Dois grandes amigos já estavam lá pela quinta na mesa de um bar qualquer (e devidamente pé de escada), quando um deles deu a seguinte sugestão:
- Que tal nós dois termos filhos. Vou ter uma menina e chamá-la de Rosa. Já você terá um menino e vai chamá-lo de Cravo.
O segundo amigo um pouco frustrado por não ter sido chamado para montar um bar e confuso com todas aquelas próclises aceitou de pronto.
Rosa despedaçada.
Cravo vira servidor público. E ai do estagiário que o chamasse de doutor Cravo. Não teve filhos, não deixou para ninguém o prêmio da mega-sena acumulada.
Words are not meant to stir the air only: they are capable of moving greater things.
terça-feira, 25 de fevereiro de 2014
quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014
After Dark
Certamente há muitos livros que contam histórias de personagens que habitam a noite. After Dark poderia facilmente ter se tornado um deles, mas escolheu outro caminho. Não há nenhum vampiro ou enfoque especial nas figuras da vida noturna. Apesar de falar de alguns desses personagens, o foco aqui é mais em uma estudante que por certos motivos, opta por passar aquela noite fora de casa. O livro é a história dessa única e longa noite e dos personagens que de uma forma ou de outra interagem com essa estudante.
Mesmo com uma ideia simples, o livro de Murakami consegue nos prender e nos levar durante aquela noite que de alguma forma acaba sendo agradável e tensa ao mesmo tempo. Ficamos querendo saber mais do que acontece depois e meio que nos irrita saber que é apenas a história de uma noite. Como tantas outras de histórias similares que podem haver por ai, mas sem deixar de ter o seu charme.
É um bom livro, curto e de leitura tranquila. Nos conta de forma simples e agradável algumas histórias que podem ser verdadeiras na vida de qualquer pessoa sem buscar lugares comuns.
quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014
The Great Gatsby
Glamour. Acho que essa foi a imagem que o trailer do filme me deu desse livro. Esperava muitas festas e um homem de estilo de vida incorrigível que iria se perder por um motivo qualquer. Uma espécie de Atlas das festas e boa vida da Ayn Rand. Mas Jay Gatsby não nos passa isso. Claro, as festas estão lá e aparentemente são lendárias também, mas sob os olhos do protagonista Nick Carraway, tudo parece meio sem importância. Jay Gatsby é um homem de um só objetivo.
The great Gatsby tenta contar a história de Jay Gatsby, um novo rico cuja fortuna tem procedência tão duvidosa quanto sua própria história. Seu passado é recheado de informações fantasiosas e que são aumentadas ou alteradas mesmo pelas pessoas que o conhecem. E por mais que suas festas sejam lendárias, ele pouco aparece nelas e quando o faz é sempre discreto. É quando somos levados a perceber que todas as ações desse riquinho possuem um objetivo bem específico e nada racional. Talvez esse seja o seu maior charme. Pensar o quão louco alguém teria que estar para fazer o que ele fez por alguém que realmente não merecia.
E ai somos levados a um drama de mentiras, traições e sangue. E leva-se um bom tempo até chegar a esse ponto. Quase metade do livro passamos vendo descrições e somos introduzidos a meio mundo de figurantes de luxo das festas americanas. Personagens que provavelmente ainda existem por ai, mas usando diferentes vestidos e marcas.
Até tenho vontade de dizer que esse romance é uma obra moderna. A história de um homem com uma ambição e contada por um protagonista aguado e quase blasé. Mas penso que esse tipo de drama por traições e desejos dessa forma são bem datados, apesar de ainda possuírem algum charme. Trata-se de um romance curto e divertido. Vale a pena ser lido apesar de falar de um homem perdido em um tempo perdido.
quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014
Mudança
Nunca havia ouvido falar em Mo Yan até ele ganhar o nobel em 2012. Pareceu um daqueles muitos prêmios dados para que a academia fingisse que há escritores na Ásia. O que os velhinhos que dão o prêmio Nobel talvez não saibam é que realmente há muitos escritores na Ásia e por que dar destaque a um só? O que teria Mo Yan de especial?
Mudança é um relato autobiográfico do autor sobre vários momentos de sua vida e em como ele viu a China mudar de um Estado agrário ao que é hoje. Ele observa as mudanças culturais permitidas pela mobilidade de classes e pelas imposições do governo. Também observa como algumas coisas nunca mudam, como por exemplo a mania dos chineses de utilizarem o máximo de Q.I. (quem indique).
Mesmo assim é um bom livro para ver um período no qual pensamos que a China era composta por maoistas e comunas. E não de um ponto de vista solto ou irresponsável, mas de alguém que viveu tudo aquilo. A vida do autor é longe de ser perfeita, mas nos dá uma boa imagem do que foi a China no período em que migrou da tirania do tio Mao para o que é hoje.
Além disso, é interessante ver certas pessoas da vida do autor influenciarem a sua criação de personagens. Até nos dá curiosidade em ler outros livros dele só para ver como são esses personagens. Enfim, é um bom livro, talvez um pouco caro para o preço, mas é bom. Só não deu para ver o que ele fez para merecer um Nobel nesse livro, but then again, é só um relato autobiográfico mesmo...
quarta-feira, 29 de janeiro de 2014
E Depois
Em mais uma obra que reflete as mudanças da era Meiji no Japão, Natsume Soseki nos apresenta um protagonista peculiar. Daisuke é um homem no mínimo mal acostumado. Não possui mais vergonha alguma de ser sustentado pelo pai aos 30 anos de idade e nem acha vergonhoso passar o dia sem ter absolutamente nada para fazer. Ele vive entediado, mas acredita que estaria se rebaixando a algo menos que humano se por acaso precisasse trabalhar pelo seu próprio sustento. O destino foi muito gentil com Daisuke.
Tudo que seu pai e seu irmão queriam era que Daisuke escolhesse alguém como esposa para que finalmente a desonra que ele representava fosse dirimida de alguma forma. E não era como se ele precisasse casar com qualquer pessoa. Daisuke poderia se casar com qualquer pessoa que quisesse, mas opta por tentar deixar tudo para amanhã. É um personagem que leva ao extremo a esperança de que o seu Eu do futuro resolva todos os problemas.
'E Depois' é uma leitura agradável de um personagem que recusa a dobrar seus joelhos diante de uma sociedade em transformação. Seus motivos podem não ter tão nobres, mas não deixa de ter os seus fundamentos. Mas mesmo um poço de racionalismo egoísta como Daisuke ainda pode estar sujeito a certas peças do mesmo destino que o agraciou com uma boa vida até os 30. Uma leitura muito boa que me ajudou a lembrar porque eu havia gostado tanto de ter descoberto por acaso Soseki numa dessas bibliotecas de universidade.
quinta-feira, 16 de janeiro de 2014
The Lover's Dictionary
Quem já viu 500 days of summer vai ter uma boa ideia do que seria esse livro. Uma narrativa não linear da história de um casal sobre o ponto de vista do homem. Claro que dá para valorizar o estilo da narrativa e a beleza de algumas citações dadas com certa facilidade pelo livro. Mas sempre fica um gosto de querer saber mais o que foi que houve. De que a história fosse mais "livro", mais narrada. Não temos nem noção do quanto foi omitido quando percebemos ficamos sabendo o tanto de tempo passado. Mas isso é questão de gosto pessoal mesmo. Há quem goste de livros excessivamente misteriosos.
No geral, The Lover's Dictionary é um livro leve e tranquilo de ser lido. Só não vale os 65 reais que tentam cobrar nele por ai.
domingo, 12 de janeiro de 2014
The Kite Runner
É possível odiar um protagonista e seguir lendo um livro até o final? Facilita quando este protagonista é cercado de personagens adoráveis. E The Kite Runner é recheado deles. Acho que até um semi-vilão é adorável, porque é um vilão à moda antiga. Daqueles bem loucos, cruéis e sem redenção. Dá para odiá-lo com facilidade e ele está lá para isso mesmo.
A história começa num Afeganistão pré-guerras e mostra como as realidades daquele povo mudou ao longo dos anos. À semelhança do que aconteceu em outros lugares como China e Rússia, as diversas guerras que afetaram o Afeganistão ao longo de 3 décadas foram responsáveis pelo fim de uma cultura. Um país que sofreu tantas mudanças em tão pouco tempo parece tão perdido quanto o protagonista do livro.
Mas não podemos culpá-lo. Amir cresceu em um lar próspero e à sombra de um grande homem, o seu "baba". Teve uma infância animada e livre de certas preocupações. Mas não quer dizer que tenha sido completamente livre de culpas. Alguns dos seus atos nos dão nojo, mas ao logo do tempo tentamos perdoa-lo. Afinal, ele era apenas uma criança e todas as crianças possuem uma inocente crueldade. A partir daí, o que se segue é uma busca de esquecimento e de redenção. E que busca... A história que ela gera é sem dúvida bela.
Portanto The Kite Runner é um livro com uma história simplesmente linda. Daqueles que é difícil parar de ler e não se encantar com os desenrolares. Uma ótima forma de começar o ano.
terça-feira, 7 de janeiro de 2014
On the Road
Livro repleto de descrições de paisagens, ambientes e personagens. Tantos que nos perdemos com facilidade na estrada e viagens que o narrador Sal Paradise descreve. Mas este não é um livro sobre o que o Sal pensa, acredita ou deixa de acreditar. Na prática, acaba sendo um livro sobre um outro personagem: Dean Moriarty.
E o que esse Dean teria de especial? Ele é louco e vive uma vida louca. Pelo menos é isso que achamos inicialmente, mas no decorrer do livro podemos entendê-lo melhor. Mesmo assim algo não vai mudar nunca na opinião que temos dele: ele é louco, mesmo que tenha razões para isso. Sal Paradise possui uma adoração por ele quase como se fosse um profeta dos hipsters e bums. Dean aproveita uma vida de impulsos e claro que isso nem sempre é legal ou saudável para os amigos.
Nas viagens de Sal Paradise também observamos como toda a gangue vai se acalmando e arranjando um lugar ao sol cada um a sua vez. Até o próprio Sal parecia ter encontrado seu canto, mas o Dean sempre esteve lá, quase um monumento àquilo que todos haviam sido um dia. Porém ele é egoísta, pensa no próprio estômago e na própria diversão, por mais que adore os amigos é capaz de deixa-los ao léu e resolver seus próprios assuntos. Mas quem não é egoísta?
No ponto de vista das viagens, tudo parece realmente muito interessante e arriscado. Sair de uma costa a outra dos EUA portando apenas 20 dólares parece algo completamente insano e definitivamente é. Mas há algo de atrativo nessa insanidade. Os lugares por onde passam e as dificuldades também. Tudo parece ganhar uma cor especial. Não é um simples subir no ônibus e dormir até chegar.
Por essas e outras, essa obra de Jack Kerouac acaba sendo uma boa leitura. Talvez até um bom desafio para quem possua um carro e a conversão de 20 dólares para os valores de hoje. Afinal, estradas não faltam por ai e todas elas devem possuir muitas histórias a se contar.
domingo, 5 de janeiro de 2014
The Ocean at the End of the Lane
Uma aventura fantástica que só uma criança poderia ter. Embora isso não seja tão verdadeiro quando se fala das obras de Neil Gaiman. Todas, independente de idade, têm sua parcela de aventura e criatividade. Nesse livro acompanhamos as aventuras de um menino de 7 anos que estava no lugar errado e na hora errada, o que o leva a viver coisas que jamais imaginou que existisse para salvar a própria pele e a de sua família.
Dentro das criaturas fantásticas que ele descobre há aquelas que fascinam e aquelas que são muito perigosas. Mas gosto daquelas que são neutras, como forças da natureza. Podem ser perigosas ou não, depende de como o garoto interage com elas. E claro, há a poça d'água que sua amiga chama de oceano que é uma das mais intrigantes. Como de costume nas obras de Gaiman, não é necessário longas explicações para se notar o quão fantásticas pequenas coisas podem ser.
É uma história bonita de sacrifício e amizade. E realmente não há muito a dizer sobre ela sem estragar as surpresas. Vale a pena ser lida.
É uma história bonita de sacrifício e amizade. E realmente não há muito a dizer sobre ela sem estragar as surpresas. Vale a pena ser lida.
sábado, 21 de dezembro de 2013
Kindle
Sentir o papel passando pelos dedos e acompanhar o nosso marcador de textos avançar lentamente num livro grosso são alguns fetiches que só livros podem nos proporcionar. Ah, sem esquecer de que alguns livros também são ótimos em prateleiras de estantes. O ponto negativo seria que podem pesar muito e sempre há a chance de algo acontecer com nosso marcador numa hora inconveniente. Ou mesmo pode-se esquecer o livro em algum lugar ou emprestar a alguém que vai sumir com ele e nunca mais devolver.
Fico pensando como pude viver sem kindle durante tanto tempo. É fantástico poder carregar tantos livros e documentos na palma da mão de forma tão discreta que nem sinto medo em ser roubado. Afinal ninguém rouba livros, mesmo os digitalizados. Mal peguei o kindle e de repente já havia 80 livros nele. Numa leveza e conforto de leitura que nenhum livro de papel poderia me proporcionar.
Posso não substituir totalmente os livros de papel, afinal estantes precisam de sua beleza ainda, mas acho que a facilidade do kindle vai me colocar numa nova era de leitura. Portanto sugiro a qualquer pessoa que goste de ler que pegue um kindle e procure livros na internet sem medo de ser feliz.
terça-feira, 17 de dezembro de 2013
Diário de um Velho Louco
Em mais uma exploração aos livros asiáticos encontrei essa narrativa simpática de um protagonista nada simpático. É mais uma história onde um homem velho, perto da morte e de virilidade já vencida que procura formas de se manter vivo, coisa que faz por meio de seu diário e por uma tara que o enlouquece por sua nora.
A narrativa de Junichiro Tanizaki se dá por meio do diário deste velho. Não sabemos que pessoa ele foi e ele não é muito dado a ficar lembrando do passado. Em grande parte somos levados a observar como a tara dele vai evoluindo enquanto toda sua moral se esvai. Não há vergonha alguma em seus atos e sua nora aprende a lidar com aquilo da forma que lhe beneficie.
O que é meio triste é como o velho protagonista consegue ser vazio e covarde em relação a sua própria situação e conforme sua volúpia avança, mais parece que ele odeia o mundo e pretende ofendê-lo como puder. Enfim, é um livro para se ler com sobrancelha franzida e alguma permissividade. Afinal ele é moribundo e precisa daquilo. Também descobrimos uma infinidade de remédios e substâncias que fazem parte do dia a dia deste velho em busca de alongar nem que seja alguns dias a sua pobre e desgraçada vida.
segunda-feira, 9 de setembro de 2013
Kappa e o Levante Imaginário
Este livro de capa tenebrosa nos mostrar um pouco porque Ryonosuke Akutagawa dá nome a um prêmio literário no Japão. Justiça seja feita, ele merece. Essa seleção de contos nos dá a oportunidade de observar vários estilos de Akutagawa. Entre humor, drama, fantasia e horror, acredito que ele se destaque mais neste último. Ele possui um pessimismo bastante moderno.
Apesar de dar nome ao livro, Kappa não é um conto que envelheceu muito bem. O país dos kappas é usado para criticar o Japão da época por comparação. Alguma coisa ou outra ainda pode ser trazida ao nosso tempo como crítica interessante, mas no geral é uma fantasia fora de moda. Ainda que tenha um final que achei interessante e nos leva a uma pergunta que não está respondida no conto. Há também um pensamento lançado quando se fala sobre nascimentos: e se fosse possível perguntar a todos que vão nascer se eles querem ou não nascer? Como seria...
Mas já os contos Os Salteadores e o Inferno são cruéis e bonitos na mesma medida. Esses dois contos são os que mais se destacaram para mim por conseguir pintar um passado onde homens são levados a crueldade por tentação ou por talento. E por piores que sejam, ainda conseguimos sentir pena deles e sentimos raiva do mundo que os criou. Não há monstros, apenas homens capazes de tudo.
No livro ainda encontramos outros contos muito bons de Akutagawa que fazem este curto livro valer muito a pena ainda que fale tanto sobre a desgraça alheia. Pode não mostrar tudo que este autor é capaz, afinal não há nenhum romance aqui, apenas contos. Mas podemos ter uma boa ideia de sua qualidade.
quarta-feira, 7 de agosto de 2013
Eu sou um Gato
Animal pensantes e falantes entre si. Acho que hoje seria o tipo de história que já nos deixa entediados antes mesmo de começar. Mas por ter sido escrita por Natsume Soseki no começo do século XX, damos algum crédito a mais e esperamos coisa boa de lá. Pena que dessa vez o autor me decepcionou.
Este livro não é um romance como Kokoro e Botchan, ele é mais um somatório de opiniões pessoais do Soseki sobre vários aspectos da sociedade japonesa e do mundo acadêmico.
Seu personagem principal, o gato sem nome do professor, apenas fica de observador a família com a qual mora e um pouco da vizinhança. Ele começa com alguns comentários "gatescos", mas que em geral são usados para fazer críticas a sociedade mesmo. Seu dono é um professor bastante sem graça que só faz se sentir doente, ter raiva e reclamar da vida. Seu círculo de amizades envolve vários personagem com ares acadêmicos de segunda qualidade que conhecem muitos nomes, fazem muita pompa, mas aparentemente não sabem de nada. Alguns deles vão nos dar algo de cômico e real, pois são figuras que vemos ainda existir na comunidade acadêmica mesmo nos dias de hoje.
Mas toda a narrativa do livro é em função de nos levar a momentos onde Soseki dá suas opiniões sobre os casos. O que me faz sentir um pouco enganado pelo livro, mesmo que concorde com algumas opiniões expostas. Não é um mau livro, mas é bastante tedioso. Algumas situações se alongam demais e o final é bastante preguiçoso. Fiquei frustrado com a leitura e só aconselharia a sua leitura para quem gostar de tédio com raros momentos de efeito e quiser ter uma visão da sociedade japonesa da era Meiji em transformação.
terça-feira, 23 de julho de 2013
The Rise of the Warlords
Contra a paz e o amor que reinava no mundo, Ghengis Khan, Alexandre, Napoleão, Júlio César e Átila, unem suas forças para devolver os culhões à humanidade. Enfrentando uma horda de inimigos que tentam pregar doutrinas de paz e amor, o grupo dos Warlords descobrirá que seus maiores inimigos são na realidade a economia e os jogos de influência política. Muito sangue hippie e lágrimas keynesianas serão derramados para que a guerra volte a fazer algum sentido num mundo de covardes. A paz é para os fracos.
quarta-feira, 19 de junho de 2013
Gosto do Barulho
Muita gente se entristece diante do momento político atual. Queriam algo mais focado. Que o protesto fosse capaz de dizer que atingiu tais e tais metas no final. É um desejo justo e sinceramente seria o ideal. Mas quando se tem tanta gente reclamando de coisas tão diversas, fica algo meio difícil de ser atingido. Mesmo que pelo menos os desejos iniciais de melhoria da qualidade dos serviços de transporte e baixa dos preços seja atingido, ainda ficaria um certo gosto amargo. Poderia ter sido mais...
Pessoalmente, não acredito que isso seja de todo ruim. O que mais gosto desse movimento todo é o barulho que promove. Quando trabalhei dentro de um Assembleia, tive oportunidade de assistir alguns protestos com uma indiferença que era natural do ambiente. O máximo que pensava era: vou sair pela rua de trás. Havia barulho, apitaço, panelaço, reclamações e no final entregavam alguma carta alguém que poderia ser lida ou não. Pouca gente acompanhava esse processo. Menos ainda via o desfecho. Sinceramente, acho que nem os manifestantes sabiam se eram ouvidos ou não.
O que dizer então de toda essa comoção nacional? Não acho que vá conseguir algo de imediato. Mas fez barulho. Gerou um ruído que muita gente ouviu. Não lembro de ter visto algo parecido por aqui; não por um motivo deste tipo. Então como não gostar desse ruído? Que façam muito barulho, o suficiente para deixar as "autoridades" com ouvido zunindo. Pelo menos esse mal podemos lhes causar. O resto só o tempo dirá. Para mim, só esse barulho já pagou tudo.
O que dizer então de toda essa comoção nacional? Não acho que vá conseguir algo de imediato. Mas fez barulho. Gerou um ruído que muita gente ouviu. Não lembro de ter visto algo parecido por aqui; não por um motivo deste tipo. Então como não gostar desse ruído? Que façam muito barulho, o suficiente para deixar as "autoridades" com ouvido zunindo. Pelo menos esse mal podemos lhes causar. O resto só o tempo dirá. Para mim, só esse barulho já pagou tudo.
sexta-feira, 14 de junho de 2013
A Casa das Belas Adormecidas
Até que ponto vai a solidão de um homem e as estranhezas dos japoneses? Este é um livro que tenta se aventurar por essas águas. O protagonista, o velho Eguchi, do alto de seus 67 anos, é convidado por um amigo a passar uma noite numa casa onde poderia se deitar com uma jovem adormecida de forma artificial. Inicialmente, pensei que a ideia era em torno do debate do estupro, mas não era bem o caso. Era uma casa para velhos afinal, muitos dos quais não possuíam mais essa vontade ou capacidade para tanto.
O que os levava até aquele lugar? O nosso protagonista fica se perguntando várias vezes sobre isso. Apenas com suas visitas consegue entender melhor aquele universo ao qual estava sendo apresentado. Naquelas mulheres adormecidas, Eguchi encontra seu passado e todas as mulheres que fez chorar. Talvez assombrado pelas lembranças dessas mulheres Eguchi se sente compelido a tentar manchar aquelas lembranças e destruí-las por meio da rebeldia contra as diversas regras do lugar. Naquela casa e naquelas mulheres ele encontra aparentemente todas as mulheres de sua vida.
Esta obra de Yasunari Kawabata é uma viagem por vezes sensual e por vezes fria à memória sentimental de um homem que conhece a proximidade de seu fim. De leitura rápida e sem muitas surpresas, somos levados a um certo asco contra Eguchi, mas talvez exista alguma surpresa cruel nesse asco. Será que todo homem pode chegar a ser como os clientes daquela casa? Suas tentações são cruéis, mas sua resistência também é ausente de qualquer glória. Por fim, é um bom livro apesar de mexer um pouco com nosso moralismo pessoal.
quarta-feira, 12 de junho de 2013
Dom Quixote - parte 2
Curioso o tempo que levei para ler esse livro. Já havia lido a primeira parte algumas vezes, mas por algum motivo sempre parava ali. Agora só o que penso é: Por que perdi todo esse tempo? Me arrependo, mas finalmente soube o que há por trás da segunda parte. O que encontrei foi um livro simplesmente fabuloso e estranhamente moderno. Tão moderno que faz parecer que o começo do século XVII é agora e que não mudamos nada.
Nesta parte, de certa forma melhor do que no primeira parte, podemos trazer um pouco mais o Quixote para nossos tempos. Antes ele era um louco curioso buscando aventuras em qualquer lugar mesmo quando não houvesse alguma. Agora ele é apenas um homem velho que deseja viver o seu sonho da melhor forma possível. Muitos debocham e lhe pregam peças, mas dentro da visão dele, tudo faz parte de sua narrativa pessoal. Sua aventura segue intocada e dessa vez menos imaginativa devido as burlas que sofreu de quem sabia a sua fama de louco. Acho que talvez ai esteja o que mais me encantou nesta obra. Uma receita tão simples, mas apresentada de um modo tão perfeito por Cervantes que não há como não gostar dela.
Gosto bastante também de quando se fala de temas como liberdade, governo e sonhos. Não de um modo que nos retrata um outro período, mas sim de um modo que nos faz perceber que certas coisas fazem parte do ser humano e independente de épocas, sempre estarão presentes de uma forma ou de outra. Mesmo desejos populares ainda são semelhantes aos dias atuais. Penso que só no final me senti jogado de volta no tempo, pelo menos não de forma frustante.
Dentro dos livros de cavalaria este é talvez o mais humano de todos, ainda que possa ser considerado uma sátira e não propriamente um livro de cavalaria. Essa provavelmente foi a intenção de Cervantes. Criar um personagem ao mesmo tempo louco e discreto, que intrigasse a quem não o conhecesse e divertisse os demais. E claro que esse personagem não está só. Há quem o acompanhe e também nos ofereça momentos igualmente interessantes e divertidos: o escudeiro Sancho Pança. Enfim, é um livro que qualquer pessoa deveria ler em algum momento da vida, talvez até mais de uma vez. Há um universo de coisas nas duas partes do livro e as diversas impressões que pode nos passar o torna ainda mais atrativo.
quinta-feira, 9 de maio de 2013
Amanda
- Por que você não têm cabelos?
Por mais que ser estranho numa universidade seja algo bem aceito e até almejado, existem tópicos que não devem ser tocados. Ao fazer a singela pergunta, Apolinário tocava em alguns deles. Claramente, Amanda tinha um problema e seria sensível não apontar para ele. Pena que sensibilidade nunca havia sido um forte em Apolinário.
Sua pergunta lhe rendeu uma parceria para um trabalho em grupo. Este sempre foi um ponto fraco seu, pois poucos queriam trabalhar com ele e quase ninguém voltava a trabalhar após uma primeira vez. O trabalho foi satisfatório, mas a pergunta nunca foi respondida.
Amanda, no entanto, não se distanciou após o trabalho. Ela era do curso de economia, mas por algum motivo estava ali em biologia. Poucas pessoas deixaram Apolinário confuso como Amanda o deixava. Ela sorria e chorava com muita facilidade. Certa vez num dos momentos de choro, Apolinário perguntou se ela queria ver sua coleção de pelos de gatos imprimidos no solo após atropelamento.
Amanda odiava gatos. Achava injusto que tivessem 7 vidas enquanto ela tinha apenas uma e não muito boa. Geralmente quando reclamava de gatos estava reclamando de sua própria vida. De alguma forma acreditava que se fizesse muito isso, Deus a colocaria no corpo de um gato em sua próxima vida como castigo, mas esse era seu desejo. Ela aceitou na hora.
- Não é estranho que tudo termine em morte?
- Não.
O que aquilo tinha a ver com a coleção, pensava Apolinário. Amanda por vezes surgia com essas conversas. Para Apolinário ela tinha uma obsessão em achar estranheza em coisas naturais. Ela o beijou algumas vezes. Dizia que não se podia ter filhos por beijos. Mesmo assim Apolinário ficava mais tranquilo ao vê-la beijar outras pessoas no final de semana. Nem sempre eram homens, mas pelo menos quando o filho viesse, não poderiam dizer ao certo se era dele.
Apolinário nunca havia notado como sua cama era confortável. Ou talvez as outras pessoas não soubessem escolher camas. Amanda não deveria saber, pois vinha dormir na sua com muita frequência, às vezes durante o dia mesmo. Nessas horas Apolinário gostava se aproximar e observar a ausência de pelos em sua cabeça. Ele não entendia porque ela não a cobria. Parecia querer mostrar algo que não estava ali.
- Não é estranho que tudo termine em morte? – Voltava a perguntar por vezes.
- Não.
Amanda se foi numa terça-feira de carnaval. Sua pergunta nunca foi respondida. Ela lhe deixou um chumaço de cabelo de presente. Queria que Apolinário o colocasse em sua coleção. Pois talvez quando Deus se lembrasse de leva-la, talvez se confundisse e a tomasse por gato.
Apolinário
Apolinário. Nome de velho num corpo de criança. Provavelmente se referiam ao seu espírito. Desde os 7 anos gostava de ler autores russos e alemães. Aos 9, escolheu o Fausto de Goethe como obra para ler durante as férias. Chegou a começar a ler sua redação sobre o livro, mas a professora o pediu para interromper. Era um colégio católico, citar como homens se vendem por meros caprichos numa sala de crianças não parecia correto, embora a professora bem que necessitava de alguns caprichos.
Apolinário guardou a redação. O lia toda terça para seu gato que se chamava Gato. História peculiar tinha este nome, pois quando ganhou o bichano, seus pais lhe disseram para olhar para o gato e dizer o que mais se destacava nele. Apolinário simplesmente respondeu ‘gato’, não via nada que se destacasse mais que isso. Seus pais tentaram insistir um pouco mais para que o filho tivesse criatividade. Não deu muito certo. Apenas nomes como ‘focinho’, ‘bigodes’ ou ‘orelhas’, apareceram. Ficou o nome ‘Gato’ mesmo sendo uma fêmea.
Aos 12, após migrar para autores do oeste europeu, Apolinário tirou de um livro que queria ter a morte como esposa. Ficou pensando em formas de tornar isso possível. Casar-se com alguém e depois matar? Não parecia correto, pois se tornaria viúvo e não esposo da morte. Pensou em alguma senhora mais fácil. Má Sorte parecia uma boa opção, mas não se sentia particularmente atraído por ela. Vivia relativamente bem, mas sem luxos; tinha uma gata chamado Gato; tinha orelhas grandes e cabelos negros um pouco revoltados, mas que cediam facilmente ao controle da tesoura de barbeiro. Talvez não conhecesse a Má Sorte bem suficiente para entendê-la melhor.
Tinha livros. Muitos livros. Seu pai não gostava de ler, muito menos sua mãe, mas para ambos parecia correto tê-los aos montes. Boa parte de sua infância foi ao lado deles. Gostava de pensar que eram parte de si, por mais antigos que fossem. Aos 14, fechou seu último livro e decidiu fazer amigos.
Apolinário não fazia ideia do que constituía amizade, mas achou por certo que tudo começava com conversa. Aproveitou a mudança de escolas para tentar puxar assunto com as pessoas de sua sala que ainda não sabiam de sua personalidade:
- Hoje vi um gato morto. Estava estourado, pois os carros não se preocuparam em parar de passar por cima dele.
Decerto esta não é uma das melhores coisas para se dizer em qualquer tipo de conversa. Mas é da natureza humana ser estranho aos 15. Mesmo que você já fosse estranho antes, as pessoas não notariam logo e outras até gostariam da estranheza. Assim Apolinário fez amigos e os desfez aos montes.
A adolescência o deixou impulsivo. Boa parte do tempo decidia por impulso não fazer nada. Sentava-se com os atuais amigos e ficava simplesmente os ouvindo por uma tarde inteira. Isso por vezes durava alguns dias. Quando finalmente Apolinário respondia algo que fora conversado alguns dias antes. Não gostava de guardar opiniões e parecia ter por regra dá-las nos momentos mais inadequados. Seus professores não mais lhe faziam perguntas fora das provas. Pareciam temer o que poderia ser dito.
Aos 16, viu sua já velha gata chamada Gato ser atropelada. Passou dias olhando o corpo do bicho imprimido no chão quase como uma tatuagem. Foi quando Apolinário decidiu estudar as ciências biológicas. Após sua fase de leituras, havia decidido que não havia nada dentro da alma humana ou de sua cabeça. Mas dentro do aglomerado de células que constituíam um corpo, parecia haver um universo de coisas a ser descoberto. Gostava da cor de sangue seco no asfalto. Chegou a fazer uma coleção de fotos disso que desapareceu um dia após sua mãe arrumar seu quarto.
Aos 17 ganhou seu primeiro beijo. Achou que deveria tomar a responsabilidade, mas lhe parecia ser muito novo ainda para ser pai. Ficou mais aliviado quando a viu beijar outras duas pessoas na mesma noite. Não poderiam ter certeza que o filho seria dele.
Ainda aos 17 entrou na universidade para estudar biologia. Seus pais ficaram aliviados por ele não ter decidido simplesmente ficar em casa após o ensino médio. De certa forma o temiam por algum motivo. Seria sua coleção de pelos de gatos atropelados? Ou talvez sua mania de construir coisas. Vez ou outra via um objeto interessante e logo decidia que precisava fazer um por mais simples que fosse.
Chegou a fazer um abridor de latas genial. Pena que sua tia teve metade de seu indicador arrancado por ele ao tentar usá-lo. Apolinário não achava necessário jogar o abridor fora, afinal era inocente. Culpada fora a tia por não saber usá-lo. Apolinário tentou negociar o pedaço de dedo em troca de jogar fora seu abridor, mas antes que pudesse vencer o argumento, o pedaço já estava reimplantado. Aquela tia nunca mais os visitou.
Aos 19, Apolinário conheceu Amanda.
segunda-feira, 6 de maio de 2013
Legend of Condor Heroes
Há quem ache que no oriente todos são iguais. Não dá pra dizer que todos estão absolutamente errados. Ao entrar em contato com esta obra, acho que meu maior desafio era perceber quem era quem. Eram tantos nomes, tantas técnicas. Parecia algum mangá japonês com muitos personagens que estavam ali só para constar. Até que em algum momento pegamos o ritmo. Ai aqueles personagens que eram X, Y e Z começam a ter caras e nomes. E por meio deles percebemos a evolução do personagem principal, Guo Jing.
Ele é um jovem meio estúpido porém de coração puro que cresce na Mongólia de Ghengis Khan, pois seus pais tiveram problemas com oficiais corruptos da dinastia Song. Guo Jing se envolve com a de muitos personagens reais da história chinesa, mas sem adulterar demais os fatos. O que já coloca esta obra num patamar de fan fiction histórico. Além de Guo Jing, conhecemos Huang Rong, uma bonita e inteligente jovem, que não tem uma boa noção dos padrões morais da época, ou melhor dizendo, era simplesmente mal educada.
Essa dupla vai sair por ai e se envolver em diversas aventuras numa China decadente enquanto desenvolvem seu kung fu e melhoram sua própria arte. É uma leve viagem de autoconhecimento com diversas surpresas e reviravoltas. Também há uma pitada de romance entre nossos dois protagonistas que enfrentam um pouco de tudo juntos.
É um livro leve e divertido. Nos mostra uma China bem moderna se pensarmos que no mesmo período na Europa haviam cruzadas e guerras menores. Até do ponto de vista da relação entre homens e mulheres há uma liberdade que nos deixa um pouco estranhos quando pensamos nos asiáticos de hoje. Enfim, vale a pena ser lido mesmo com um pouco de dificuldade na tradução em alguns momentos. Mas nada que ofenda demais a obra de Jin Yong.
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