagem que mais gostei da história. Ele é o mais honrado de lá e não tem medo de colocar um cara que estava dando em cima de sua mulher para correr. Sua honra parece vir de um pensamento infantil de que as coisas deveriam ser como deveriam ser. Mas no decorrer do livro aprendemos a perdoar esse comportamento de Levin e aceitá-lo como é. Exceto no final quando ele quase põe tudo a perder por... vamos dizer, 'pensar demais'.

Achei a Anna Karenina bem sem graça e também o conde Vronsky que no começo era um grande pegador virou um marionete. Também achei a sociedade bem estranha, aceitavam que casais vivessem separados e tivessem meretrizes, mas divórcio não! Isso nem pensar. Quem se divorcia é vadia. Quem tem diversos amantes é uma mulher de contatos. Mas enfim, sociedades são assim mesmo. A Anna parece uma mulher fraca nesse sentido. Era bonita e sabia fazer qualquer homem se apaixonar por si, mas não podia viver na sociedade. É como se ela fosse um mestre do jogo social, mas fosse proibida de jogá-lo. E francamente isso fica tedioso lá perto do final do livro.

Em geral, não gostei. Gostei de partes e desgostei de muitas partes, não acho que o tempo investido tenha sido compensado pelas partes boas e acho que só terminei de ler de teimoso. Mas há quem goste desse tipo de história de sociedades decadentes e de pessoas que se perdem até o momento final de desespero. O problema é que esse desespero não me tocou. Então ficava meio esnobando o livro durante a leitura. Estava lá a Anna sofrendo e eu pensando "sei, e daí?". Acredito que Tolstoy tenha livros bem melhores.

domingo, 13 de março de 2011

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

The Call of Cthulhu and Other Weird Stories

Weird indeed. Este livro de contos de H. P. Lovecraft foi excelente para ver como era um dos autores mais influentes da ficção de horror. Acho que influente seja a definição correta porque muitas das histórias que li nesse livro já foram recontadas e reestilizadas de todas as formas possíveis. Isso em nada diminui sua qualidade, embora estrague um pouco o fator surpresa que os seus primeiros leitores certamente tiveram.

Algo que me impressionou em Lovecraft é a forte presença da ficção científica em seus contos. "Herbet West - Reanimator" é um conto que lembra bastante a idéia do Frankenstein. Um médico excêntrico que decide fazer experimentos trazendo de volta à vida aqueles que há pouco morreram. Suas criações acabam sendo sua própria ruína. De fato é um spoiler, mas duvido que alguém já não espere isso de Lovecraft. Em "The Colour Out of Space" e "The Whisperer in the Darkness", Lovecraft nos mostra como o terror pode vir de fora de nosso mundo conhecido. Em ambos Lovecraft apresenta formas de vida que dificilmente chamaríamos assim e que desconhecendo as noções de bem e de mal são capazes de qualquer coisa.

Nesses contos, basicamente, só esperamos o pior. As vezes ele supera nossas piores expectativas e consegue ir além de nossa "inocente" imaginação. Outras ficam bem a desejar. O conto que dá nome ao livro "The Call of Cthulhu" realmente ficou muito a desejar. Mas estou apenas sendo um chato. Esperava o Cthulhu despertando e espalhando por ai o terror que é tão cultuado por amantes do terror e bandas de heavy metal.

Mas, em geral, todas as criaturas do mal tendem a se esconder e a serem discretas. Não que lhes falte poder ou força; apenas há a falta de interesse. Cthulhu poderia ter acabado com toda a tripulação que o despertou e talvez até com toda a população do planeta como sugere o conto, mas ele apenas segue seu caminho deixando os sobreviventes com o pavor de sua presença. Um pavor que varre a sanidade de quem o sente.

A loucura é o ponto freqüente nas histórias e sem dúvida é o que mais as marca. É quando nós vemos os protagonistas passando por uma verdadeira metamorfose que Lovecraft realmente revela onde está o maior pavor do ser humano: em sua própria mente. Alguns dos protagonistas se transformam em outras "coisas" e outros não conseguem aceitar suas próprias origens e enlouquecem. Os contos podem ser fictícios e todas as criaturas e demônios presente neles, mas a loucura não. Ela é real e paupável nesses contos e mostra toda a fragilidade da mente humana diante de algo que a desafia.

E assim posso dizer que gostei bastante de finalmente conhecer Lovecraft. Ótima diversão para quem gosta de histórias mais escuras e sem finais felizes.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Censura curtinha

Depois de ver o povo querendo "remover" expressões "racistas" de Mark Twain e Monteiro Lobato fica meio chato abrir um livro e tentar saber se é a versão original com cortes, adaptada, censurada ou politicamente correta. Acho que para facilitar a nossa vida, essa turminha deveria inventar uma máquina do tempo e usá-la para o nobre propósito de mudar os originais mesmo. Aposto que ninguém sentiria falta dessas expressões, mas saber que editoras ficam mudando os textos da forma que acharem convenientes é meio desconfortante.

Ah, e feliz 2011.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

The Graveyard Book

Por muito tempo simplesmente esqueci que tinha esse livro. Acho que foi para não lembrar que tive dois livros de Neil Gaiman subtraídos no final de um relacionamento. Provavelmente vou ficar com algum trauma de emprestar livros, que seria até tranqüilizado se eu suspeitasse que o livro fosse ser lido. Acho que nem isso foi. Voltando, já havia visto um pedaço desse livro em M is for Magic, então já possuía alguma noção do que ia encontrar.

Ele conta a história de Nobody Owens, um jovem que teve seus pais assassinados ainda quase um bebê, mas escapou por força do destino e terminou num cemitério sendo criado por fantasmas. No cemitério, alguns tutores fantasmas o ensinam várias habilidades usadas, em geral, apenas por fantasmas.

Bod, como é carinhosamente chamado, é realmente um herói infantil daqueles que despertam nosso interesse. Ele é inteligente, curioso e corajoso. Se mete em bastante confusão por causa disso, mas tem um sorte dos infernos e consegue escapar de grandes enrascadas. Com a idade, Bod começa a se interessar no destino de seus pais e mal sabe ele como isso vai afetar toda sua vida.

The Graveyard Book é mais um belo livro de Neil Gaiman onde a magia, seja ela boa ou assustadora, parece ser algo belo e presente em todas as coisas. Não há nada de profundo ou grandes lições de vida. É apenas um bom livro e divertido.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

A Menina que Roubava Livros

Qualquer livro que passe muito tempo na lista dos mais vendidos sempre me deixa muito desconfiado. Não costumo apoiar os Best-Sellers porque geralmente há muita coisa ruim entre eles. Eles seguem uma espécie de fórmula simples para vender muito e que de algum modo realmente funciona. Paulo Coelho e Dan Brown são apenas alguns exemplos de como fazer algo raso parecer profundo deixa muita gente se sentindo bem e com vontade de ler. Achei que era a mesma coisa com Markus Zusak.

Peguei o livro na obrigação de ler um presente e até fiz chacota quando vi a Morte apresentando a história. Pensei que a morte de Saramago era muito superior a esta Morte (e não me engano, pois é mesmo). Esta Morte é apenas uma narradora que se mete com comentários, pensamentos, opiniões e as vezes até spoileando a própria história. Mas podemos dizer que a Morte de Zusak é apenas uma péssima storyteller.

A Morte conta a história de Liesel Meminger, uma pequena órfã do regime nazista. Ela parece ser destinada a sofrer e esta parece ser mais uma história de lágrimas em meio ao regime hitlerista. Há sofrimento e lágrimas, mas eles são apenas coadjuvantes de uma pequena menina que roubava livros. Vamos e convenhamos, livros não costumam ser objeto de roubos (a não ser em universidades; é incrível a quantidade e a variedade de livros roubados, geralmente sempre pegam algo que você precisa). Esta é a estratégia utilizada pelo autor para atrair a atenção tanto dos possíveis leitores diante da capa, quanto da própria Morte. Afinal, ela poderia estar contando qualquer história, por que estaria focada na pequena Liesel?

Ao decorrer do livro a pergunta muda e passa a ser: ora, como não contar a história de Liesel? A guerra e Hitler podem ser panos de fundo e até mesmo a razão de muitas coisas, mas ela é apenas uma criança. Sua vida e suas vontades estão alheios ao Füher, assim como suas alegrias e frustrações. Liesel é uma menina alemã completamente normal que como tantos outros viveram sob o regime nazista. E é justamente a trivialidade que torna sua história bonita e também trágica. Como a própria Morte sugere: eles não mereceram o fim que tiveram. But no more spoilers for now.

A Menina que Roubava Livros é um livro singelo e muito bonitinho. Fiquei surpreso em gostar dele e acho que mesmo com dois anos de atraso é realmente a hora de agradecer pelo presente. Ah, outra coisa positiva é que ele nos dá um pequeno arsenal de xingamentos alemães, não que alemão precise de muito para parecer um xingamento.