sábado, 17 de maio de 2014

SuperFreakonomics

Tentar ser didático com conceitos chatos e ver economia em lugares inusitados. Basicamente, essa é a proposta deste livro. Em alguns pontos os autores conseguem ser bastante didáticos, em outros acabando falando de temas que facilmente levantam sobrancelhas, mas de modo geral eles conseguem atingir o objetivo de forma agradável. Mesmo assim, ainda é mais fácil ver esse livro como um livro de curiosidades com algum humor perverso aqui e ali.

De modo geral, este livro acaba sendo um bom ponto de partida para aumentar a visão de alguns tópicos aos quais não dedicamos muitos pensamentos. Por exemplo: prostitutas, aquecimento global, sistema de saúde e afins. Em diversos momentos encontramos polêmicas, mas a intenção nunca é ficar batendo na tecla "oh meu Deus como sou polêmico", mas tentar de algum modo analisar a situação e até propor soluções.

Por fim, pode-se de dizer que é uma boa leitura. Só não vale achar que ler este livro torna qualquer pessoa um economista. Também não vale acreditar que todas as soluções apontadas são válidas e simples como os autores sugerem. Mas com algum bom senso é possível tirar bom proveito de sua leitura.

terça-feira, 18 de março de 2014

The Idiot

Um livro épico quando se trata do quanto a sociedade pode ser odiosa com um 'homem de bem'. Não um daqueles homens de bem que podem ir em shoppings enquanto rolezeiros ficam em casa. Mas um homem que não consegue enxergar o mal nas pessoas e sempre vê o lado positivo de tudo, que se deixa enganar por acreditar que quem engana alguém precisa disso para sobreviver. Em outras palavras: um idiota.

No livro acompanhamos 6 meses do príncipe Muishkin (que na wikipedia por algum motivo está como Myshkin) e vemos toda sua inocência e caráter serem abusados e corrompidos até um final trágico. Pode passar a impressão que o comentário foi um spoiler, mas é bem claro que o conhecimento de mundo quase nulo do príncipe e sua crença quase infantil na bondade das pessoas não poderia levá-lo a um lugar muito bom.

Além disso, o príncipe não é muito bom em fazer escolhas. Assim pensa que pode corrigir quaisquer decisões que tome abrindo seu coração inocente para as pessoas. Infelizmente a realidade o maltrata. Ficamos esperando um momento onde ele poderia finalmente tomar jeito e se redimir. Algumas horas até sentimos que esse momento está vindo, mas no fim terminamos com uma grande tragédia, coisa que esperamos desde que entendemos a natureza do real problema do príncipe.

O livro nos traz também diversas pequenas discussões e opiniões da Rússia de Dostoyevsky. São opiniões que traçam uma realidade estranhamente moderna em alguns aspectos. Porém em alguns momentos essas discussões parecem saídas pela tangente de trivialidades intermináveis e terminam demasiadamente enfadonhas. Ainda assim, este livro é um bom livro e vale a pena ser lido se houver muito tempo sobrando e alguma paciência para tragédias.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

O cravo e a rosa

Dois grandes amigos já estavam lá pela quinta na mesa de um bar qualquer (e devidamente pé de escada), quando um deles deu a seguinte sugestão:

- Que tal nós dois termos filhos. Vou ter uma menina e chamá-la de Rosa. Já você terá um menino e vai chamá-lo de Cravo.

O segundo amigo um pouco frustrado por não ter sido chamado para montar um bar e confuso com todas aquelas próclises aceitou de pronto.

Rosa despedaçada.

Cravo vira servidor público. E ai do estagiário que o chamasse de doutor Cravo. Não teve filhos, não deixou para ninguém o prêmio da mega-sena acumulada.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

After Dark

Certamente há muitos livros que contam histórias de personagens que habitam a noite. After Dark poderia facilmente ter se tornado um deles, mas escolheu outro caminho. Não há nenhum vampiro ou enfoque especial nas figuras da vida noturna. Apesar de falar de alguns desses personagens, o foco aqui é mais em uma estudante que por certos motivos, opta por passar aquela noite fora de casa. O livro é a história dessa única e longa noite e dos personagens que de uma forma ou de outra interagem com essa estudante.

Mesmo com uma ideia simples, o livro de Murakami consegue nos prender e nos levar durante aquela noite que de alguma forma acaba sendo agradável e tensa ao mesmo tempo. Ficamos querendo saber mais do que acontece depois e meio que nos irrita saber que é apenas a história de uma noite. Como tantas outras de histórias similares que podem haver por ai, mas sem deixar de ter o seu charme.

É um bom livro, curto e de leitura tranquila. Nos conta de forma simples e agradável algumas histórias que podem ser verdadeiras na vida de qualquer pessoa sem buscar lugares comuns.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

The Great Gatsby

Glamour. Acho que essa foi a imagem que o trailer do filme me deu desse livro. Esperava muitas festas e um homem de estilo de vida incorrigível que iria se perder por um motivo qualquer. Uma espécie de Atlas das festas e boa vida da Ayn Rand. Mas Jay Gatsby não nos passa isso. Claro, as festas estão lá e aparentemente são lendárias também, mas sob os olhos do protagonista Nick Carraway, tudo parece meio sem importância. Jay Gatsby é um homem de um só objetivo.

The great Gatsby tenta contar a história de Jay Gatsby, um novo rico cuja fortuna tem procedência tão duvidosa quanto sua própria história. Seu passado é recheado de informações fantasiosas e que são aumentadas ou alteradas mesmo pelas pessoas que o conhecem. E por mais que suas festas sejam lendárias, ele pouco aparece nelas e quando o faz é sempre discreto. É quando somos levados a perceber que todas as ações desse riquinho possuem um objetivo bem específico e nada racional. Talvez esse seja o seu maior charme. Pensar o quão louco alguém teria que estar para fazer o que ele fez por alguém que realmente não merecia.

E ai somos levados a um drama de mentiras, traições e sangue. E leva-se um bom tempo até chegar a esse ponto. Quase metade do livro passamos vendo descrições e somos introduzidos a meio mundo de figurantes de luxo das festas americanas. Personagens que provavelmente ainda existem por ai, mas usando diferentes vestidos e marcas.

Até tenho vontade de dizer que esse romance é uma obra moderna. A história de um homem com uma ambição e contada por um protagonista aguado e quase blasé. Mas penso que esse tipo de drama por traições e desejos  dessa forma são bem datados, apesar de ainda possuírem algum charme. Trata-se de um romance curto e divertido. Vale a pena ser lido apesar de falar de um  homem perdido em um tempo perdido.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Mudança

Nunca havia ouvido falar em Mo Yan até ele ganhar o nobel em 2012. Pareceu um daqueles muitos prêmios dados para que a academia fingisse que há escritores na Ásia. O que os velhinhos que dão o prêmio Nobel talvez não saibam é que realmente  há muitos escritores na Ásia e por que dar destaque a um só? O que teria Mo Yan de especial?

Mudança é um relato autobiográfico do autor sobre vários momentos de sua vida e em como ele viu a China mudar de um Estado agrário ao que é hoje. Ele observa as mudanças culturais permitidas pela mobilidade de classes e pelas imposições do governo. Também observa como algumas coisas nunca mudam, como por exemplo a mania dos chineses de utilizarem o máximo de Q.I. (quem indique).

Mesmo assim é um bom livro para ver um período no qual pensamos que a China era composta por maoistas e comunas. E não de um ponto de vista solto ou irresponsável, mas de alguém que viveu tudo aquilo. A vida do autor é longe de ser perfeita, mas nos dá uma boa imagem do que foi a China no período em que migrou da tirania do tio Mao para o que é hoje. 

Além disso, é interessante ver certas pessoas da vida do autor influenciarem a sua criação de personagens. Até nos dá curiosidade em ler outros livros dele só para ver como são esses personagens. Enfim, é um bom livro, talvez um pouco caro para o preço, mas é bom. Só não deu para ver o que ele fez para merecer um Nobel nesse livro, but then again, é só um relato autobiográfico mesmo...

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

E Depois

Em mais uma obra que reflete as mudanças da era Meiji no Japão, Natsume Soseki nos apresenta um protagonista peculiar. Daisuke é um homem no mínimo mal acostumado. Não possui mais vergonha alguma de ser sustentado pelo pai aos 30 anos de idade e nem acha vergonhoso passar o dia sem ter absolutamente nada para fazer. Ele vive entediado, mas acredita que estaria se rebaixando a algo menos que humano se por acaso precisasse trabalhar pelo seu próprio sustento. O destino foi muito gentil com Daisuke.

Tudo que seu pai e seu irmão queriam era que Daisuke escolhesse alguém como esposa para que finalmente a desonra que ele representava fosse dirimida de alguma forma. E não era como se ele precisasse casar com qualquer pessoa. Daisuke poderia se casar com qualquer pessoa que quisesse, mas opta por tentar deixar tudo para amanhã. É um personagem que leva ao extremo a esperança de que o seu Eu do futuro resolva todos os problemas.

'E Depois' é uma leitura agradável de um personagem que recusa a dobrar seus joelhos diante de uma sociedade em transformação. Seus motivos podem não ter tão nobres, mas não deixa de ter os seus fundamentos. Mas mesmo um poço de racionalismo egoísta como Daisuke ainda pode estar sujeito a certas peças do mesmo destino que o agraciou com uma boa vida até os 30. Uma leitura muito boa que me ajudou a lembrar porque eu havia gostado tanto de ter descoberto por acaso Soseki numa dessas bibliotecas de universidade.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

The Lover's Dictionary

Quem já viu 500 days of summer vai ter uma boa ideia do que seria esse livro. Uma narrativa não linear da história de um casal sobre o ponto de vista do homem. Claro que dá para valorizar o estilo da narrativa e a beleza de algumas citações dadas com certa facilidade pelo livro. Mas sempre fica um gosto de querer saber mais o que foi que houve. De que a história fosse mais "livro", mais narrada. Não temos nem noção do quanto foi omitido quando percebemos ficamos sabendo o tanto de tempo passado. Mas isso é questão de gosto pessoal mesmo. Há quem goste de livros excessivamente misteriosos.

No geral, The Lover's Dictionary é um livro leve e tranquilo de ser lido. Só não vale os 65 reais que tentam cobrar nele por ai.

domingo, 12 de janeiro de 2014

The Kite Runner

É possível odiar um protagonista e seguir lendo um livro até o final? Facilita quando este protagonista é cercado de personagens adoráveis. E The Kite Runner é recheado deles. Acho que até um semi-vilão é adorável, porque é um vilão à moda antiga. Daqueles bem loucos, cruéis e sem redenção. Dá para odiá-lo com facilidade e ele está lá para isso mesmo.

A história começa num Afeganistão pré-guerras e mostra como as realidades daquele povo mudou ao longo dos anos. À semelhança do que aconteceu em outros lugares como China e Rússia, as diversas guerras que afetaram o Afeganistão ao longo de 3 décadas foram responsáveis pelo fim de uma cultura. Um país que sofreu tantas mudanças em tão pouco tempo parece tão perdido quanto o protagonista do livro.

Mas não podemos culpá-lo. Amir cresceu em um lar próspero e à sombra de um grande homem, o seu "baba". Teve uma infância animada e livre de certas preocupações. Mas não quer dizer que tenha sido completamente livre de culpas. Alguns dos seus atos nos dão nojo, mas ao logo do tempo tentamos perdoa-lo. Afinal, ele era apenas uma criança e todas as crianças possuem uma inocente crueldade. A partir daí, o que se segue é uma busca de esquecimento e de redenção. E que busca... A história que ela gera é sem dúvida bela.

Portanto The Kite Runner é um livro com uma história simplesmente linda. Daqueles que é difícil parar de ler e não se encantar com os desenrolares. Uma ótima forma de começar o ano.

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

On the Road

Livro repleto de descrições de paisagens, ambientes e personagens. Tantos que nos perdemos com facilidade na estrada e viagens que o narrador Sal Paradise descreve. Mas este não é um livro sobre o que o Sal pensa, acredita ou deixa de acreditar. Na prática, acaba sendo um livro sobre um outro personagem: Dean Moriarty.

E o que esse Dean teria de especial? Ele é louco e vive uma vida louca. Pelo menos é isso que achamos inicialmente, mas no decorrer do livro podemos entendê-lo melhor. Mesmo assim algo não vai mudar nunca na opinião que temos dele: ele é louco, mesmo que tenha razões para isso. Sal Paradise possui uma adoração por ele quase como se fosse um profeta dos hipsters e bums. Dean aproveita uma vida de impulsos e claro que isso nem sempre é legal ou saudável para os amigos.

Nas viagens de Sal Paradise também observamos como toda a gangue vai se acalmando e arranjando um lugar ao sol cada um a sua vez. Até o próprio Sal parecia ter encontrado seu canto, mas o Dean sempre esteve lá, quase um monumento àquilo que todos haviam sido um dia. Porém ele é egoísta, pensa no próprio estômago e na própria diversão, por mais que adore os amigos é capaz de deixa-los ao léu e resolver seus próprios assuntos. Mas quem não é egoísta? 

No ponto de vista das viagens, tudo parece realmente muito interessante e arriscado. Sair de uma costa a outra dos EUA portando apenas 20 dólares parece algo completamente insano e definitivamente é. Mas há algo de atrativo nessa insanidade. Os lugares por onde passam e as dificuldades também. Tudo parece ganhar uma cor especial. Não é um simples subir no ônibus e dormir até chegar.

Por essas e outras, essa obra de Jack Kerouac acaba sendo uma boa leitura. Talvez até um bom desafio para quem possua um carro e a conversão de 20 dólares para os valores de hoje. Afinal, estradas não faltam por ai e todas elas devem possuir muitas histórias a se contar.

domingo, 5 de janeiro de 2014

The Ocean at the End of the Lane

Uma aventura fantástica que só uma criança poderia ter. Embora isso não seja tão verdadeiro quando se fala das obras de Neil Gaiman. Todas, independente de idade, têm sua parcela de aventura e criatividade. Nesse livro acompanhamos as aventuras de um menino de 7 anos que estava no lugar errado e na hora errada, o que o leva a viver coisas que jamais imaginou que existisse para salvar a própria pele e a de sua família.

Dentro das criaturas fantásticas que ele descobre há aquelas que fascinam e aquelas que são muito perigosas. Mas gosto daquelas que são neutras, como forças da natureza. Podem ser perigosas ou não, depende de como o garoto interage com elas. E claro, há a poça d'água que sua amiga chama de oceano que é uma das mais intrigantes. Como de costume nas obras de Gaiman, não é necessário longas explicações para se notar o quão fantásticas pequenas coisas podem ser.

É uma história bonita de sacrifício e amizade. E realmente não há muito a dizer sobre ela sem estragar as surpresas. Vale a pena ser lida.

sábado, 21 de dezembro de 2013

Kindle

Sentir o papel passando pelos dedos e acompanhar o nosso marcador de textos avançar lentamente num livro grosso são alguns fetiches que só livros podem nos proporcionar. Ah, sem esquecer de que alguns livros também são ótimos em prateleiras de estantes. O ponto negativo seria que podem pesar muito e sempre há a chance de algo acontecer com nosso marcador numa hora inconveniente. Ou mesmo pode-se esquecer o livro em algum lugar ou emprestar a alguém que vai sumir com ele e nunca mais devolver.

Fico pensando como pude viver sem kindle durante tanto tempo. É fantástico poder carregar tantos livros e documentos na palma da mão de forma tão discreta que nem sinto medo em ser roubado. Afinal ninguém rouba livros, mesmo os digitalizados. Mal peguei o kindle e de repente já havia 80 livros nele. Numa leveza e conforto de leitura que nenhum livro de papel poderia me proporcionar.

Posso não substituir totalmente os livros de papel, afinal estantes precisam de sua beleza ainda, mas acho que a facilidade do kindle vai me colocar numa nova era de leitura. Portanto sugiro a qualquer pessoa que goste de ler que pegue um kindle e procure livros na internet sem medo de ser feliz.

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Diário de um Velho Louco

Em mais uma exploração aos livros asiáticos encontrei essa narrativa simpática de um protagonista nada simpático. É mais uma história onde um homem velho, perto da morte e de virilidade já vencida que procura formas de se manter vivo, coisa que faz por meio de seu diário e por uma tara que o enlouquece por sua nora.

A narrativa de Junichiro Tanizaki se dá por meio do diário deste velho. Não sabemos que pessoa ele foi e ele não é muito dado a ficar lembrando do passado. Em grande parte somos levados a observar como a tara dele vai evoluindo enquanto toda sua moral se esvai. Não há vergonha alguma em seus atos e sua nora aprende a lidar com aquilo da forma que lhe beneficie.

O que é meio triste é como o velho protagonista consegue ser vazio e covarde em relação a sua própria situação e conforme sua volúpia avança, mais parece que ele odeia o mundo e pretende ofendê-lo como puder. Enfim, é um livro para se ler com sobrancelha franzida e alguma permissividade. Afinal ele é moribundo e precisa daquilo. Também descobrimos uma infinidade de remédios e substâncias que fazem parte do dia a dia deste velho em busca de alongar nem que seja alguns dias a sua pobre e desgraçada vida.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Kappa e o Levante Imaginário

Este livro de capa tenebrosa nos mostrar um pouco porque Ryonosuke Akutagawa dá nome a um prêmio literário no Japão. Justiça seja feita, ele merece. Essa seleção de contos nos dá a oportunidade de observar vários estilos de Akutagawa. Entre humor, drama, fantasia e horror, acredito que ele se destaque mais neste último. Ele possui um pessimismo bastante moderno.

Apesar de dar nome ao livro, Kappa não é um conto que envelheceu muito bem. O país dos kappas é usado para criticar o Japão da época por comparação. Alguma coisa ou outra ainda pode ser trazida ao nosso tempo como crítica interessante, mas no geral é uma fantasia fora de moda. Ainda que tenha um final que achei interessante e nos leva a uma pergunta que não está respondida no conto. Há também um pensamento lançado quando se fala sobre nascimentos: e se fosse possível perguntar a todos que vão nascer se eles querem ou não nascer? Como seria...

Mas já os contos Os Salteadores e o Inferno são cruéis e bonitos na mesma medida. Esses dois contos são os que mais se destacaram para mim por conseguir pintar um passado onde homens são levados a crueldade por tentação ou por talento. E por piores que sejam, ainda conseguimos sentir pena deles e sentimos raiva do mundo que os criou. Não há monstros, apenas homens capazes de tudo.

No livro ainda encontramos outros contos muito bons de Akutagawa que fazem este curto livro valer muito a pena ainda que fale tanto sobre a desgraça alheia. Pode não mostrar tudo que este autor é capaz, afinal não há nenhum romance aqui, apenas contos. Mas podemos ter uma boa ideia de sua qualidade.

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Eu sou um Gato

Animal pensantes e falantes entre si. Acho que hoje seria o tipo de história que já nos deixa entediados antes mesmo de começar. Mas por ter sido escrita por Natsume Soseki no começo do século XX, damos algum crédito a mais e esperamos coisa boa de lá. Pena que dessa vez o autor me decepcionou. Este livro não é um romance como Kokoro e Botchan, ele é mais um somatório de opiniões pessoais do Soseki sobre vários aspectos da sociedade japonesa e do mundo acadêmico.

Seu personagem principal, o gato sem nome do professor, apenas fica de observador a família com a qual mora e um pouco da vizinhança. Ele começa com alguns comentários "gatescos", mas que em geral são usados para fazer críticas a sociedade mesmo. Seu dono é um professor bastante sem graça que só faz se sentir doente, ter raiva e reclamar da vida. Seu círculo de amizades envolve vários personagem com ares acadêmicos de segunda qualidade que conhecem muitos nomes, fazem muita pompa, mas aparentemente não sabem de nada. Alguns deles vão nos dar algo de cômico e real, pois são figuras que vemos ainda existir na comunidade acadêmica mesmo nos dias de hoje.

Mas toda a narrativa do livro é em função de nos levar a momentos onde Soseki dá suas opiniões sobre os casos. O que me faz sentir um pouco enganado pelo livro, mesmo que concorde com algumas opiniões expostas. Não é um mau livro, mas é bastante tedioso. Algumas situações se alongam demais e o final é bastante preguiçoso. Fiquei frustrado com a leitura e só aconselharia a sua leitura para quem gostar de tédio com raros momentos de efeito e quiser ter uma visão da sociedade japonesa da era Meiji em transformação. 

terça-feira, 23 de julho de 2013

The Rise of the Warlords

Contra a paz e o amor que reinava no mundo, Ghengis Khan, Alexandre, Napoleão, Júlio César e Átila, unem suas forças para devolver os culhões à humanidade. Enfrentando uma horda de inimigos que tentam pregar doutrinas de paz e amor, o grupo dos Warlords descobrirá que seus maiores inimigos são na realidade a economia e os jogos de influência política. Muito sangue hippie e lágrimas keynesianas serão derramados para que a guerra volte a fazer algum sentido num mundo de covardes. A paz é para os fracos.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Gosto do Barulho

Muita gente se entristece diante do momento político atual. Queriam algo mais focado. Que o protesto fosse capaz de dizer que atingiu tais e tais metas no final. É um desejo justo e sinceramente seria o ideal. Mas quando se tem tanta gente reclamando de coisas tão diversas, fica algo meio difícil de ser atingido. Mesmo que pelo menos os desejos iniciais de melhoria da qualidade dos serviços de transporte e baixa dos preços seja atingido, ainda ficaria um certo gosto amargo. Poderia ter sido mais...

Pessoalmente, não acredito que isso seja de todo ruim. O que mais gosto desse movimento todo é o barulho que promove. Quando trabalhei dentro de um Assembleia, tive oportunidade de assistir alguns protestos com uma indiferença que era natural do ambiente. O máximo que pensava era: vou sair pela rua de trás. Havia barulho, apitaço, panelaço, reclamações e no final entregavam alguma carta alguém que poderia ser lida ou não. Pouca gente acompanhava esse processo. Menos ainda via o desfecho. Sinceramente, acho que nem os manifestantes sabiam se eram ouvidos ou não.

O que dizer então de toda essa comoção nacional? Não acho que vá conseguir algo de imediato. Mas fez barulho. Gerou um ruído que muita gente ouviu. Não lembro de ter visto algo parecido por aqui; não por um motivo deste tipo. Então como não gostar desse ruído? Que façam muito barulho, o suficiente para deixar as "autoridades" com ouvido zunindo. Pelo menos esse mal podemos lhes causar. O resto só o tempo dirá. Para mim, só esse barulho já pagou tudo.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

A Casa das Belas Adormecidas

Até que ponto vai a solidão de um homem e as estranhezas dos japoneses? Este é um livro que tenta se aventurar por essas águas. O protagonista, o velho Eguchi, do alto de seus 67 anos, é convidado por um amigo a passar uma noite numa casa onde poderia se deitar com uma jovem adormecida de forma artificial. Inicialmente, pensei que a ideia era em torno do debate do estupro, mas não era bem o caso. Era uma casa para velhos afinal, muitos dos quais não possuíam mais essa vontade ou capacidade para tanto.

O que os levava até aquele lugar? O nosso protagonista fica se perguntando várias vezes sobre isso. Apenas com suas visitas consegue entender melhor aquele universo ao qual estava sendo apresentado. Naquelas mulheres adormecidas, Eguchi encontra seu passado e todas as mulheres que fez chorar. Talvez assombrado pelas lembranças dessas mulheres Eguchi se sente compelido a tentar manchar aquelas lembranças e destruí-las por meio da rebeldia contra as diversas regras do lugar. Naquela casa e naquelas mulheres ele encontra aparentemente todas as mulheres de sua vida.

Esta obra de Yasunari Kawabata é uma viagem por vezes sensual e por vezes fria à memória sentimental de um homem que conhece a proximidade de seu fim. De leitura rápida e sem muitas surpresas, somos levados a um certo asco contra Eguchi, mas talvez exista alguma surpresa cruel nesse asco. Será que todo homem pode chegar a ser como os clientes daquela casa? Suas tentações são cruéis, mas sua resistência também é ausente de qualquer glória. Por fim, é um bom livro apesar de mexer um pouco com nosso moralismo pessoal.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Dom Quixote - parte 2

Curioso o tempo que levei para ler esse livro. Já havia lido a primeira parte algumas vezes, mas por algum motivo sempre parava ali. Agora só o que penso é: Por que perdi todo esse tempo? Me arrependo, mas finalmente soube o que há por trás da segunda parte. O que encontrei foi um livro simplesmente fabuloso e estranhamente moderno. Tão moderno que faz parecer que o começo do século XVII é agora e que não mudamos nada. 

Nesta parte, de certa forma melhor do que no primeira parte, podemos trazer um pouco mais o Quixote para nossos tempos. Antes ele era um louco curioso buscando aventuras em qualquer lugar mesmo quando não houvesse alguma. Agora ele é apenas um homem velho que deseja viver o seu sonho da melhor forma possível. Muitos debocham e lhe pregam peças, mas dentro da visão dele, tudo faz parte de sua narrativa pessoal. Sua aventura segue intocada e dessa vez menos imaginativa devido as burlas que sofreu de quem sabia a sua fama de louco. Acho que talvez ai esteja o que mais me encantou nesta obra. Uma receita tão simples, mas apresentada de um modo tão perfeito por Cervantes que não há como não gostar dela.

Gosto bastante também de quando se fala de temas como liberdade, governo e sonhos. Não de um modo que nos retrata um outro período, mas sim de um modo que nos faz perceber que certas coisas fazem parte do ser humano e independente de épocas, sempre estarão presentes de uma forma ou de outra. Mesmo desejos populares ainda são semelhantes aos dias atuais. Penso que só no final me senti jogado de volta no tempo, pelo menos não de forma frustante.

Dentro dos livros de cavalaria este é talvez o mais humano de todos, ainda que possa ser considerado uma sátira e não propriamente um livro de cavalaria. Essa provavelmente foi a intenção de Cervantes. Criar um personagem ao mesmo tempo louco e discreto, que intrigasse a quem não o conhecesse e divertisse os demais. E claro que esse personagem não está só. Há quem o acompanhe e também nos ofereça momentos igualmente interessantes e divertidos: o escudeiro Sancho Pança. Enfim, é um livro que qualquer pessoa deveria ler em algum momento da vida, talvez até mais de uma vez. Há um universo de coisas nas duas partes do livro e as diversas impressões que pode nos passar o torna ainda mais atrativo. 

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Amanda

- Por que você não têm cabelos?

Por mais que ser estranho numa universidade seja algo bem aceito e até almejado, existem tópicos que não devem ser tocados. Ao fazer a singela pergunta, Apolinário tocava em alguns deles. Claramente, Amanda tinha um problema e seria sensível não apontar para ele. Pena que sensibilidade nunca havia sido um forte em Apolinário.

Sua pergunta lhe rendeu uma parceria para um trabalho em grupo. Este sempre foi um ponto fraco seu, pois poucos queriam trabalhar com ele e quase ninguém voltava a trabalhar após uma primeira vez. O trabalho foi satisfatório, mas a pergunta nunca foi respondida.

Amanda, no entanto, não se distanciou após o trabalho. Ela era do curso de economia, mas por algum motivo estava ali em biologia. Poucas pessoas deixaram Apolinário confuso como Amanda o deixava. Ela sorria e chorava com muita facilidade. Certa vez num dos momentos de choro, Apolinário perguntou se ela queria ver sua coleção de pelos de gatos imprimidos no solo após atropelamento.

Amanda odiava gatos. Achava injusto que tivessem 7 vidas enquanto ela tinha apenas uma e não muito boa. Geralmente quando reclamava de gatos estava reclamando de sua própria vida. De alguma forma acreditava que se fizesse muito isso, Deus a colocaria no corpo de um gato em sua próxima vida como castigo, mas esse era seu desejo. Ela aceitou na hora.

- Não é estranho que tudo termine em morte?
- Não.

O que aquilo tinha a ver com a coleção, pensava Apolinário. Amanda por vezes surgia com essas conversas. Para Apolinário ela tinha uma obsessão em achar estranheza em coisas naturais. Ela o beijou algumas vezes. Dizia que não se podia ter filhos por beijos. Mesmo assim Apolinário ficava mais tranquilo ao vê-la beijar outras pessoas no final de semana. Nem sempre eram homens, mas pelo menos quando o filho viesse, não poderiam dizer ao certo se era dele.

Apolinário nunca havia notado como sua cama era confortável. Ou talvez as outras pessoas não soubessem escolher camas. Amanda não deveria saber, pois vinha dormir na sua com muita frequência, às vezes durante o dia mesmo. Nessas horas Apolinário gostava se aproximar e observar a ausência de pelos em sua cabeça. Ele não entendia porque ela não a cobria. Parecia querer mostrar algo que não estava ali.

- Não é estranho que tudo termine em morte? – Voltava a perguntar por vezes.
- Não.

Amanda se foi numa terça-feira de carnaval. Sua pergunta nunca foi respondida. Ela lhe deixou um chumaço de cabelo de presente. Queria que Apolinário o colocasse em sua coleção. Pois talvez quando Deus se lembrasse de leva-la, talvez se confundisse e a tomasse por gato.