segunda-feira, 30 de abril de 2007

Esse é ruim mesmo, mas nem me importo


Chove lá fora. Ainda bem. Carro fechado. Desembaçador ligado. Um abafado infernal. Tão abafado e tão infernal quanto as buzinas lá fora. Por que todos eles se incomodam tanto comigo? Só vou roubar-lhes um minuto de suas vidas no máximo. E nesse mesmo máximo, posso estar salvando a vida de alguns e matando outros. Tudo é um monte de possibilidades mesmo.
Por exemplo: qual era a minha chance de passar no semáforo amarelo? Zero. Mesmo assim passei porque não dava para parar. O que é uma mentira, pois dava, minha pressa me levou a me arriscar. Agora me arrisco a sofrer uma multa e a sujar o nome de meus ancestrais. "Mamãe vai bem?". "Vovozinha criou, né?", devem estar gritando lá fora. Já conheço os xingamentos. São normalmente os que faço quando estou do outro lado.Por que estava com pressa mesmo?h sim. Pegar os meninos na escolar e levar para o médico. Eu deveria ter pensado num motivo mais nobre para sofrer uma multa. Tipo, salvar o mundo ou simplesmente minha avó com parada cardíaca. Correr da polícia era uma boa também, apesar de não ser nobre.Nobreza é uma coisa que está em falta no trânsito. Tenho certeza que se estivesse numa Inglaterra, o máximo que me aconteceria seria a aproximação de um senhor de postura perfeita, numa farda azul quase negro e bigodes volumosos dizendo: "O senhor está cometendo uma infração e atrapalhando a vida dos outros usuários do trânsito. Por favor, seja um gentleman e não repita mais esse ato terrível. Aqui está a sua multa, obrigado".Mas não. Estou no Brasil. Já vejo uma figura com bucho de chopp, farda cor de barro seco e bigode ralo e desigual. Já vou deixando a carteira no banco do passageiro. Logo terei que consultá-la mesmo. É tudo questão de costumes e práticas. Mas que diabos?! Essas paradas forçadas levam a gente a pensar em cada besteira!E o pior é que ainda vou me atrasar.ps: outro teste do Office.

sexta-feira, 27 de abril de 2007

O Livro das Fábulas


Bem, dessa vez vou começar pela imagem e pelas descobertas que ela me trouxe. Desde que recebi algumas visitas atrás de capas de Saramago, ando colocando as capas de livros que ando lendo. É até bom para ver a colocação do livro no mercado e algumas considerações sobre eles. Ou então só para descobrir o quão desconhecido é o livro, como aconteceu no caso do livro de um carinha lá da federal. Ele praticamente não existia na rede. Mas isso já era esperado.

No entanto não esperava que essa capa ai do lado fosse trazer o mesmo problema. Afinal, tratava-se de Hermann Hesse, o grande autor de Sidarta, O Lobo da Estepe, Demian e mais outros merecedores de top ten (minto, top five) para qualquer um. É claro que qualquer livro desse cara tem que ser famoso.

Mas não. Estava errado. Quando achei esse livro sujo e empoeirado numa estante cheia de livros sujos e empoeirados na casa de minha avó, fiquei eufórico. "Nossa! Um Hesse! É meu!". E levei esse mais outros livros que ainda vão aparecer por aqui vindos daquela estante cheia de livros sujos e empoeirados. Mas vou fazer o possível para eles aparecem mais limpos, ou ao menos menos sujos.

Mas voltando: estava errado. Fui nas grandes livrarias e não achei nem o verbete desse livro. A busca "Hesse+Fábulas" trouxe-me tudo menos ele. Até que arrisquei-me em outras línguas. A primeira em que achei algo próximo foi a dos nossos irmãos que diferem de nós apenas nos actos (ou seria nos factos?). Em uma editora portuguesa existia três livros de contos, inclusive contos que Hesse escreveu com 10 anos de idade. Link pra quem quiser gastar. Mas nada desse livro ai de cima.

Então desisti de tudo e fui no google procurando agora na língua da amazon "hesse+fables". Finalmente a amazon surge com a capa e o livro por uns 10 doláres. Não sei nem se eles sabem que livro é ou se existe lá apenas a foto. Mas que era Fairy Tales, era. E a Capa também não mente. Ela representa a história de "O Anão", a melhor na minha opinião.

O livro é a reunião de vários contos e quase nenhuma fábula. Muitas tratando do tema religioso e de uma moral quase sempre inevitável (tudo bem, são fábulas...). Mas ficar lendo a história de santos que quase se perdem por causa de pãezinhos com gosto de surpresa, não é lá muito minha praia. Aliás nem gosto de praia.

Mas o livro é muito bonitinho e encantador. Mesmo os santos, os históricos e os inventados, são personagens interessantes que nos fazem torcer a seu favor. O único personagem que reamente achei odioso, foi a esposa de um fazendeiro que o seqüestrou e o mandou para índias orientais como marinheiro semi-escravo, só porque ela o achava gordo. Ela merece raios na cabeça.

Uma coisa legal é que Hesse em pelo menos três momentos faz contos sobre o fazer dos contos. Dá margem até a algumas idéias de como ele fez esse livro e de como ele não poderia ficar de outra forma. É a obra de um mestre. Está no meu top five, ganhando posições a cada livro que leio.

Além disso, este livro realmente merece a leitura (se você conseguir encontrá-lo em uma estante sujo e empoeirada na casa de sua avó).

Ai vai uma pitada:

"- Vossa senhoria deve ter um pouco mais de paciência. Uma boa história é como uma boa montaria. A caça brava vive escondida e é preciso armar emboscadas e ficar de tocaia horas e horas a fio, na boca dos precipícios e florestas. Os caçadores mais apressados e impetuosos afugentam a caça e nunca obtêm os melhores exemplares. Deixai-me pensar..."

sábado, 14 de abril de 2007

Tender is the Night


Macia é a noite. Nome de novela mexicana do SBT. Já em inglês o nome é muito mais forte e sonoro. Tender is the night. Com um sotaque carregado alemão ficaria ainda mais sonoro, Tenderrrr issss der neeit!

Antes de falar do livro propriamente dito, preciso dizer que ele me leva a dois insights. O primeiro é derivado do nome. Não conseguia deixar de ouvir Strangers in the Night quando o lia. No ônibus, na chuva, no carro, no avião, na cama, no chuveiro, onde eu lia o livro, começava logo a tocar a música na voz de Frank Sinatra. Ela se encaixa bem ao livro, mas não exatamente. O segundo insight já vai mais no livro e mais no personagem central, mas antes é preciso dizer algumas coisinhas.

Nas primeiras trinta páginas somos bombardeados por nomes, lugares e descrições que colocam esse início quase do nível do Senhor dos Anéis. É um começo chato até você perceber que a narração está em Rosemary Hoyt, uma atriz recém-famosa, e até esta frase surgir:
"He looked at her and for a moment she lived in the bright blue world of his eyes, eagerly and confidently".
A partir daí a história muda e muito. Primeiro porque Rosemary não é a personagem central, mas é aquela que causa a mudança no Dick Diver, um jovem doutor psicanalista que sofre uma verdadeira metamorfose até o fim do livro. É ai onde tenho o meu segundo insight. Dick Diver, com um nome desses ele é exatamente aquilo que o nome sugere, de forma bem pevertida. Mas isso era um comentário desnecessário, whatever...

Desnecessário o caramba! Isso é a essência do livro e essa é a necessidade do personagem Rosemary. Ela surge para mostrar o quanto o casal Diver era lindo, perfeito e amável. Todos os amavam. Principalmente a Dick, que surge como o primeiro promoter per si da história. Não era a riqueza que os atraíam, pois todo mundo é no mínimo podre de rico no livro, mas sim a personalidade do casal. Sua capacidade de solucionar problemas e de se infiltrarem na mais high society como se ela fosse um jardim de infância. É, eles podiam fazer isso.

Como trama, Dick, Nicole e Rosemary estabelecem um triângulo amoroso que consome toda uma relação perfeita. É o que alimenta a transformação de Dick. Esse amor que ele sabe que não pode dar a Rosemary e que é incompleto para Nicole. Isso o consome até o terceiro volume, dedicado a ele.

Os três volumes que compõe o livro poderia ser vistos assim:
1 - O brilhante casal Diver na sua magnitude, visto por Rosemary.
2 - Instrospecção em Dick, o psicanalista, e as razões de sua mudança.
3 - O triste casal Diver e a queda de Dick, visto por vários.

Chamem-me de spoiler, mas fica bem claro no livro que toda essa agitação do entre-guerras. Uma agitação bem norte-americana, mais ou menos o período em que eles percebem que não são mais ingleses e que começam a se achar algo mais que eles. Tudo sai bem natural, bem ao modo de que não poderia ser de outro jeito por mais que você torça.

No mais, vale as horas de leitura e para variar aconselho a versão inglesa, pois até o francês e o italiano soam mais natural nelas. Fora Fitzgerald gosta de escrever alguns sotaques esquisitos, mas reais. Claro que ele faz de forma legal e não como muita gente por ai que acha o máximo escrever "jaum" e "naum".

Algumas citações para dar um gosto, vão do modo que estavam no livro:

"I want to give a bad party. I mean it. I want to give a party where there's a brawl and seductions and people going home with their feelings hurt and women passed out in the cabinet de toilette. You wait and see".

"See that little stream - we could walk to it in two minutes. It took the British a month to walk to it - a whole empire walking very slowy, dying in front and pushing foward behind. And another empire walked very slowy backward a few inches a day, leaving the dead like a million bloody rugs. No Europeans will ever do that again in this generation".

"It sound nonsense to me."
"Maybe it is, Dick. But, we're a rich person's clinic - we don't use the word nonsense..."

Meanwhile he had projected a new work: An attempt at a Uniform and Pragmatic Classification of the Neuroses and Psychoses, Based on an Examination of Fifteen Hundred Pre-Krapaelin and Post-Kapaelin Cases as they would be Diagnosed in the Terminology of the Different Contemporary Schools - and another sonorous paragraph - Together with a Chronology of Such Subdivisions of Opinion as Have Arisen Independently.

terça-feira, 10 de abril de 2007

anônimo

Atendo o telefone
- Gostaria de falar com a "sua mãe" (na verdade, ele disse o nome dela, mas nome de mãe deve ser protegido sempre)
- De onde fala?
- Da Comissão de Energia Nuclear.

OH! Minha mãe é uma fuckin' terrorist! Agora entendo porque ela não gostou de 300.

domingo, 1 de abril de 2007

Testando o Office 2007

Isso aqui vai mais como um teste para esse novo Office legal e bonitinho que a Microsoft fez. Até agora a única falha encontrada foi o preço. Com isso não há inclusão digital que dê certo.



Mas vamos falar mal um pouco da Globo e da Xuxa, que são duas entidades malignas entre os adeptos das artes sócio-acadêmicas. Sinceramente cada vez mais a Globo piora a sua seleção para a sessão X da Xuxa e os novos desenhos que começarão em Abril também prometem uma ruindade sem igual. Ok, eu exagero, nem todos os que já passaram por aquela sessão são ruins. Desses, eu retiraria:


Bob Esponja: um pop mundial; se chegou na Globo é porque o sucesso era garantido. Quase como um Simpsons. Só que um pouco mais quadrado.


Danny Phantom: Um achado interessante da Globo. Um menino que ganha poderes de fantasmas e vai tendo problemas em controlá-los para poder vencer diversos adversários fantasmas. O que é interessantes é que de fato todos os fantasmas são poderosos de um certo modo e todos oferecem um certo desafio ao Danny e seus amigos. Bom achado...


Jackie Chan: O melhor desenho já encontrado pela Globo. Constituído por quatro ou cinco sagas, envolvendo muita magia, artes marciais e personagens marcantes como o Tio "Mais uma coisa!", a Jade "Dã ã" e o próprio Jackie.


Além desses teria aquele das Espiãs, mas o problema é que depois de três episódios ele se torna chato...


Agora o que ninguém mais agüenta ver é Power Rangers de novo, nem animes censurados (Dragon Ball). Pelo amor de todos os deuses, desistam deles Globo! Desistam deles crianças! Até os japas desistiram de produzir seriados estilo Power Rangers, porque os produtores deles não aprendem também?


(ps: Sim! Funciona! Só preciso aprender a editar agora...)

terça-feira, 20 de março de 2007

Raise High the Roof Beam, Carpenters and Seymour: An Introduction

Pra cima com a viga, moçada e Seymour: uma introdução são dois contos que compõem um livro estranho. Basicamente o primeiro tem um título que não faz o menor sentido. Trata do casamento de Seymour e todas as confusões que decorrem delepor parte de seu irmão Buddie. É uma história sobre o Seymour, mas sem a sua aparição. Um livro meio estranho com um grupo meio louco que discute sobre Seymour e sobre o passado dele e de sua família. Foram sete irmãos gênios na infância e isso aparentemente os deixou meio estranhos para com o mundo.

Uma curiosidade desse primeiro conto é que todos os irmãos tiveram oportunidades de estudar e se formaram, aparentemente, mas apesar disso três deles pelo menos (Seymour, Buddie e Booboo) entraram no exército por algum motivo não muito bem esclarecido, mas parece que foi por opção própria. Sinceramente não entendo porque alguém que estudou qualquer coisa entraria no exército por opção própria, mas releva-se. Eram tempos de guerra.

Já Seymour: uma introdução é uma outra história sobre Seymour sem a sua aparição contada novamente pelo seu irmão Buddie. Só que desta vez ela ganha um caráter de ensaio sobre Seymour. Chamem-me de conservador, mas fazer ensaios sobre irmãos não é lá uma atitude normal. Mas até que aparecem umas frases legais e umas viagens interessantes. Mas nada digno de citação.

Enfim, não acho que essa minha introdução a J. D. Salinger foi muito produtiva. Deveria ter procurado uma edição decente de Catcher in the Rye (Apanhador no campo de centeio) mesmo. Pelo menos esse me disseram que é bom.

segunda-feira, 12 de março de 2007

Para medir desse jeito, nem precisava...

A Medida das Saudades é um livrinho escrito por Geraldo Pereira, médico e professor, que parou no tempo e considera uma coisa surpreendente as facilidades de um computador, apesar de achar mais romântico o velho manuscrito. Enfim coisas que só podem ser vistas em livro de Editoras Universitárias...

É realmente muito chato quando algum conterrâneo seu consegue espaço para publicar algo por meio da editora universitária e aproveita isso para fazer um livro de crônicas de jornal. Pior, é um livro de crônicas sobre um passado do qual apenas uns fósseis restaram (okay, não vamos ser tão exagerados. Mas é preciso fechar os olhos e ter uma boa memória para se lembrar daquilo que ele fala). Pior, alguém deve ter dito que o primeiro texto estava bem escrito e acabou forçando o autor a fazer todo o resto igual. Ou pior, achar que "dez bolas de soverte a um real/ tragam a vasilha / tragam a vasilha / é o sorveteiro barateiro" é menos poético e pior sonoramente que um "xeeeeeeeeeeeeera / olha a macaxeira boa". It makes me sick.

Mas tudo bem, há sempre algum regionalista bicho-grilo cheio de saudades que lê jornal esperando ver essas coisas do passado deles, ou que pelo menos eles acham que foi deles. Boa leitura para esses.

Que venha Fitzgerald ou Hesse!

sábado, 3 de março de 2007

Clássico Over Rated?

Alice no País das Maravilhas e Através do Espelho são bons? São. Mas não é metade do que dizem por aí. Sem dúvida é uma viagem muito louca para lugares onde a ordem é o que não tem ordem(ou seria o contrário?). Há também muitos personagens muito caricatos, como o Chapeleiro Maluco, a Rainha descabeçadora, o Gato que ri e desaparece e por ai vai. Personagens que ficaram famosos, aliás, pelo belo filme que a Disney fez, misturando um pouco os dois livros, mas seguindo no geral o enredo de O País das Maravilhas.

As imagens e cenários são tão caricatos que parecem que foram pensados, anotados e no fim compilados numa mesma história sem continuidade. O que vale é a loucura. A loucura da imaginação da menina mais centrada com 7 anos que irá existir. Ela faz jus aquela história que dizem: "Os ingleses já nascem velhos". Eu diria que Alice nos seus 7 anos tem pelo menos uns 15.

No fim, toda a viagem sobre loucura, mudanças pessoais e identidade termina num sonho... talvez o fato de tudo ser um sonho fruste nossas espectativas de que tal lugar maravilhoso exista, mas creio que poucas pessoas sonham de forma tão fantástica como Alice. Penso que ai esteja o tchan da história.

Como foi dito em Orgulho em Preconceito: "Solte as rédeas da sua fantasia e entregue-se à sua imaginação, para vôos mais arrojados".

Já Através do Espelho é um pouco diferente. Ela entra no Espelho e acorda na frente do mesmo. Toda sua aventura através do espelho não é um sonho, mas também não deixa de ser um. É como se por um segundo ela tivesse vivido horas naquele país do lado de lá.

Também há muitos personagens caricatos. Como o Cavaleiro Branco e o Humpty Dumpty, entre outros. Mas dessa vez o roteiro é mais linear. Ela vai atravessando um tabuleiro de xadrez até chegar na oitava casa, onde Alice é coroada. Claro que é um tabuleiro muito louco que de repente sai mudando as formas e os lugares. Mas Alice sai acompanhando as mudanças, ao contrário do primeiro livro, onde ela quer mudar para atingir certos fins.

Mas chega de introspecções e filosofias. Basta saber que são dois livros muito loucos, que ficam entre o bonito e o engraçado. Um clássico infantil, sem dúvida. Mas talvez não seja tão infantil assim. Vale a pena ler e reler.

ps: Aconselho a versão inglesa, pois Lewis Carroll faz muitos trocadilhos que se perdem na versão portuguesa. Fora as músicas e os poemas que são impossíveis de se transferir em rima e verso. O parte do Humpty Dumpty mesmo, perde totalmente o sentido se trazida ao português. Enfim, é um clássico da literatura inglesa e como tal ele deve ser lido em inglês. Quem não souber, aprenda para ler.
pps: Por que eu disse que eles não são nem a metade do que dizem? Porque tem gente que simplesmente idolatra esses livros. Eles são bons, mas não merecem idolatria. Ou seja, roubando a expressão do garoto singelo, ele é well rated.

Citações:
- Alice's Adventures in the Wonderland
"All right," said the Cat; and this time it vanished quite slowy, beginning with the end of the tail, and ending with the grin, which remaind some time after the rest of it had gone.

"If you knew Time as I do", said the Hatter, "you wouldn't talk about wasting it. It's him".

- Through the Looking Glass
The Red Queen shook her head. "You may call it "nonsense" if you like." she said, "But I've heard nonsense, compared with which that would be as sensible as a dictionary!"

"It's a poor sort of memory that only works backwards," the Queen remarked.

And certainly the glass was beginning to melt away, just like a bright silvery mist.
(qualquer semelhança com Matrix, não é mera coincidência)

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

Diretor X do Rubem Fonseca


Ele chamou Orson Welles de ignorante. Não, ele fez mais que isso. Ele disse que o bom de Orson Welles era sua ignorância sobre o cinema. Nada demais, mesmo assim foi dito de forma legal, por isso é bom. O Diogo Mainardi poderia ter dito isso, porém foi outro brasileiro que o disse no fim dos anos 80.

Rubem Fonseca conta em "Vastas Emoções e Pensamentos Imperfeitos" (parece nome de ensaio de filósofo alemão, não?) as histórias de um diretor medíocre sem nome que se involve do tráfico de jóias até o tráfico de livros. Não, não é um livro sobre tráfico. Na verdade é interessante ver como o diretor X está pouco se importando para as ameaças que sofre e apenas fica pensando em algum escritor judeu soviético morto. E olhe que ele é um garanhão de novela das oito, daqueles que com um olhar tranformam a Sibéria em Copacabana.

O livro envolve uma porção de comentários sobre o cinema zuando uns e elogiando outros. Parece bastante com aulas de cinema de Centros de Artes e Comunicações que proliferam com o Brasil. Claro que nessas aulas os cinéfilos não passam de um "sabe hiroshima mon amour? Poisé, já vi". Isso me lembra que Rubem Fonsecar também não sai dessa superficialidade. Mas penso que ele seja melhor que o aluno cinéfilo barbudo.

No mais têm umas paradas de sonhos muito viajadas. Sonhos sem imagens, embora tenham cor e tudo, mas não imagens. Também há as pausas para roteiros mostram o que certamente não vai acontecer, mas de uma forma que ficaria legal num filme trash qualquer.

Yo! Vale a pena gastar tempo lendo esse.
Citações para dar um gosto:

"Tenho aqui no bolso uma caixa cheia de pedras preciosas que eram de uma mulher que foi assassinada; meu apartamento foi assaltado e mataram o porteiro; um sujeito sinistro de capa anda me seguindo, mas não estou pensando em nada disso."
"Está pensando em quê?"
"Num escritor se considerar o mestre do silêncio."
"Quer falar sobre ele?"
"Quero."

Sonho: Um vento fresco desmancha os ralos cabelos grisalhos do homem. A mulher se esconde do vento, mas não da luz da manhã que rutila nos brilhantes espalhados pelo seu corpo. "Que foi isso?", pergunta o velho acordando da sua modorra. "Foi um cachorro, senhor", diz o motorista. "Matamos um cachorro?" "Não pude evitar, senhor." A mulher diz: "Feche a janela, ligue o ar refrigerado". "Isso é que é o ruim de ser velho", pensa o velho, olhando para trás, através de lágrimas, "cheio de dinheiro e choramingando por um cachorro morto."

sábado, 24 de fevereiro de 2007

Blindness

Ensaio sobre a cegueira nos cinemas. Mais um filme feio e sujo. O livro é bom por causa de Saramago, mesmo assim é visualmente feio. Agora o Fernando Meirelles vai fazer um filme sem o Saramago e só com as partes feias. Filme de cegos... sei não, hein. Não há bom restrospectos sobre eles.

Outro ponto é que mal dá para imaginar o livro sem a língua portuguesa. Ele será em inglês, a língua (das ocidentais) que certamente menos se adapta ao estilo do escritor tuga. Nisso que dá fazer uma co-produção Japonesa-Brasileira-Canadense... fico imaginando quando for passar dublado na sessão da tarde do Japão. Vai ficar no mínimo estranho.

Vamos esperar pelo resultado agora.

links:
Notícia da Globo.com
IMDB

Ah, a capa do livro para todos os que vem aqui procurar.

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007

É Carnaval

Saldo atual do meu carnaval:
- Alguns reais a menos
- Algum álcool a mais no sangue
- Menos cerveja, vodka, vinho, cerveja de novo, Jurubeba e coisa estranha de pêssego no mercado.
- Um corte profundo no indicador ao falhar em tirar aquele aro de metal de uma lata de cerveja.
- Uma infecção feia em outro dedo por não cuidar dela a tempo
- Um dedão roxo por causa de uma cadeira dentro da piscina
- Zero ressaca
- 1 livro quase lido
- 1 anime inteiro assistido
- Alguns telefones a mais
- Alguma memória a menos
- Mais coisas a serem editadas mais tarde

ps:
- Mais dores de cabeça não-alcoólicas
- Mais "Eu deveria ter dito..."
- Mais "Eu não deveria ter dito..."
- Mais "Nunca mais eu bebo!"
- Mais problemas.

tsc, que carnaval cruel!

pps:
- Mais um filme. Ai vai uma quote:
Reginald Fleming 'R.J.' Johnston: Words are important.
Pu Yi, at 15: Why are words important?
Reginald Fleming 'R.J.' Johnston: If you cannot say what you mean, your majesty, you will never mean what you say and a gentleman should always mean what he says.

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

Novo Blogger e coisas a parte

Visualmente mais feio e cheio de curvinhas anos 90. Bom retrocesso para o blogger. O que é uma pena já que o google sempre foi bonitinho com os designs.

Ops, mas sempre me esqueço que tenho de pensar nos leitores, mesmo que só haja 1. Neste caso eles não vêem o que eu vejo; e quanto a isso só posso dizer que não perderam nada. Então vamos ao uso.

.....

Voltei as leituras numa nova era Mises. Talvez fosse melhor voltar a uma seriedade depois de todo um peso da era Saramago. O primeiro da lista foi The Ultimate Foundation of Economic Science, que segundo o prefácio teria sido o último desse monstro liberal.

Basicamente este livro é um ensaio contra o positivismo e contra o empiricismo, levando totalmente de grátis e sem custo adicional o socialismo, claro. Ele mostra por A mais B mais C mais D mais Etc, porque a economia enquanto uma ciência humana não pode ser entregue àqueles que só conseguem ver o mundo por sensações já existentes e que não conseguem pensar nem aceitar um axioma. Todo a priorismo é falso para esse povo e é por isso que o monstro liberalista cospe pedras e chamas em todos eles.

No mais destaco um capítulo curto, mas muito legal de nome "Reality and Play". É uma definição muito bonitinha e ilustrada da teoria dos jogos. E até surpreende por nem refutar, nem atacar, era como se Mises dissesse nesse capítulo "Olha só que estranho!".

ps: Decidi colocar umas quotes do livro:

"When I once expressed this opinion in a lecture, a young man in the audience objected. "You are asking too much of an economist," he observed; "nobody can force me to employ my time in studying all these sciences." My aswer was: "Nobody asks or forces you to become an economist"."

"There is no concious response of man to any stimuli that is not directed by understanding".

"Whereof one cannot speak, thereof one must be silent" (citando Wittgenstein).

"They simply passed over the fact that men are not angels" (sobre os anarquistas).

"... an institution whose essential function is the employment of violence" (sobre o governo)

terça-feira, 30 de janeiro de 2007

Fim de um Tempo

Finalmente dei fim ao final de minha já finda fase Saramago, com o saldo de 5 livros terminados e 2 desistidos. Ou seja, 7 livros lidos. Só tenho alguns comentários quase rápidos a fazer sobre os dois últimos e assim não devo citar Saramago por um bom tempo. Eu sei, eu sei, mas vou tentar.

Ensaio sobre a Lucidez leva-nos a pensr sobre o título durante toda a leitura algo do tipo: "É esse mesmo o título? I wonder". Até que é um bom livro, tem todo o estilo Saramago de ser e dá um ponto final no Ensaio sobre a Cegueira. A idéia é imaginar o que aconteceria se 83% da população votasse em branco e como aqueles que tem o Estado na mão (notadamente os do Partido de Direita) reagiriam à situação. Aparentemente o único que tem problemas com lucidez é o Ministro do Interior que praticamente declarou guerra à população. Mas todos vão se apercebendo dessa falta de senso até o final, que, por sinal, não é feliz. O ensaio sobre a Cegueira é visualmente triste e sujo, já este Ensaio sobre a Lucidez é moralmente sujo, eu diria que chega a ficar imundo, mas sempre no plano do poder, claro. Comunista demais pro meu gosto.

O Evangelho segundo Jesus Cristo poderia ter como subtítulo: Um Jesus como nunca se viu. Bom para a sessão da tarde nos dias santos. Após 2000 anos de cristandade e mais uns 100 de pós-modernismos fica difícil fazer algo legal com uma história tão cansada. E ainda por cima o livro é imenso demais para meu ócio criativo.

Agora Lewis Carroll que me aguarde.

.....

Um aviso aos navegantes:
Nunca mais escrevo a palavra pedofilia por aqui. Ela só tem atraído tarados de diversas regiões do globo. A esses gostaria de aconselhar que há muita sacanagem com mulheres perfeitas pela net (e você ainda escolhe o tipo: se negras, asiáticas, louras, morenas, ruivas e por ai vai). Portanto que tal deixarem as criancinhas em paz? Isso é muito feio ouviram?

terça-feira, 9 de janeiro de 2007

Com anos novos sem Sadam e com proibições de Youtube no Brasil, acabo notando que há algo errado aqui também. Por Zeus, só falo de livros e de Saramago por aqui! Viram? Minha intenção era não passar nem perto deste nome e olhe como ele me sai naturalmente. Preciso me vigiar.

Além dessa autocrítica vai uma outra crítica bobinha, mas legal que vi por aí:

quinta-feira, 4 de janeiro de 2007

Triste Ano Novo

Ano novo, caneta nova. Pena não poder levar essa metáfora aos blogs (afinal nem metáfora isto é). Por aqui devo dizer algo tipo "ano novo, fonte nova" e é só por isso que hoje usar essa fonte brega. Mas não é sobre isso que eu iria falar.

O caso que deu nome a este post foi uma decepção que me foi dada por Saramago. Depois de muita euforia com Intermitências da Morte e com a Jangada de Pedra, tive a infelicidade de escolher Ensaio sobre a Cegueira para dar continuidade à minha fase Saramago de leitura. Triste escolha. Não é que o livro seja ruim, pois ele é um autor de qualidade tanto em conteúdo quanto em estética (mas há o bagulho das vírgulas, é verdade), mas é um livro triste, sujo e desesperador.

O Mal Branco que levou o país à cegueira, levou as pessoas ao estágio de animais. Isso mesmo, de forma diferente, Saramago acabou se rebaixando ao nível de Jack London (cuspe ao chão) com o seu Call of the Wild. Ele nos dá vontade até de refletir e assistir palestras pseudo-filosóficas promividas por DAs. Eca!

Para se redimir de tal crime à sua carreira, foram precisos muitos livros bons, ou pelo menos alguns excelentes. Por enquanto Todos os Nomes vem me recuperando de tal abalo pela excelência que possui. Pense num funcionário de um grande arquivo público (bem aos moldes do FMDO de os Aspones) que possui um complexo de burocratização ou de sei lá o que mais. Tente pensar no que ele é capaz de fazer por... nada.

Esse sim não deixou meu ano novo tão triste. Ah, e também a caneta que além de nova é boa (coisa rara, hein).

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Gostaria de Solicitar 1 minuto de silêncio pela morte do maior estadista moderno do Oriente Médio: Sadam Hussein. Com sua conduta e mão forte, este homem permitiu a criação de milhares de obras cinematográficas que animaram as sessões da tarde de milhões de brasileiros durante as décadas de 80 e 90. Certamente foi uma grande perda para a indústria cultural norteamericana.

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Um ps do post anterior que omiti por omissão. A contra-capa deixa bem claro que a pessoa que a fez leu apenas 15 páginas do livro, pois Charles Bingley não vai pensar nem em orgulho muito menos em preconceito. Ele também não é o protagonista, motivador talvez, mas não protagonista, posto defendido por Mr. Darcy que de fato faz as reflexões propostas pelo título de Jane Austen. Ah, Mr. Darcy, como as pessoas se enganam a seu respeito!

quarta-feira, 3 de janeiro de 2007

Natal com Jane Austen

Muitas autoras brasileiras fazem a credibilidade das escritoras cair por terra. Clarice Linspector e Cecília Meireles lembram tudo aquilo que deveria ser esquecido pela literatura. Mas vá lá, ainda têm um pontinho devido à vanguarda modernista, ou melhor, a vanguarda tem um ponto, elas não. Nem tudo que é novo é bom.
Uma demonstração dessa verdade é o livrinho que li de Jane Austen. Ela já é bem velhinha, ao ponto de já não estar mais entre nós já há alguns anos, já o livro é mais novo. É um daqueles livros brancos de coleção da Abril Cultural que pode ser encontrado em qualquer lar largado pelos cantos mais diversos da casa. No meu caso acabei achando-o por trás de uma fileira de livros mais antigos, agora como ele foi parar lá certamente daria um romance. Mas voltando ao ponto, coisa da qual eu não deveria ter me afastado, Jane Austen é velha e é ao mesmo tempo boa. Melhor do que boa até, ela consegue ser ótima com uma história apaixonante de um clássico amor liberal inglês do século XVIII (ou seria XVII?). Penso que muitos autores de novela até hoje se contorçam de ódio a Jane Austen por ela ser tão melhor do que eles. Por causa disso a já citada coleção da Abril Cultural entrou com uma relativamente nova contra-capa do livro que levaria até o melhor leitor a desistir do intento de lê-lo. Aqui vai, mas não se frustem por causa desse pequeno mal exemplo de contra-capas:
“A permanência de Charles Bingley no pequeno condado Hertfordshire causa inquietação entre as moças solteiras da região. Rico e refinado, Charles é uma espécie de futuro marido ideal para as famílias locais. Apaixonado por uma jovem de origem modesta, seus sentimentos são contraditórios: oscilam entre o Orgulho e Preconceito de sua classe social. Retratando a vida provinciana no século XVIII, Jane Austen conseguiu criar um clássico da literatura inglesa”.

Não é preciso dizer porque Jane Austen merecia algo melhor. Será que não dava para fazer contracapas dignas dos livros do passado, ou é tão difícil ser novo sem ser ruim?

......

Vou fazer alguns posts meio fora de tempo, mas que não devem ser esquecidos.

quinta-feira, 14 de dezembro de 2006

Em Compensação

Entrar num lugar qualquer e ver textos começando por Jack London e José de Alencar é motivo suficiente para espantar muita gente. Confesso que sou um desses. Para tirar essa impressão negativa é bom citar algumas descobertas que andei fazendo.

Tudo bem que uma tradução feita por Millôr já dê um toque especial a qualquer obra, mas Don Juan de Molière é muito bom mesmo. Lembra as histórias do nosso primeiro imperador, o homem que veio ao Brasil com a missão de desvirginar todas as jovens (ou nem tanto) do Rio de Janeiro. Enfim, Molière é um francês de respeito, assim como sua história é muito bem humorada.

Outro que arranca risos e lágrimas de emoção é Neil Gaiman. Além de ter criado um dos personagens mais brilhantes da história dos quadrinhos, Sandman, ele também tem uma aptidão para a literatura. Talvez sejam os anos de jornalismo ou os outros anos de roteirista, nunca se saberá. O que vale é que Fat Charlie e seu irmão Spider fazem uma boa dupla em Os Filhos de Anansi; história mística, engraçada e outras coisas ao mesmo tempo.

José Saramago já dispensa qualquer comentário, mesmo assim fico salivando só para dizer uma ou duas coisas sobre ele. Enfim, eu não resisto: só um Nobel para pensar em Conventos que engravidam rainhas, na Península Ibérica como uma jangada de pedra a cruzar os mares e na morte, não a morte gorda em vestes pretas de Proust, mas sim a morte mulher atraente por volta dos trinta cheia de um ar de mistério, tem problemas com seu ofício. Acho que se não fosse o bagulho das vírgulas e os períodos loooooongos, Saramago seria um top top, mas, enquanto, dou um merecido top + ao lado de Laurence Sterne, mas um degrau acima.

segunda-feira, 4 de dezembro de 2006

Amor e ódio nos livros

O garoto singelo só me arranja trabalho. Mas desta vez o perdôo, pois as coisas andavam frias por aqui mesmo. Ele colocou em minhas mãos fatigadas a obrigação moral de fazer um meme em homenagens àqueles que não merecem ser lidos. São tantos por aí que preciso resumi-los em três. Mas asseguro que esses três são de doer e de amar.

O primeiro merece o ódio mortal de toda uma nação que ele mesmo tentou criar, José de Alencar. Esta figura já levou à morte milhões de jovens entediados e só se encontra vivo na memória de muitos porque alguém acredita que ele seja uma boa leitura obrigatória nas escolas. Certamente nossos jovens precisam sofrer pra aprender, mas José de Alencar é superior a isso.

O segundo é um tal de Jack London que é o culpado por gerar uma indústria gigantesca de filmes de animais falantes e com sentimentos humanos. Alguém pode até dizer que Call Of the Wild fala justamente do contrário, pois mostra um cachorro civilizado virando um lobo selvagem, mas confesso que o chamado que mais me agradava no livro era o de mantê-lo fechado. Chega de cães mais humanos que os humanos.

O terceiro foi o meu maior desafio em leituras na língua inglesa. Não porque o inglês fosse rebuscado, mas sim porque ele no meio do livro o autor fugia do inglês e caía no francês, latim, italiano, grego e mais uma infinidade de neologismos e termos antigos usados como trocadilhos. Laurence Sterne com o seu "The Life and Opinions of Tristam Shandy, Gentleman" representou para mim um desafio quase insuperável em uma relação de amor e ódio. Desisti de ler esse livro 10 vezes durante as férias, mas sempre acabava voltando a ler. Mas no fim triunfei. Deixo avisado aos aventureiros que queiram se meter por essas águas que a leitura deste livro é uma guerra, mas vale a pena lutá-la, mais ainda vencê-la.

No mais vou seguir como o companheiro Jack e matar o meme por aqui já que me falta maior sociobloguidade.

sábado, 18 de novembro de 2006

Conto meu!

Acendo um cigarro. Droga, lembro que não fumo. Apago o cigarro. Tenho uma leve impressão de que esse não é um bom começo para qualquer história, mas penso que é minha história e ninguém pode dizer se é bom ou ruim, pois são apenas fatos. O que importa é que eu estava lá, sem cigarro, a espera de algo muito importante que poderia mudar toda minha vida. Foi quando eu finalmente a vi...

Quando foi que tudo isso começou mesmo? Acho que foi ontem, quando o meu envenenado Fusca de Itamar me deixou na mão e me forçou a voltar de ônibus; não sem espernear um bocado com o cara do reboque (vagaroso), com o corretor de seguros (enganoso) e com a mulher do 0800 (gostosa, pela voz) da seguradora (onerosa). Eles parecem não gostar de carros jovens nas suas contas, preferem sempre os bebês. Uma alusão clara a pedofilia que ocorre diariamente na frente de todo mundo que simplesmente aceita isso como se fosse normal (e talvez fosse até hoje caso algum inglês não passasse a achar pedofilia uma falha moral).

Mas enfim, estava no ônibus, por causa de alguma falha no Fusca de Itamar que o cara da oficina tentou levar a proporções épicas. Imaginar problemas no meu Fusca de Itamar me levou a imaginar uma metáfora de uma muralha de Tróia com um buraco no mínimo imenso para os gregos passarem. Certamente eu estava sendo enganado. Eu acendo um cigarro. Droga, lembro que não fumo. Apago o cigarro. Olho para ele e digo: “Você está me enganando, colega. Mas eu já percebi”. Ao que ele respondeu: “Mas o que é isso, doutor. Aqui o nosso trabalho é muito sério. Em uma semana o carro vai estar zero quilômetro!”. “Não quero saber se ele vai estar zero quilômetro. Quero apenas saber a falha que ele têm”. “Isso a gente só vai saber quando olhar o carro”. “Então por que diabos você me promete que o carro vai estar pronto próxima semana?”. “É a experiência”. Desisto, pelo menos eu só vou pagar a franquia mesmo. Pego um cigarro, mas lembro que não fumo antes de acendê-lo. Sorrio. Estou ficando esperto.

Atravesso a rua e vou para a parada dos ônibus. Há um ano eu não sabia mais o que era isso, desde que comprei meu Fusca de Itamar em algum leilão. Engraçado, agora não consigo me lembrar se era legal ou ilegal. Mas devia ser legal, pois veio com o seguro junto. Ou teria sido com o estepe junto? Não importa, o ônibus chega arrastando uma multidão que produz uma pequena visão do inferno na subida, na catraca e dentro dele. Felizmente consigo encontrar dois lugares próximos para por os pés. Mesmo assim um tristeza me abate naquele lugar. Acho que era sono ou fome. Pego um cigarro, mas lembro que não se pode fumar em ônibus.

Mas foi ali em meio aquela tristeza e a uma nuvem de braços que eu a vi pela primeira vez. Pensei ter me enganado, pois a vira de relance. Mas uma brecha entre as nuvens de braços deixou que ela a disposição de minha vista, tal como um sol. Para minha infelicidade, não havia paradas próximas e o ônibus se afastou dela com rapidez. Pensei em murchar, mas não. Não dessa vez. Eu iria buscá-la amanhã. Neste mesmo local, nesta mesma hora.

Desço do ônibus. Acendo um cigarro. Droga, lembro que não fumo. Apago o cigarro. “Amanhã” Digo a mim mesmo e lembro de uma música de Chico que falava da ditadura. Mas só conseguia pensar nela. Pego outro cigarro, mas não acendo, pois estava finalmente em casa.

... e lá estava eu, à espera dela enquanto ela vinha pela calçada em minha direção. Pensei que se meu Fusca de Itamar não tivesse quebrado eu não estaria ali. Provavelmente estaria em casa fumando. Mas lembro que não fumo, então devo estar pensando em bobagens. Ela estava próxima agora. Tão próxima que acho que poderia até sentir o cheiro. Preciso parecer bem agora. Acendo um cigarro. Droga, lembro que não fumo. Apago o cigarro. Agora é só sorrir...

quarta-feira, 15 de novembro de 2006

Leitura e devaneios em dias de febre e chuva

Chuva, febre e cama. Tudo isso acompanhado de um bom livro e de um chocolate quente pode dar uma sensação agradável até mesmo na doença. Aconselho, para os interessados em psicologia, PG Wodehouse. O mordomo Jeeves consegue ensinar que para aliviar qualquer tipo de tensão social, basta achar um inimigo comum de toda a sociedade. O famoso bode espiatório é o segredo da paz mundial! Lindo!

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A febre aumenta e a mente viaja. E para uma mente que já é uma viajante nata, entenda-se que essa viagem é "muita viagem". Após saltos ornamentais por temas nada relativos, a mente se prende a um tema muito ajuizado. Aliás nem chega a ser um tema, está mais para uma indagação. Afinal por que em tantos países as maiores cidades não são as capitais?

Existem exemplos bem claros disso no Brasil (São Paulo), Austrália e EUA (com milhões de outras cidades maiores que Washington). Deveria haver alguma regra que apontasse como capital somente a maior cidade de cada país.

Ainda bem que logo minha febre baixou e pude me dedicar a leitura novamente, o que me dá a impressão de ser mais produtivo.