Esse eu posso chamar de tijolo sem medo de ser feliz. Também posso a recomendar a qualquer pessoa sem nenhum medo de ser feliz. Coincidências? Mas isso nem importa; o que vale é que eis aqui uma obra que posso dizer "wow" de boca cheia. Uma obra com uma carinha de América Latina. Será que deveria dizer sertaneja? Não creio. Assim estaria deixando Ariano Suassuna no mesmo patamar que os 99% dos autores chatos e ruins que povoam minha terra e tentam nos sufocar com um regionalismo bobo do tipo ‘o que é daqui é melhor que o seu, lero lero’.
Por que Ariano sai desse povão? Bem, primeiro temos aqui uma obra com alguma preocupação estética (sim, as pessoas na minha terra acham que reler significa ‘deixar de fazer uma obra pura e sua’. Eu prefiro coisas boas a coisas puras). A Pedra do Reino conta a história de Dom Pedro Dinis Ferreira-Quaderna, o Decifrador. Na verdade, ele é um cantador e burocrata dono de bordel sem grandes perspectivas, se olharmos de fora. Para si ele é o quinto Rei da Pedra do Reino, o verdadeiro Império do Brasil. Dom Quixote? Talvez, mas o cavaleiro da triste figura busca coisas diferentes do rei Dom Pedro IV.
Dom Quixote poderia ter sido cavaleiro dos que desejava ser se tivesse nascido umas boas centenas de anos antes. Já o Quaderna estava impressionado com a história de seus ascendentes que 100 anos antes haviam formado o verdadeiro Império do Brasil na Pedra do Reino. O antigo império havia lavado com sangue duas místicas pedras que eram o castelo do Reino, mas fora derrotado em pouco tempo e sua história esquecida.
Quaderna, assim como Dom Quixote, quer reviver esse tempo e os privilégios que sua família possuiu. Mas não nasceu para soldado e sua coragem deixava muito a desejar. É quando durante uma conversa com seus tutores, amigos e parasitas, Samuel e Clemente, ele descobre que há uma forma de reaver a glória perdida. Ele e só ele poderia ser o Gênio Máximo da Humanidade e escrever a Obra da Raça. E não é que o desgraçado consegue!
Sua obra se propõe a contar uma história de aventura, amor, sangue, vingança, fantasia, religião, mistério e glória. Nisso o Quaderna opta por contar sua própria história, começando com o que o leva a estar ali preso em 1938. É engraçado como muita realidade se mistura na ficção aqui. Tanto para o leitor quanto para Dom Dinis. Samuel, integralista (ou armorial, embora segundo o próprio Ariano isso seja questionável), e Clemente, comunista, ajudam muito nessa confusão de datas, citações e eventos semi-históricos que mostram uma realidade sertaneja sem aquelas perebas, fomes e mortes. Aqui tudo precisa brilhar.
Encontramos nele uma obra sertaneja e universal. Como me disseram lá no seminário de literatura, esta seria a obra máxima do barroco brasileiro, mas cá tenho minhas dúvidas sobre isso. Só sei que é o melhor livro escrito em português que já li. Além disso, só por curiosidade, Ariano Suassuna é realmente muito gente boa e um moooonstro de formação clássica. Penso que sua literatura merece mais reconhecimento que suas interpretações globais. Enfim, Tiro meu chapéu.
Words are not meant to stir the air only: they are capable of moving greater things.
domingo, 26 de outubro de 2008
terça-feira, 21 de outubro de 2008
De quando eu fui num seminário Letras
Holy crap, estive mesmo em um! Eles iam falar sobre literatura clássica e o Gussie me convenceu a dar uma olhada. Aparentemente ia ser mui bom, apesar de eu ser obrigado a atravessar duas cidades para chegar na universidade (e todos sabem que o tempo que você fica na universidade é inversamente proporcional à vontade de ir lá [oh, esqueci que ainda tem gente que quer entrar. É bein legaulz, gentix. Podjem ir lááá!). Enfim, acabei indo esperando encontrar alunos de Letras falando besteira (o que de fato havia) e algum professor com três idéias ruins e uma boa pelo motivo errado.
Mas não é que havia professores com boas idéias (ponto). Incrivelmente também havia alunos de Letras falando coisas legais! Mais incrivelmente ainda aparece Ariano Suassuna de repente e me surpreende mostrando ser um monstro no tema!
Emoções demais para um só dia e olhe que ainda vem mais (não é todo dia que tenho meus preconceitos abalados, infelizmente). Ai ai, de repente a universidade apronta poucas e boas para a melhor (ok, ainda assim é melhor esperar até o final antes de dizer qualquer coisa, afinal universidade pública nunca se sabe...).
Continua no próximo capítulo (se eu sobreviver).
Mas não é que havia professores com boas idéias (ponto). Incrivelmente também havia alunos de Letras falando coisas legais! Mais incrivelmente ainda aparece Ariano Suassuna de repente e me surpreende mostrando ser um monstro no tema!
Emoções demais para um só dia e olhe que ainda vem mais (não é todo dia que tenho meus preconceitos abalados, infelizmente). Ai ai, de repente a universidade apronta poucas e boas para a melhor (ok, ainda assim é melhor esperar até o final antes de dizer qualquer coisa, afinal universidade pública nunca se sabe...).
Continua no próximo capítulo (se eu sobreviver).
sexta-feira, 10 de outubro de 2008
As Mil e Uma Noites... mentira!
Ps: (agora alguém deve se perguntar porque diabos há um ps na frente do texto e na frente do ps há um comentário nada relacionado só para perder o tempo alheio e que na realidade não há nenhum ps a ser dito [wow, três ps's na mesmo frase!]. Bem, só deu vontade de fazer, perdoem meus caprichos).
Esse texto ia ser sobre eleições e acabou sendo. Falar tudo o que já foi dito por ai. Que votar em branco ou anular é que é a vibe do momento e que se ganhou alguém na sua cidade azar o seu. Também ia falar coisas engraçadinhas como dizer que em minha cidade disputaram uma das vagas na nossa querida câmara omissa Reginaldo Rossi, o rei do brega nordestino, Odete, a maior cafetina de pernambuco, e He-Man, para combater o atual prefeito que era um fóssil vivo (possivelmente eu poderia dizer que ele estudou na mesma escolinha que Dercy só para me sentir cool e mais novo). No fim, as eleições municipais são uma experiência frustante em nível menor.
Ai veio a lembrança do terceiro volume das Mil e Uma Noites (aquela edição linda da ed. Globo que custou a minha vida). Num mundo fantástico de vastos territórios selvagens onde só se encontra areia e mar, existem cidades. É interessante ver que nas cidades o que manda é o gosto do povo e um pouco da sorte de 'estar no lugar certo e na hora certa'. Algumas histórias trazem reis malvadões e corruptos que são substituídos por estrangeiros de bom coração, índole e origem (lembrando que é tudo obra do divino nesses casos embora seja o povo que dê um belíssimo pé na bunda nos reis). Enfim pressupõe-se que você tenha que ser justo e fiel (e muitas vezes simplesmente não atuante) para ser um bom rei, caso contrário a porta da rua será a serventia da cidade.
Sempre penso que seria tão mais legal se as coisas ainda fossem obra do divino. Mas lembro que não se pode discordar (a não ser com dez milhões de assinaturas numa petição online) e ainda somos obrigados a entrar numa festa democrática do direito obrigatório. Um rei e um vizir como primeiro ministro parece uma coisa tão mais lógica. Se eles forem corruptos, ai Deus castiga. Infelizmente, como não funciona na prática, temos prefeitos (mas se funcionasse, quantos prefeitos sobrariam no Brasil?).
O acaso sempre traz coisas boas apesar das adversidades. Na história de Simbad, o marujo, (que na verdade é um mercador marítimo) temos uma demonstração disso. Todas as viagens de Simbad são fantásticas e quase levam o mercador à morte (aparentemente quase morrer é fantástico). Mas o acaso sempre o salva e presenteia-lhe com riquezas. Por isso quando envelheceu ele bebe e come de tudo aquilo que conquistou em vida com sua família e prova a um outro Simbad, o estivador, que ele sofreu para estar lá e merecer o que conquistou.
Será que é por isso que no Brasil votamos em toda sorte de candidatos ruins para que no fim de toda história sejamos recompesados com algo bom? Ou é só para dizermos que sofremos e merecemos o que temos? Difícil, até lá vamos tomando remédio pra curar a ressaca dos boca-livres eleitorais.
Esse texto ia ser sobre eleições e acabou sendo. Falar tudo o que já foi dito por ai. Que votar em branco ou anular é que é a vibe do momento e que se ganhou alguém na sua cidade azar o seu. Também ia falar coisas engraçadinhas como dizer que em minha cidade disputaram uma das vagas na nossa querida câmara omissa Reginaldo Rossi, o rei do brega nordestino, Odete, a maior cafetina de pernambuco, e He-Man, para combater o atual prefeito que era um fóssil vivo (possivelmente eu poderia dizer que ele estudou na mesma escolinha que Dercy só para me sentir cool e mais novo). No fim, as eleições municipais são uma experiência frustante em nível menor.
Ai veio a lembrança do terceiro volume das Mil e Uma Noites (aquela edição linda da ed. Globo que custou a minha vida). Num mundo fantástico de vastos territórios selvagens onde só se encontra areia e mar, existem cidades. É interessante ver que nas cidades o que manda é o gosto do povo e um pouco da sorte de 'estar no lugar certo e na hora certa'. Algumas histórias trazem reis malvadões e corruptos que são substituídos por estrangeiros de bom coração, índole e origem (lembrando que é tudo obra do divino nesses casos embora seja o povo que dê um belíssimo pé na bunda nos reis). Enfim pressupõe-se que você tenha que ser justo e fiel (e muitas vezes simplesmente não atuante) para ser um bom rei, caso contrário a porta da rua será a serventia da cidade.
Sempre penso que seria tão mais legal se as coisas ainda fossem obra do divino. Mas lembro que não se pode discordar (a não ser com dez milhões de assinaturas numa petição online) e ainda somos obrigados a entrar numa festa democrática do direito obrigatório. Um rei e um vizir como primeiro ministro parece uma coisa tão mais lógica. Se eles forem corruptos, ai Deus castiga. Infelizmente, como não funciona na prática, temos prefeitos (mas se funcionasse, quantos prefeitos sobrariam no Brasil?).
O acaso sempre traz coisas boas apesar das adversidades. Na história de Simbad, o marujo, (que na verdade é um mercador marítimo) temos uma demonstração disso. Todas as viagens de Simbad são fantásticas e quase levam o mercador à morte (aparentemente quase morrer é fantástico). Mas o acaso sempre o salva e presenteia-lhe com riquezas. Por isso quando envelheceu ele bebe e come de tudo aquilo que conquistou em vida com sua família e prova a um outro Simbad, o estivador, que ele sofreu para estar lá e merecer o que conquistou.
Será que é por isso que no Brasil votamos em toda sorte de candidatos ruins para que no fim de toda história sejamos recompesados com algo bom? Ou é só para dizermos que sofremos e merecemos o que temos? Difícil, até lá vamos tomando remédio pra curar a ressaca dos boca-livres eleitorais.
sexta-feira, 26 de setembro de 2008
Direito de resposta
De repente chega o final de semana e você percebe que a criatividade de todo mundo aflorou menos a sua. Todos estão a dizer coisas legais ou pelo menos coisas que foram ou um dia vão ser legais. Eles não precisam dizer de forma legal, é verdade, mas só de falar nessas coisas parecem já vale. Como fazem isso afinal?
De repente chega o final de semana e você percebe que ainda não tem nada para dizer. Simplesmente nada. Mente limpa e clara. Aliás, a cada minuto que passa sem que tenha nada a dizer só confirma algo: você nunca mais vai dizer nada. Isso pode até ser verdade e uma verdade até confortável. Afinal, para que ficar falando por ai coisas legais a todo mundo? Não é melhor simplesmente guardá-las para um dia sem graça ou quando ninguém mais tiver nada a dizer?
De repente chega o final de semana e você percebe que o direito de permanecer calado é pretty cool. Porque, além de se reservar a não dizer nada, você ainda ganha tempo para arranjar o que dizer e da forma certa (se é que existe uma forma certa de organizar palavras. Tudo que é definido por lei me é muito suspeito). Não que você consiga achar algo a dizer nesse tempo. Pelo menos você sente que está tentando mudar em algo ou fazendo algo. Ficar parado não parece da natureza humana (a não ser no funcionalismo público, mas já há relatos de servidores com coração).
De repente chega o final de semana e você a vê. Em algum cantinho sem chamar atenção. Tão sem palavras quanto você. Ou melhor, tão sem palavras quanto você era antes. Porque agora você está em dúvida e a dúvida sempre vem em forma de palavras (e geralmente palavras deslocadas porque não somos ensinados a ter dúvida, mas sim a matá-las). Você duvida de sua incapacidade de falar, duvida de sua mente clara e limpa, duvida até que um dia pensou no direito de permanecer calado como algo pretty cool (agora o cinema mudo não é nada além de brega). Duvida, principalmente, que vá conseguir passar um só dia sem ter algo a falar em sua companhia. Com ela, até o silêncio parece tagarela.
lyrics
De repente chega o final de semana e você percebe que ainda não tem nada para dizer. Simplesmente nada. Mente limpa e clara. Aliás, a cada minuto que passa sem que tenha nada a dizer só confirma algo: você nunca mais vai dizer nada. Isso pode até ser verdade e uma verdade até confortável. Afinal, para que ficar falando por ai coisas legais a todo mundo? Não é melhor simplesmente guardá-las para um dia sem graça ou quando ninguém mais tiver nada a dizer?
De repente chega o final de semana e você percebe que o direito de permanecer calado é pretty cool. Porque, além de se reservar a não dizer nada, você ainda ganha tempo para arranjar o que dizer e da forma certa (se é que existe uma forma certa de organizar palavras. Tudo que é definido por lei me é muito suspeito). Não que você consiga achar algo a dizer nesse tempo. Pelo menos você sente que está tentando mudar em algo ou fazendo algo. Ficar parado não parece da natureza humana (a não ser no funcionalismo público, mas já há relatos de servidores com coração).
De repente chega o final de semana e você a vê. Em algum cantinho sem chamar atenção. Tão sem palavras quanto você. Ou melhor, tão sem palavras quanto você era antes. Porque agora você está em dúvida e a dúvida sempre vem em forma de palavras (e geralmente palavras deslocadas porque não somos ensinados a ter dúvida, mas sim a matá-las). Você duvida de sua incapacidade de falar, duvida de sua mente clara e limpa, duvida até que um dia pensou no direito de permanecer calado como algo pretty cool (agora o cinema mudo não é nada além de brega). Duvida, principalmente, que vá conseguir passar um só dia sem ter algo a falar em sua companhia. Com ela, até o silêncio parece tagarela.
lyrics
domingo, 21 de setembro de 2008
Mr. Sandman, bring me a dream
Sonho com o dia que alguém olhará para meu cabelo e dirá: "é preto mesmo". Não que não seja. Mas ninguém acredita que é. Preto parece ser uma cor natural não existente em minha terra. As vezes, é pior que louro no quesito credibilidade. Por isso que, por exemplo, pessoas que conseguem soletrar metrossexual ao contrário olham para ele e perguntam se é pintado. Pô, sou machão pernambucano daqueles com três cojones roxos, essa pergunta é chata. Isso me faz sonhar no dia em que as pessoas vão perceber o que é evidente sem precisar ficar repetindo ou usando o óbvio como argumento. Exemplo: "evidentemente, calor esquenta". Sim, evidentemente não pinto o cabelo (o que é evidente).
Falando em sonhos, tenho alguns outros: quero ser ferreiro, carpinteiro, capitão de navio e contador de histórias. Por um motivo nobre e egoista, sempre achei os pais de filmes de família legais. Eles sabem fazer tudo que a casa necessita. Nessa hora alguém deve ter lembrado que a casa necessita de eletricistas e alguém que entenda de encanamentos. Como um bom pai de família de cinema, eu também sonho em me meter no que não entendo. Possivelmente, farei a casa ruir, mas espero que alguém me faça perceber que não entendo daquilo um pouco antes disso (afinal com os pais de família de cinema, o único argumento válido é o coração).
Vou gastar uma vida recuperando as besteiras que fiz (um pai de família de cinema não vive com o coração em pedaços). Assim, terei muitas histórias que os netinhos ouvirão antes de dormir, com as devidas alterações, como a inclusão de supervilões e coisas mágicas. Não que as histórias sejam ruins (vale lembrar que serei um contador de histórias), mas elas vão fazer os pequenos sentirem vontade de sonhar seus próprios sonhos. Penso que serão bons sonhos. Com muito bang bang, piratas e cavaleiros, espero. Sei que qualquer educador ou psicólogo metido vai dizer que isso é má influência. Mas o que diabos eles entendem de sonhar afinal?
Só dispenso ser viúvo e ter duas filhas gêmeas que vão ficar me forçando para arranjar alguma namorada ao gosto delas. Nups, os pequenos têm que saber o seu devido lugar.
lyrics
Falando em sonhos, tenho alguns outros: quero ser ferreiro, carpinteiro, capitão de navio e contador de histórias. Por um motivo nobre e egoista, sempre achei os pais de filmes de família legais. Eles sabem fazer tudo que a casa necessita. Nessa hora alguém deve ter lembrado que a casa necessita de eletricistas e alguém que entenda de encanamentos. Como um bom pai de família de cinema, eu também sonho em me meter no que não entendo. Possivelmente, farei a casa ruir, mas espero que alguém me faça perceber que não entendo daquilo um pouco antes disso (afinal com os pais de família de cinema, o único argumento válido é o coração).
Vou gastar uma vida recuperando as besteiras que fiz (um pai de família de cinema não vive com o coração em pedaços). Assim, terei muitas histórias que os netinhos ouvirão antes de dormir, com as devidas alterações, como a inclusão de supervilões e coisas mágicas. Não que as histórias sejam ruins (vale lembrar que serei um contador de histórias), mas elas vão fazer os pequenos sentirem vontade de sonhar seus próprios sonhos. Penso que serão bons sonhos. Com muito bang bang, piratas e cavaleiros, espero. Sei que qualquer educador ou psicólogo metido vai dizer que isso é má influência. Mas o que diabos eles entendem de sonhar afinal?
Só dispenso ser viúvo e ter duas filhas gêmeas que vão ficar me forçando para arranjar alguma namorada ao gosto delas. Nups, os pequenos têm que saber o seu devido lugar.
lyrics
segunda-feira, 15 de setembro de 2008
The Catcher in the Rye
Holden Caulfield é o adolescente que fomos (e que alguns nunca deixam de ser). Por algum tempo somos rebeldes e não nos encaixamos no "sistema" chamado vida. É quando andar sentado numa escada rolante é um protesto contra tudo e todos (não importando o quanto ficamos com a bunda suja no processo). Apesar de todos os protestos ridículos e da falta de um bom motivo, as vezes sentimos que essa é uma fase perdida de nossas vidas. E se alguém disser que todos aqueles problemas existenciais e piegas que enfrentamos são reais e que são um assunto para se levar com seriedade, pois se não forem superados podem fazer de você um, hã, desajustado? Eu diria que já vi isso em Malhação, mas JD Salinger me parece muito melhor nisso (até porque Malhação fala apenas de jovens adultos imbecis que tomam suco para curtir melhor a night com a galiera).
De agora em diante eu fico muito tentado a sugerir esse, esse e esse vídeos para se ter uma idéia de tudo que se fala por lá. Alguém distraído e insensível pode passar pelo livro inteiro pensando em Holden como um fresco problemático que odeia o mundo inteiro porque todos vivem numa falsidade descarada e que, muito provavelmente, ele (Holden) apenas gostaria de viver nessa falsidade sem se sentir mal. Esse insensível seria chamado de phony pelo Holden. E seria merecido. Após acompanhar Holden por meio livro simplesmente tentando ser ouvido por alguém e falhando, só alguém insensível e phony conseguiria achá-lo mais um drama estilo Malhação. Ele fica deprimido exatamente como qualquer ser humano ficaria. Até aquele gordo de cueca jogando World of Warcraft às três da manhã do sábado ficaria triste nessa situação.
O curioso é que, apesar do papel que tem, não é exatamente a tristeza quem leva o Holden a ter sua pequena aventura de 48 horas mais ou menos. É a esperança de que mesmo no fundo do poço ainda há uma saída que guia Holden. Por muito tempo, ele crê que a saída seja a fuga, o isolamente e até a morte algumas vezes (oh yeah, mesmo assim não perdôo os emos). Ficamos fascinados por isso.
Não pelas saídas ruins, claro. Mas sim porque Holden Caulfield é muito real. Isso me levava a vez por outra pensar em The Truman Show. A sensação de que estamos vendo uma história real se passando com alguém real e que não queremos influenciar só para ver o que o cara lá faz para continuar sua história é constante aqui. Pelo menos a vida do Holden não era uma grande farsa como a de Truman (e é aqui que as semelhanças findam). Principalmente porque é ele é o narrador da própria história. Isso é um dos tchans da história. O que levou aquele cara tão real que estava tão mal a falar sua própria história de forma tão longa e detalhada, principalmente, quando notamos que ele passa o livro inteiro sem conseguir se fazer ouvir por alguém?
Fico tentado em me responder e estragar uma leitura de alguém, mas lembro que o universo inteiro já leu esse livro e sou eu que estou atrasado aqui. Enrolei demais para lê-lo e me arrependo de ter feito isso. Um livro ótimo para saber se você tem, se já teve ou se ainda vai ter um coração algum dia. O meu está aqui com o Holden e com todas as pessoas que gosto.
De agora em diante eu fico muito tentado a sugerir esse, esse e esse vídeos para se ter uma idéia de tudo que se fala por lá. Alguém distraído e insensível pode passar pelo livro inteiro pensando em Holden como um fresco problemático que odeia o mundo inteiro porque todos vivem numa falsidade descarada e que, muito provavelmente, ele (Holden) apenas gostaria de viver nessa falsidade sem se sentir mal. Esse insensível seria chamado de phony pelo Holden. E seria merecido. Após acompanhar Holden por meio livro simplesmente tentando ser ouvido por alguém e falhando, só alguém insensível e phony conseguiria achá-lo mais um drama estilo Malhação. Ele fica deprimido exatamente como qualquer ser humano ficaria. Até aquele gordo de cueca jogando World of Warcraft às três da manhã do sábado ficaria triste nessa situação.
O curioso é que, apesar do papel que tem, não é exatamente a tristeza quem leva o Holden a ter sua pequena aventura de 48 horas mais ou menos. É a esperança de que mesmo no fundo do poço ainda há uma saída que guia Holden. Por muito tempo, ele crê que a saída seja a fuga, o isolamente e até a morte algumas vezes (oh yeah, mesmo assim não perdôo os emos). Ficamos fascinados por isso.
Não pelas saídas ruins, claro. Mas sim porque Holden Caulfield é muito real. Isso me levava a vez por outra pensar em The Truman Show. A sensação de que estamos vendo uma história real se passando com alguém real e que não queremos influenciar só para ver o que o cara lá faz para continuar sua história é constante aqui. Pelo menos a vida do Holden não era uma grande farsa como a de Truman (e é aqui que as semelhanças findam). Principalmente porque é ele é o narrador da própria história. Isso é um dos tchans da história. O que levou aquele cara tão real que estava tão mal a falar sua própria história de forma tão longa e detalhada, principalmente, quando notamos que ele passa o livro inteiro sem conseguir se fazer ouvir por alguém?
Fico tentado em me responder e estragar uma leitura de alguém, mas lembro que o universo inteiro já leu esse livro e sou eu que estou atrasado aqui. Enrolei demais para lê-lo e me arrependo de ter feito isso. Um livro ótimo para saber se você tem, se já teve ou se ainda vai ter um coração algum dia. O meu está aqui com o Holden e com todas as pessoas que gosto.
segunda-feira, 1 de setembro de 2008
10 bolas de sorvete um real
Estamos numa nova era. A tecnologia invade o nosso dia-a-dia e faz Jornada nas Estrelas parecer um brega setentão (blábláblá...). É até estranho pensar que isso acontece no Brasil; afinal aqui temos uma cultura forte e cultura impede qualquer avanço tecnológico (em minha terra, a cultura impede qualquer tipo de avanço. Até o mental). Sempre imaginei o Brasil como uma imensa ilha quente, sem fronteiras, cheio de mulatas seminuas que sambam enquantos os muleque jogam uma pelada. Não precisaremos de inovações melhores que uma caixa de fósforo, radinho de pilha ou freezer (a cerva PRECISA ser gelada, disso não se abre mão).
Aliás, a tecnologia tem uns aspectos curiosos em minha terra. Penso que nunca vamos ser evoluídos porque as pessoas simplesmente preferem continuar vivendo de forma ruim. Sim, opção própria. "A tradição nos trouxe até aqui" me parece uma outra forma de dizer "o que não mata engorda". Se algo é tecnológico, então deve ter uma bruxinha do capitalismo fazendo feitiçaria dentro daquele celular. Ou, por algum motivo aleatório, o toque polifônico destrói a alma do frevo (que cresce assustadoramente lançando zero músicas novas por ano. [Aliás, é muito curiosa a tradição que vive de subsídio, mas como Mestre Salu bateu as botas esta semana então deixa quieto]).
Indo direto ao ponto: o pernambucano tem um severo problema em lidar com coisas novas. A situação onde melhor vejo aplicada essa máxima é quando acontece o dilema do ar condicionado coletivo.
Supondo que estejamos numa sala que fica numa terra onde a temperatura mínima durante a noite do inverno à sombra da lua chega aos 24º. A sala está cheia de gente. Não é preciso pensar duas vezes para deduzir que ela esteja quente. Mas a ciência moderna inventou algo para esses casos. Uma maravilha chamada Ar Condicionado que é capaz de aliviar um calor, chamado neste exemplo de infernal. Infelizmente essa não é uma sala com pessoas quaisquer. São pernambucanos. Bastará que a temperatura chegue aos 29º para que alguém comece a pensar no frio. 28º já vira região sul. 27º Buenos Aires. 26º Europa. 25º Era glacial. E vale ressaltar que essas temperaturas são as indicadas pelo aparelho, afinal somos incapazes de dizer a temperatura sentindo o ambiente e muito menos definir frio ou quente.
Temos um sangue quente e revolucionário, não é a toa que somos o Leão do Norte. Fatalmente, alguém vai reclamar. E pior, como temos o hábito de perder revoluções, simpatizamos com qualquer tipo de reclamação. Com uma turva sensação térmica e o apoio das massas, o ar condicionado sempre sai de vilão. E para que dialogar sobre a questão? Oh yeah, muito sangue será derramado por causa dessa inovação segregadora.
Se o pernambucano quiser algum dia poder dizer que finalmente evoluiu em algo, poderia começar percebendo para que serve um ar condicionado.
Aliás, a tecnologia tem uns aspectos curiosos em minha terra. Penso que nunca vamos ser evoluídos porque as pessoas simplesmente preferem continuar vivendo de forma ruim. Sim, opção própria. "A tradição nos trouxe até aqui" me parece uma outra forma de dizer "o que não mata engorda". Se algo é tecnológico, então deve ter uma bruxinha do capitalismo fazendo feitiçaria dentro daquele celular. Ou, por algum motivo aleatório, o toque polifônico destrói a alma do frevo (que cresce assustadoramente lançando zero músicas novas por ano. [Aliás, é muito curiosa a tradição que vive de subsídio, mas como Mestre Salu bateu as botas esta semana então deixa quieto]).
Indo direto ao ponto: o pernambucano tem um severo problema em lidar com coisas novas. A situação onde melhor vejo aplicada essa máxima é quando acontece o dilema do ar condicionado coletivo.
Supondo que estejamos numa sala que fica numa terra onde a temperatura mínima durante a noite do inverno à sombra da lua chega aos 24º. A sala está cheia de gente. Não é preciso pensar duas vezes para deduzir que ela esteja quente. Mas a ciência moderna inventou algo para esses casos. Uma maravilha chamada Ar Condicionado que é capaz de aliviar um calor, chamado neste exemplo de infernal. Infelizmente essa não é uma sala com pessoas quaisquer. São pernambucanos. Bastará que a temperatura chegue aos 29º para que alguém comece a pensar no frio. 28º já vira região sul. 27º Buenos Aires. 26º Europa. 25º Era glacial. E vale ressaltar que essas temperaturas são as indicadas pelo aparelho, afinal somos incapazes de dizer a temperatura sentindo o ambiente e muito menos definir frio ou quente.
Temos um sangue quente e revolucionário, não é a toa que somos o Leão do Norte. Fatalmente, alguém vai reclamar. E pior, como temos o hábito de perder revoluções, simpatizamos com qualquer tipo de reclamação. Com uma turva sensação térmica e o apoio das massas, o ar condicionado sempre sai de vilão. E para que dialogar sobre a questão? Oh yeah, muito sangue será derramado por causa dessa inovação segregadora.
Se o pernambucano quiser algum dia poder dizer que finalmente evoluiu em algo, poderia começar percebendo para que serve um ar condicionado.
terça-feira, 12 de agosto de 2008
Ninguém Merece
Lá está você sentado, deitado, trabalhado ou apenas mamando nas tetas gordas do Estado. Se estiver em casa, pode deixar sua mente ir para qualquer parte do cosmo, seja no presente, futuro ou passado (ou nenhum deles de preferência). Já se estiver em locais públicos, então você corre um sério risco de ouvir um ditado popular. E nem falo dos mais simples moralistas (aqueles velhos do tempo onde ditados queriam dizer alguma coisa). Ninguém nem se lembra mais que quem com ferro fere, com ferro será ferido (até porque o chumbo da atualidade quebrou a rima).
A tal da mente social coletiva é responsável por criar muitas gírias sem graça e de mau gosto que nossos ouvidos distraídos acabam pegando. "Ninguém merece" é uma dessas expressões populares altamente questionáveis. Ela é usada em qualquer situação sem o menor critério. Exemplos:
- Está chovendo. Ninguém merece...
- Está fazendo sol. Ninguém merece...
- Como o cara perde um gol daqueles? Ninguém merece...
- Bombei no vestibular. Ninguém merece...
- O mundo vai acabar amanhã. Ninguém merece...
- Vou passar cerol na mão! Ninguém merece...
Ok, cansei. Já deu para notar como não é necessário critério nem contexto para mandar um 'ninguém merece' quentinho nos ouvidos de alguém. Há pouco tempo, os populares decoravam algumas centenas de ditadinhos (ou os criavam, sei lá) para usar em cada ocasião com o máximo de precisão. Casa de dentista sem fio dental: "casa de ferreiro; espeto de pau". Tudo no intuito de demonstrar sabedoria e pôr sua cultura inútil em evidência.
Mas havia nos ditadinhos antigos uma criatividadezinha meio romântica (ou pelo menos uma rima besta). Hoje, o melhor que se cria é um 'pé rapado' de Malhação no lugar do tal 'sem eira nem beira'. Antes chupar prego para ver se vira parafuso.
A tal da mente social coletiva é responsável por criar muitas gírias sem graça e de mau gosto que nossos ouvidos distraídos acabam pegando. "Ninguém merece" é uma dessas expressões populares altamente questionáveis. Ela é usada em qualquer situação sem o menor critério. Exemplos:
- Está chovendo. Ninguém merece...
- Está fazendo sol. Ninguém merece...
- Como o cara perde um gol daqueles? Ninguém merece...
- Bombei no vestibular. Ninguém merece...
- O mundo vai acabar amanhã. Ninguém merece...
- Vou passar cerol na mão! Ninguém merece...
Ok, cansei. Já deu para notar como não é necessário critério nem contexto para mandar um 'ninguém merece' quentinho nos ouvidos de alguém. Há pouco tempo, os populares decoravam algumas centenas de ditadinhos (ou os criavam, sei lá) para usar em cada ocasião com o máximo de precisão. Casa de dentista sem fio dental: "casa de ferreiro; espeto de pau". Tudo no intuito de demonstrar sabedoria e pôr sua cultura inútil em evidência.
Mas havia nos ditadinhos antigos uma criatividadezinha meio romântica (ou pelo menos uma rima besta). Hoje, o melhor que se cria é um 'pé rapado' de Malhação no lugar do tal 'sem eira nem beira'. Antes chupar prego para ver se vira parafuso.
segunda-feira, 11 de agosto de 2008
O Velho e o Mar
Um dos raros casos de tradução literal de títulos do inglês para o português. Rara também seria a beleza dessa história se eu estivesse ouvindo algo emo por aqui. Só posso dizer que é mó bonitinho e simpático, como toda e qualquer história que fale de pobre e sofredor ("que é antes de tudo um forte").
Um velho pescador chamado Santiago cai no mar para ver se afasta a quizumba de passar 84 dias sem fisgar nada. Ele se arrisca mais para os outros seguindo para o mar aberto e lá pesca o maior peixe da sua vida (de sua vila e de sua ilha, provavelmente). Claro que nada é fácil para pobre. Ele precisou de 2 dias para conseguir capturar o peixe em um duelo homem x natureza.
Duelo esse que trocando um peixe por um samurai e trocando a linha de pesca por uma espada seria bem nerd. Eles têm essa paixão por coisas lentas e introspectivas, algo como: "sou o cara mais foda do universo inteiro, o que preciso para vencer meu inimigo supermaisfodaqueeu é apenas encontrar o meu eu interior". E voi là; fim de luta. Geralmente termina com uns dizeres à la 'o meu Kung Fu é melhor que o seu'.
Hemingway não fala de bobagens para salvar o mundo e nem encontrar o eu interior. Ele simplesmente fala de um velho sem sorte e debilitado que conseguiu lutar contra todas as adversidades usando apenas sua experiência para fisgar o maior peixe das paradas. O velho se supera, mas não previra que a luta não estava terminada. Seu peixe é devorado por outros e no fim temos apenas um velho pescador sem sorte e triste (o que nos deixa triste, por sinal).
É um livro bonito. Não indicado para quem quer um pouco de ação, claro. Mas é um dos tops daqueles livros que qualquer pessoa deveria ler antes de morrer (o resto deixa para depois).
.....
Cheguei ao post 100 e ainda me agüento, céus! Estou ficando velho!
Um velho pescador chamado Santiago cai no mar para ver se afasta a quizumba de passar 84 dias sem fisgar nada. Ele se arrisca mais para os outros seguindo para o mar aberto e lá pesca o maior peixe da sua vida (de sua vila e de sua ilha, provavelmente). Claro que nada é fácil para pobre. Ele precisou de 2 dias para conseguir capturar o peixe em um duelo homem x natureza.
Duelo esse que trocando um peixe por um samurai e trocando a linha de pesca por uma espada seria bem nerd. Eles têm essa paixão por coisas lentas e introspectivas, algo como: "sou o cara mais foda do universo inteiro, o que preciso para vencer meu inimigo supermaisfodaqueeu é apenas encontrar o meu eu interior". E voi là; fim de luta. Geralmente termina com uns dizeres à la 'o meu Kung Fu é melhor que o seu'.
Hemingway não fala de bobagens para salvar o mundo e nem encontrar o eu interior. Ele simplesmente fala de um velho sem sorte e debilitado que conseguiu lutar contra todas as adversidades usando apenas sua experiência para fisgar o maior peixe das paradas. O velho se supera, mas não previra que a luta não estava terminada. Seu peixe é devorado por outros e no fim temos apenas um velho pescador sem sorte e triste (o que nos deixa triste, por sinal).
É um livro bonito. Não indicado para quem quer um pouco de ação, claro. Mas é um dos tops daqueles livros que qualquer pessoa deveria ler antes de morrer (o resto deixa para depois).
.....
Cheguei ao post 100 e ainda me agüento, céus! Estou ficando velho!
terça-feira, 5 de agosto de 2008
In Nomine Dei
Todo mundo já teve um professor de história comunista que falou na época da reforma (lembrando sempre aquela aula sobre as torturas da inquisição) e que vivia criticando a Igreja por sua postura, hã, religiosas (ainda espero algum reclamar que o nome Igreja Apostólica Católica Romana não é um nome cool e comercial e que se o nome Igreja fosse oficializado [antes de ser roubado pelos crentes] a história seria outra...). Bem, teve muita guerra por religião e muita briga para decidir se eram os bizantinos ou os gregos que ficavam discutindo o 'sexo dos anjos' e merecendo a autoria da expressão.
Saramago pega esse tema rebatido e brinca de ateu em In Nomine Dei (parece que todo ateu tem essa necessidade de vez em quando). A peça se passa em Münsten durante os anos da reforma anabatista (1532-1535). Os reformados insistem que o seu Deus é mais deus que o Deus dos católicos e dos luteranos. Nessa salada de deuses a briga estoura, a cidade é sitiada e os anabatistas são derrotados.
É tudo bem simples e sem nenhuma enrolação (nem parece Saramago, mas ele geralmente faz isso nas peças [talvez porque sejam, hã, peças]). Ele mostra o radicalismo religioso como feio-feio-feio e que nesse meio fica muito mais fácil de charlatões aparecerem. A história pode ser modernizada utilizando alguns milhares de pastores modernos (afinal, Igreja é o negócio que mais cresce no país desde 1500) e/ou jogadores de futebol. Mas é melhor nem pensar nisso porque caso contrário alguém pode me excomungar de algum credo alheio. Independente de fé, inferno é inferno. Não quero estar em nenhum deles.
Saramago pega esse tema rebatido e brinca de ateu em In Nomine Dei (parece que todo ateu tem essa necessidade de vez em quando). A peça se passa em Münsten durante os anos da reforma anabatista (1532-1535). Os reformados insistem que o seu Deus é mais deus que o Deus dos católicos e dos luteranos. Nessa salada de deuses a briga estoura, a cidade é sitiada e os anabatistas são derrotados.
É tudo bem simples e sem nenhuma enrolação (nem parece Saramago, mas ele geralmente faz isso nas peças [talvez porque sejam, hã, peças]). Ele mostra o radicalismo religioso como feio-feio-feio e que nesse meio fica muito mais fácil de charlatões aparecerem. A história pode ser modernizada utilizando alguns milhares de pastores modernos (afinal, Igreja é o negócio que mais cresce no país desde 1500) e/ou jogadores de futebol. Mas é melhor nem pensar nisso porque caso contrário alguém pode me excomungar de algum credo alheio. Independente de fé, inferno é inferno. Não quero estar em nenhum deles.
segunda-feira, 4 de agosto de 2008
Infinite Jest
Oito meses... oito longos meses. Levei isso para ultrapassar um tijolo de 1079 páginas (sendo pouco menos de 100 delas só de notas de roda-pé). Por um momento achei que o livro era realmente infinito, por outro achei sem propósito achar que eu ia chegar ao final. Agora que aqui cheguei desconfio que Infinite Jest de David Foster Wallace provavelmente deve ser um dos Best-sellers menos lidos da história (mas ainda perde humilhantemente para Danielle Steel nesse quesito). É o livro mais longo que já li, não por questão de tamanho (afinal, já li Musashi), mas de forma e de estilo (ok, a letra miúda e as páginas imensas ajudam nisso, mas esses quesitos ainda pesam mais).
O autor utiliza essas mil páginas para falar de tudo um pouco. Aliás, boa parte do livro você se pergunta sobre o que diabos aquilo tudo se trata porque nada parece ser realmente abordado (nem mesmo a própria narrativa). A Wikipédia condensa até de forma legal os diversos tópicos abordados. Por sinal, este livro é cheio de resenhas e comentários espalhados por ai. Provavelmente todos tentam entender alguma coisa falando sobre o livro. Deve haver lá algum propósito escondido lá dentro (e há muitos). Mas só cheguei a três conclusões:
- Fala-se sobre um cartucho/filme capaz de fazer as pessoas não terem mais desejo algum. Ficam lá vendo e revendo o filme até morrer. Esse filme é trabalhado durante todo o livro e só tendo uma memória de elefante para lembrar de todos os detalhes que vão construindo o filme por 1000 páginas (mas sim, é possível) (e sim, o filme acaba virando uma arma, [spoiler] mas tudo faz parte da grande piada proposta pelo autor);
- Esse é um caso raro de tragicomédia (geralmente eu prefiro até pensar que elas não existem, mas é que aqui realmente é impossível não rir da desgraça alheia);
- Tem muita gente falando idiotamente correto sobre o livro. Ficam pensando em críticas pós-multiculturalistas e em pensamentos (sim, eles pensam sobre pensar). No meio dos pensamentos alguém percebe que o livro é bom, mas só o acha porque não o consegue entender e assim chega a conclusão de que é uma bela obra de arte. Bastava dizer que era bom e inteligente, ao invés de arranjar adjetivos que só comunistas de diretório acadêmico entendem.
Ok, minto. Tenho mais conclusões. Porém elas são mais pessoais do que de fato sobre o livro. Acontece quando você segue lendo e pensa em outra coisa. Garanto que isso é muito comum na leitura de IJ. O problema é quando você fica pensando na morte da bezerra e segue lendo. Ser distraído só me parece bom para não perceber assaltos.
Voltando, a forma dele ajuda a dar asas à imaginação. Vi peças, diálogos, críticas, artigos, resenhas, roteiros, ensaios e até glossário lá no meio do livro. Só faltou poesia (ou será que não lembro?). É por isso que o livro fica parecendo maior do que já é. Mas há que se reconhecer que é um ótimo livro. Um épico disfarçado de ficção científica que fala de um futuro não tão improvável (por sinal, boa parte dele se situa cronologicamente no que seria 2008). Ele também ajuda qualquer pessoa a largar das drogas mostrando muita gente fudida por ela. Aliás, não só por drogas, por qualquer tipo de vício/mania/hobby/obsessão.
Enfim, há muito que dizer sobre ele. Só lendo para ter noção de sua grandeza. Quem tiver tempo e disposição para uma boa escalada, cá está uma boa montanha a ser transposta.
Frase não spoileadora que é um dos pontos principais do livro e supostamente ajuda a largar a bebida:
O autor utiliza essas mil páginas para falar de tudo um pouco. Aliás, boa parte do livro você se pergunta sobre o que diabos aquilo tudo se trata porque nada parece ser realmente abordado (nem mesmo a própria narrativa). A Wikipédia condensa até de forma legal os diversos tópicos abordados. Por sinal, este livro é cheio de resenhas e comentários espalhados por ai. Provavelmente todos tentam entender alguma coisa falando sobre o livro. Deve haver lá algum propósito escondido lá dentro (e há muitos). Mas só cheguei a três conclusões:
- Fala-se sobre um cartucho/filme capaz de fazer as pessoas não terem mais desejo algum. Ficam lá vendo e revendo o filme até morrer. Esse filme é trabalhado durante todo o livro e só tendo uma memória de elefante para lembrar de todos os detalhes que vão construindo o filme por 1000 páginas (mas sim, é possível) (e sim, o filme acaba virando uma arma, [spoiler] mas tudo faz parte da grande piada proposta pelo autor);
- Esse é um caso raro de tragicomédia (geralmente eu prefiro até pensar que elas não existem, mas é que aqui realmente é impossível não rir da desgraça alheia);
- Tem muita gente falando idiotamente correto sobre o livro. Ficam pensando em críticas pós-multiculturalistas e em pensamentos (sim, eles pensam sobre pensar). No meio dos pensamentos alguém percebe que o livro é bom, mas só o acha porque não o consegue entender e assim chega a conclusão de que é uma bela obra de arte. Bastava dizer que era bom e inteligente, ao invés de arranjar adjetivos que só comunistas de diretório acadêmico entendem.
Ok, minto. Tenho mais conclusões. Porém elas são mais pessoais do que de fato sobre o livro. Acontece quando você segue lendo e pensa em outra coisa. Garanto que isso é muito comum na leitura de IJ. O problema é quando você fica pensando na morte da bezerra e segue lendo. Ser distraído só me parece bom para não perceber assaltos.
Voltando, a forma dele ajuda a dar asas à imaginação. Vi peças, diálogos, críticas, artigos, resenhas, roteiros, ensaios e até glossário lá no meio do livro. Só faltou poesia (ou será que não lembro?). É por isso que o livro fica parecendo maior do que já é. Mas há que se reconhecer que é um ótimo livro. Um épico disfarçado de ficção científica que fala de um futuro não tão improvável (por sinal, boa parte dele se situa cronologicamente no que seria 2008). Ele também ajuda qualquer pessoa a largar das drogas mostrando muita gente fudida por ela. Aliás, não só por drogas, por qualquer tipo de vício/mania/hobby/obsessão.
Enfim, há muito que dizer sobre ele. Só lendo para ter noção de sua grandeza. Quem tiver tempo e disposição para uma boa escalada, cá está uma boa montanha a ser transposta.
Frase não spoileadora que é um dos pontos principais do livro e supostamente ajuda a largar a bebida:
"the truth will you set you free, but not until it's done with you"
segunda-feira, 28 de julho de 2008
Frase de Jogador de Futebol
"O trabalho é o fruto do sucesso"Eu achava a idéia estúpida até ver que jovens no Brasil têm como grande sonho o emprego (e não é um bom emprego; é qualquer um mesmo) e que basta ser, hã, socialmente injustiçado para ter direitos a mais. Ainda vou ver o dia da Megasena socialmente distribuída. Preciso ficar milionário até lá. Alguém sugere um jogo?
sexta-feira, 25 de julho de 2008
Cidades Invisíveis
Geralmente socialistas escrevem bem. Isso é uma compensação pelo fato de serem socialistas. Encontrar um socialista sendo traduzido por Diogo Mainardi parecia ser realmente um achado. 'Ia' porque acabou se provando ao contrário. Não sei se falha de tradução ou do próprio autor, mas Cidades Invisíveis de Ítalo Calvino parece sempre deixar uma palavra de fora. A cada frase eu tinha a sensação e as vezes chegava a ver o que faltava, mas, com o meu mau hábito de leituras estrangeiras, seguia a leitura sem me importar.
O livro fantasia uma conversa entre Kublai Khan e Marco Polo. No entanto aqui falamos de um Khan velho gay inseguro e de Polo filósofo de mãos peludas nas costas do Khan (yeah, bem Rodrigo Santoro em 300). O livro apresenta 55 cidades com nomes de mulher que são usadas como desculpa para filosofar sobre língua, comércio, destino, religião, Estado, memória e blá blá blá. Além disso há uns poucos diálogos entre capítulos com os dois únicos personagens. Ambos falam (ou se comunicam mentalmente ou por gestos [sério!]) exatamente da mesma forma porque são apenas um pretexto do autor para falar de várias cidades poeticamente. Fazer poesia em prosa não é legal e tenho dito.
Enfim, cansativo, repetitivo e excessivamente simbólico. Nem queria ter falado nele, mas agora já é tarde.
O livro fantasia uma conversa entre Kublai Khan e Marco Polo. No entanto aqui falamos de um Khan velho gay inseguro e de Polo filósofo de mãos peludas nas costas do Khan (yeah, bem Rodrigo Santoro em 300). O livro apresenta 55 cidades com nomes de mulher que são usadas como desculpa para filosofar sobre língua, comércio, destino, religião, Estado, memória e blá blá blá. Além disso há uns poucos diálogos entre capítulos com os dois únicos personagens. Ambos falam (ou se comunicam mentalmente ou por gestos [sério!]) exatamente da mesma forma porque são apenas um pretexto do autor para falar de várias cidades poeticamente. Fazer poesia em prosa não é legal e tenho dito.
Enfim, cansativo, repetitivo e excessivamente simbólico. Nem queria ter falado nele, mas agora já é tarde.
domingo, 20 de julho de 2008
Kokoro
Já disse aqui como encontrei o Natsume Soseki. Como ele se apresentou como um bom autor desconhecido para mim, decidi procurar mais sobre ele. Encontrei Kokoro largado em uma prateleira cinza enferrujada. Infelizmente o estado não era tão bom quando o de Botchan, mas ainda está legível (afinal, em 30 anos sou a 3ª pessoa a por as mãos nesse livro).
Kokoro é um livro é um livro que retrata o Japão da Era Meiji e as mudanças de um feudalismo para um modernismo em poucos anos. Segundo a wikipedia, o título pode ser traduzido como 'coração' (mas japonês nunca se sabe). Poderia sugerir de forma infame que Soseki quis mostrar como era o coração da revolução imperialista (mas não teria graça). Kokoro toma como narrativa a relação entre dois homens: o protagonista, um jovem estudante de qualquer coisa, e Sensei, um velho que não faz nada, e é antipático, grosso e antissocial.
Por algum motivo aleatório, o protagonista olhou para o Sensei e disse: 'vou ser amigo dele'. Após algumas tentativas tentando superar as qualidades supracitadas do Sensei, o protagonista consegue se aproximar e de criar uma amizade. A proximidade mostrou que Sensei tinha um segredo. Dai a história segue até a revelação do tal segredo, mas hoje nem atacarei de estraga prazeres.
É um livro que fala sobre amizade, sobre família, sobre o papel da mulher, sobre a universidade (o conhecimento, de forma mais geral) e sobre o Japão. Além disso, ele fala sobre o amor e sobre o ressentimento. Fosse Soseki um ocidental, o final seria completamente diferente. Para esse japa nascido entre duas eras bem distintas, o amor ainda não tinha esse poder salvador (ou total, como na moral cristã). Assim já adianto que haverá uma tragédia. E não é uma daquelas com propósito e que você pensa 'é, né...'. Acho que simplesmente discordei do autor na, digamos, moral da história, mas isso realmente não importa.
Em Botchan, o protagonista odeia o mundo e se isolava pelo temperamento. Em Kokoro, o isolamento parece mais profundo. Atinge o coração das relações de uma sociedade em mudança. Assim, das duas teremos uma: o autor ou é amargurado ou escrevia para criticar sua época. Mesmo assim é um bom e pequeno livro. Um daqueles para ler e pensar, mas acho que é para pessoas mais velhas ou mais isoladas que eu.
Uma frase que achei legal lá:
Kokoro é um livro é um livro que retrata o Japão da Era Meiji e as mudanças de um feudalismo para um modernismo em poucos anos. Segundo a wikipedia, o título pode ser traduzido como 'coração' (mas japonês nunca se sabe). Poderia sugerir de forma infame que Soseki quis mostrar como era o coração da revolução imperialista (mas não teria graça). Kokoro toma como narrativa a relação entre dois homens: o protagonista, um jovem estudante de qualquer coisa, e Sensei, um velho que não faz nada, e é antipático, grosso e antissocial.
Por algum motivo aleatório, o protagonista olhou para o Sensei e disse: 'vou ser amigo dele'. Após algumas tentativas tentando superar as qualidades supracitadas do Sensei, o protagonista consegue se aproximar e de criar uma amizade. A proximidade mostrou que Sensei tinha um segredo. Dai a história segue até a revelação do tal segredo, mas hoje nem atacarei de estraga prazeres.
É um livro que fala sobre amizade, sobre família, sobre o papel da mulher, sobre a universidade (o conhecimento, de forma mais geral) e sobre o Japão. Além disso, ele fala sobre o amor e sobre o ressentimento. Fosse Soseki um ocidental, o final seria completamente diferente. Para esse japa nascido entre duas eras bem distintas, o amor ainda não tinha esse poder salvador (ou total, como na moral cristã). Assim já adianto que haverá uma tragédia. E não é uma daquelas com propósito e que você pensa 'é, né...'. Acho que simplesmente discordei do autor na, digamos, moral da história, mas isso realmente não importa.
Em Botchan, o protagonista odeia o mundo e se isolava pelo temperamento. Em Kokoro, o isolamento parece mais profundo. Atinge o coração das relações de uma sociedade em mudança. Assim, das duas teremos uma: o autor ou é amargurado ou escrevia para criticar sua época. Mesmo assim é um bom e pequeno livro. Um daqueles para ler e pensar, mas acho que é para pessoas mais velhas ou mais isoladas que eu.
Uma frase que achei legal lá:
"Words are not meant to stir the air only: they are capable of moving greater things."
domingo, 13 de julho de 2008
20 dias sem suor e nem humildade
(a idéia inicial era duas semanas sem suor. Mas o tempo foi passando e cheguei aos 20. Antes que se tornem 30 decidi me forçar a fazer isso).
Descobri que sou realmente ruim em não fazer nada. Não fiz absolutamente nada e isso realmente incomoda quem passou um ano metido nos mais altos esquemas da política regional. Após isso decidi que realmente deveria fazer alguma coisa. Como passei muito tempo sem fazer nada, seria perigoso começar com algo mais algum exercício mais pesado. Experimentei sentar no computador. Mesmo assim continuei com um tédio infinito (tão infinito quanto o livro que estou lendo agora).
Daí lembrei da lista de comunicação e pensei: "nossa, vou arranjar uma briga lá para aquecer o inverno nordestino". (Para quem não sabe, o inverno nordestino tem média de 28º à sombra, mas chove o tempo todo).
Nem precisei procurar muito para arranjar um motivo de discórdia (lá ela já nasce naturalmente). Bastou dizer que fazer blogs com as matérias produzidas durante uma cadeira do 3º período é uma idéia ruim. Resultado: milhares de emails chamando os criticadores de "feio-feio-feios" e também exigindo suas humildades.
Sem nada para fazer, lá fui atrás de humildade no google (ao contrário do que parece, é realmente fácil achar humildade por lá). Por algum motivo aleatório, devemos sempre respeitar quem faz alguma coisa. É uma forma de dizer que alguém fez uma droga, mas que você não conseguiria fazer muito diferente, então não há problemas em fazer drogas. Também é necessário dizer a quem começou a aprender qualquer ofício que ele está fazendo um bom trabalho (merda), mas que vai melhorar. Isso nos ajudará a entrar pela porta da frente na sagrada reitoria ocupada dos céus (com duas entradas para o cineocupação, uhúl!).
Nesse ponto fico a doente Ayn Rand mesmo. Humildade não é uma virtude. Pode ser uma questão de etiqueta não esculhambar os outros, mas isso está longe de reconhecer como bons trabalhos medíocres. Além disso, humildade (usando uma definição de wikipedia) seria uma qualidade pessoal. Eu não preciso ficar esfregando minhas virtudes nos outros e eles não precisam ficar me lembrando delas.
Só nunca vi ninguém ficar rico, famoso ou bem sucedido por ser humilde e não combater os defeitos. A não ser quem não tenha defeitos, mas ai já é outra história. Vou agora garantir meus lugares no cineocupação.
.....
ps: o Tobol Kostanai empatou com o Kairat Almaty, mas ainda lidera a Super League do Kazaquistão. Azat Nurgaliev abriu para o Tobol Kostanai aos 15 minutos do primeiro tempo. Aos 10 do segundo tempo, Vladimir Yakovlev empatou para o time da casa.
Descobri que sou realmente ruim em não fazer nada. Não fiz absolutamente nada e isso realmente incomoda quem passou um ano metido nos mais altos esquemas da política regional. Após isso decidi que realmente deveria fazer alguma coisa. Como passei muito tempo sem fazer nada, seria perigoso começar com algo mais algum exercício mais pesado. Experimentei sentar no computador. Mesmo assim continuei com um tédio infinito (tão infinito quanto o livro que estou lendo agora).
Daí lembrei da lista de comunicação e pensei: "nossa, vou arranjar uma briga lá para aquecer o inverno nordestino". (Para quem não sabe, o inverno nordestino tem média de 28º à sombra, mas chove o tempo todo).
Nem precisei procurar muito para arranjar um motivo de discórdia (lá ela já nasce naturalmente). Bastou dizer que fazer blogs com as matérias produzidas durante uma cadeira do 3º período é uma idéia ruim. Resultado: milhares de emails chamando os criticadores de "feio-feio-feios" e também exigindo suas humildades.
Sem nada para fazer, lá fui atrás de humildade no google (ao contrário do que parece, é realmente fácil achar humildade por lá). Por algum motivo aleatório, devemos sempre respeitar quem faz alguma coisa. É uma forma de dizer que alguém fez uma droga, mas que você não conseguiria fazer muito diferente, então não há problemas em fazer drogas. Também é necessário dizer a quem começou a aprender qualquer ofício que ele está fazendo um bom trabalho (merda), mas que vai melhorar. Isso nos ajudará a entrar pela porta da frente na sagrada reitoria ocupada dos céus (com duas entradas para o cineocupação, uhúl!).
Nesse ponto fico a doente Ayn Rand mesmo. Humildade não é uma virtude. Pode ser uma questão de etiqueta não esculhambar os outros, mas isso está longe de reconhecer como bons trabalhos medíocres. Além disso, humildade (usando uma definição de wikipedia) seria uma qualidade pessoal. Eu não preciso ficar esfregando minhas virtudes nos outros e eles não precisam ficar me lembrando delas.
Só nunca vi ninguém ficar rico, famoso ou bem sucedido por ser humilde e não combater os defeitos. A não ser quem não tenha defeitos, mas ai já é outra história. Vou agora garantir meus lugares no cineocupação.
.....
ps: o Tobol Kostanai empatou com o Kairat Almaty, mas ainda lidera a Super League do Kazaquistão. Azat Nurgaliev abriu para o Tobol Kostanai aos 15 minutos do primeiro tempo. Aos 10 do segundo tempo, Vladimir Yakovlev empatou para o time da casa.
quarta-feira, 25 de junho de 2008
Relatório de estágio
Passei alguns dias pensando em alguma forma emotiva para dizer que não mais estagio num ambiente público (burocrático/democrático), mas acho que a única sensação que me restou foi a vontade de me superar por lá. Penso que só volto lá como deputado, mas é claro que isso é um exagero (afinal se no Brasil temos que sonhar com um emprego numa empresa, que seja o melhor deles. É melhor deixar as pequenas coisas para a realidade).
Outro ponto que me faz não querer atender esse desejo é que, ao acompanhar de perto os políticos de todas as situações, acabei ficando com pena deles. Deputado sofre muito. Parece brincadeira, mas é bem verdade isso. É fácil esquecer que eles são seres humanos e que não dá para classificá-los em largos grupos com bandeiras de partidos no lugar de faces.
(Claro que também preciso assumir que vi de tudo lá. Dos tipos mais inocentes aos mais nefastos de corrupção e abuso de poder/autoridade/voz/gordura/paciência/etc. Boa parte não é tão grosseiramente culpada, mas a inocência ainda persiste em um ou outro. Por incrível que pareça, de fato, existe deputado honesto).
Servidores públicos são quase iguais. Com a diferença de não serem votados. Se bem que na casa legislativa há uma diferença entre eles. São três tipos de servidores basicamente: os contratados (com direito a permanecerem calados e enfiarem o rabo entre as pernas; são a base da pirâmide), os comissionados (com direito a voz depois de declarado enfio de rabo entre as pernas; maior segurança, mas direito algum) e, por fim, os concursados (com direito a falar sem enfiar nada em lugar nenhum e com o direito a trabalhar como quiserem; sim, aqueles que envelhecem, fazem piadas e palavras-cruzadas enquanto procuram aquela ficha que você espera por 3 horas). O legal de minha generalização é que nem é tão assim que ela se apresenta na realidade.
Também há outra esfera de poder: os sem poderes. Se pensou em serventes e vendedores de sala-em-sala, você se engana. Quem não tem nada mesmo é estagiário (apesar de que lá há relatos de estagiários com Mercedes e BMWs). Estudante ganha menos que o servente de lá.
Enfim volto ao status de quem não tem nada para fazer. Vou poder continuar as leituras atrasadas e curtir minhas primeiras férias em quase 2 anos. De quebra ainda arranjei um pc novo com o qual me ocupa em ocupar os 250 GBs de HD que ele tem.
Agora chega de diarinho. Sempre achei relatórios de estágio coisas inúteis. São como uma redação de "minhas férias" (ou de "como fiz para me manter ocupado durante o recesso" no caso instituições federais grevistas). A diferença é que esses ninguém lê mesmo e só resta a leve impressão de que já vamos tarde.
Outro ponto que me faz não querer atender esse desejo é que, ao acompanhar de perto os políticos de todas as situações, acabei ficando com pena deles. Deputado sofre muito. Parece brincadeira, mas é bem verdade isso. É fácil esquecer que eles são seres humanos e que não dá para classificá-los em largos grupos com bandeiras de partidos no lugar de faces.
(Claro que também preciso assumir que vi de tudo lá. Dos tipos mais inocentes aos mais nefastos de corrupção e abuso de poder/autoridade/voz/gordura/paciência/etc. Boa parte não é tão grosseiramente culpada, mas a inocência ainda persiste em um ou outro. Por incrível que pareça, de fato, existe deputado honesto).
Servidores públicos são quase iguais. Com a diferença de não serem votados. Se bem que na casa legislativa há uma diferença entre eles. São três tipos de servidores basicamente: os contratados (com direito a permanecerem calados e enfiarem o rabo entre as pernas; são a base da pirâmide), os comissionados (com direito a voz depois de declarado enfio de rabo entre as pernas; maior segurança, mas direito algum) e, por fim, os concursados (com direito a falar sem enfiar nada em lugar nenhum e com o direito a trabalhar como quiserem; sim, aqueles que envelhecem, fazem piadas e palavras-cruzadas enquanto procuram aquela ficha que você espera por 3 horas). O legal de minha generalização é que nem é tão assim que ela se apresenta na realidade.
Também há outra esfera de poder: os sem poderes. Se pensou em serventes e vendedores de sala-em-sala, você se engana. Quem não tem nada mesmo é estagiário (apesar de que lá há relatos de estagiários com Mercedes e BMWs). Estudante ganha menos que o servente de lá.
Enfim volto ao status de quem não tem nada para fazer. Vou poder continuar as leituras atrasadas e curtir minhas primeiras férias em quase 2 anos. De quebra ainda arranjei um pc novo com o qual me ocupa em ocupar os 250 GBs de HD que ele tem.
Agora chega de diarinho. Sempre achei relatórios de estágio coisas inúteis. São como uma redação de "minhas férias" (ou de "como fiz para me manter ocupado durante o recesso" no caso instituições federais grevistas). A diferença é que esses ninguém lê mesmo e só resta a leve impressão de que já vamos tarde.
terça-feira, 24 de junho de 2008
Sobre como eu percebi o princípio do fim do Universo
Começou com uma afta. Por três dias ela continuou crescendo sem dar sinais de trégua. Logo percebi que nem o Universo lhe será o bastante.
segunda-feira, 16 de junho de 2008
A Peste (again)
No fim das contas, a peste me fez refletir. Fiquei pensando se realmente havia pego a idéia lá do Camus (franceses têm essa habilidade de serem geniais travestidos de idiotas fazendo coisas idiotas. Por exemplo, Victor Hugo, que se meteu em política francesa, e Alexandre Dumas pai, cuja foto dispensa comentários). Foi enquanto debatia o assunto com meu eu-lírico que cheguei a uma conclusão: Camus é genial.
Tudo é questão de uma simples interpretação.
Lá estava Deus sem fazer nada porque fez tudo em sete dias e ficou com o resto da eternidade livre quando observou uma cidadezinha feia cheia de franceses fazendo o que franceses fazem: falam francês em cafés enquanto tomam vinho e falam sobre arte (sem esquecer a expressão blasé jamé). No meio de todos aqueles serem empertigados de egos avantajados, havia um médico (o protagonista e narrador) que se destacava na arte de ser mais francês que os demais franceses (além de todo o resto ele era ateu e moralista).
O Pai Todo Poderoso pensou consigo próprio: "ó meu Eu! Preciso fazer esse meu filho a quem já perdoei pensar um pouco".
Deus, que já havia deixado tudo pensado de antemão, sacou seu plano secreto de fazer as pessoas pensarem. Funcionou muito bem na primeira vez que foi usado, mas Deus decidiu aderir a moda e optou por tirar coisas bregas como gafanhotos, sapos, rios de sangue e chuva de fogo. Os franceses seriam insensíveis a castigos divinos. A única coisa que poderia chocá-los seria um ultra-naturalismo seco e escarrado.
A primeira ação é mandar peste na cidade do sujeito a ser atingido. A peste não é exatamente chocante, mas como o alvo é médico ele vai ter que olhar para ela e meter a mão na massa. O ataque de Deus é claro, pois o primeiro a morrer de peste é o porteiro do médico. Desde o primeiro caso o médico já entendeu que a peste servia para refletir, mas sabem como é? Deus gosta de ter certeza.
Só para confirmar a reflexão, a peste leva o Juiz, o Padre, os amigos, a esposa, milhares de pessoas que eram enterradas em valas comuns ou cremadas, todos os ratos, todos os gatos e todos os cães (imagino que todas as pulgas também). No fim o Pai olhou orgulhoso para seu feito e viu que havia atingido o objetivo estabelecido antes do surgimento do cosmos: o médico estava refletindo (fora dos cafés, por sinal).
No fim Camus consegue pintar uma figura do que é necessário para fazer um francês típico pensar. Afinal tem alguma forma mais fácil que essa?
Tudo é questão de uma simples interpretação.
Lá estava Deus sem fazer nada porque fez tudo em sete dias e ficou com o resto da eternidade livre quando observou uma cidadezinha feia cheia de franceses fazendo o que franceses fazem: falam francês em cafés enquanto tomam vinho e falam sobre arte (sem esquecer a expressão blasé jamé). No meio de todos aqueles serem empertigados de egos avantajados, havia um médico (o protagonista e narrador) que se destacava na arte de ser mais francês que os demais franceses (além de todo o resto ele era ateu e moralista).
O Pai Todo Poderoso pensou consigo próprio: "ó meu Eu! Preciso fazer esse meu filho a quem já perdoei pensar um pouco".
Deus, que já havia deixado tudo pensado de antemão, sacou seu plano secreto de fazer as pessoas pensarem. Funcionou muito bem na primeira vez que foi usado, mas Deus decidiu aderir a moda e optou por tirar coisas bregas como gafanhotos, sapos, rios de sangue e chuva de fogo. Os franceses seriam insensíveis a castigos divinos. A única coisa que poderia chocá-los seria um ultra-naturalismo seco e escarrado.
A primeira ação é mandar peste na cidade do sujeito a ser atingido. A peste não é exatamente chocante, mas como o alvo é médico ele vai ter que olhar para ela e meter a mão na massa. O ataque de Deus é claro, pois o primeiro a morrer de peste é o porteiro do médico. Desde o primeiro caso o médico já entendeu que a peste servia para refletir, mas sabem como é? Deus gosta de ter certeza.
Só para confirmar a reflexão, a peste leva o Juiz, o Padre, os amigos, a esposa, milhares de pessoas que eram enterradas em valas comuns ou cremadas, todos os ratos, todos os gatos e todos os cães (imagino que todas as pulgas também). No fim o Pai olhou orgulhoso para seu feito e viu que havia atingido o objetivo estabelecido antes do surgimento do cosmos: o médico estava refletindo (fora dos cafés, por sinal).
No fim Camus consegue pintar uma figura do que é necessário para fazer um francês típico pensar. Afinal tem alguma forma mais fácil que essa?
domingo, 15 de junho de 2008
A Peste
Sempre tive um pouco de nojo de quem lia esses autores franceses metidos a filósofos. Quando via alguém com o Foucalt na mão, eu começava a rir como quem lembra uma piada que não havia entendido. Enfim, vivia feliz com os meus preconceitos.
Desde Botchan peguei um mal hábito que, sabe-se lá porque motivo, me parece divertido: pegar um livro qualquer na biblioteca seguindo um critério aleatório e arbitrário. Em Botchan, foi a capa que me atraiu. Agora por que diabos um francês metido a filósofo veio me atrair? Ok, eu sei porque.
Primeiro, porque o livro era novo e isso realmente tem muita influência (minhas delicaladas mãozinhas não gostam de poeira feia-feia-feia). O segundo motivo foi porque li as primeiras páginas e nelas vi algo bem saramagonesco. Algo realmente legal.
Bem, logo de cara Albert Camus apresenta Oran, uma cidade feia e cheia de gente que está nem ai para nada (imaginei uma cidade cheia de gente que veste boinas e enche os cafés um olhar blasé). Do nada, os ratos da cidade começam a morrer, mas ninguém se importa. Também do nada, quando já não há mais ratos, as pessoas começam a morrer, mas ninguém se importa. Até que a cidade é fechada e posta em quarentena. Parecia tudo bem encaminhado, mas...
Para mim o livro termina ai. Depois disso o que vemos é enrolação sem igual. A palavra 'peste' é repetida tantas vezes quanto 'confusão' em propaganda de Sessão da Tarde ou 'adrenalina' em Tela Quente. Nesse ponto, ele começa a argumentar que a 'peste faz as pessoas pensarem'... doeu fundo. Lembrei de quando ouvi na faculdade sobre um lugar que as pessoas não tinham onde cagar, "mas o pior mesmo é elas são analfabetas", disseram. O pior mesmo é que ele escreve bem; ele tinha uma boa idéia; mas ele precisava jogar tudo fora como jogou?
Quando já não tinha mais o que dizer sobre a peste e sobre reflexão de dor e isolamente, Camus começa a matar seus personagens. Faz sentido quando milhares de pessoas morrendo de peste. Ele mata justamente quem tomou todos os soros e se cuidou (e teve um que foi o único a morrer na história inteira de outra doença). Ou seja, mata só para dizer que peste é isso mesmo e que todo mundo morre. Só sobrevive o narrador que deixa sua mensagem de: "pense nisso, ui!".
A conclusão é uma daquelas do tipo: 'ó meu Deus! Vamos sempre lembrar da peste e do que ela nos causou'. Enfim... decepciona.
Mesmo assim, não largarei meu hábito. Já peguei aleatoriamente "E Jimmy foi ao Arco-Íris" de Simmel. Pode até ser ruim, mas não resisti ao título.
Desde Botchan peguei um mal hábito que, sabe-se lá porque motivo, me parece divertido: pegar um livro qualquer na biblioteca seguindo um critério aleatório e arbitrário. Em Botchan, foi a capa que me atraiu. Agora por que diabos um francês metido a filósofo veio me atrair? Ok, eu sei porque.
Primeiro, porque o livro era novo e isso realmente tem muita influência (minhas delicaladas mãozinhas não gostam de poeira feia-feia-feia). O segundo motivo foi porque li as primeiras páginas e nelas vi algo bem saramagonesco. Algo realmente legal.
Bem, logo de cara Albert Camus apresenta Oran, uma cidade feia e cheia de gente que está nem ai para nada (imaginei uma cidade cheia de gente que veste boinas e enche os cafés um olhar blasé). Do nada, os ratos da cidade começam a morrer, mas ninguém se importa. Também do nada, quando já não há mais ratos, as pessoas começam a morrer, mas ninguém se importa. Até que a cidade é fechada e posta em quarentena. Parecia tudo bem encaminhado, mas...
Para mim o livro termina ai. Depois disso o que vemos é enrolação sem igual. A palavra 'peste' é repetida tantas vezes quanto 'confusão' em propaganda de Sessão da Tarde ou 'adrenalina' em Tela Quente. Nesse ponto, ele começa a argumentar que a 'peste faz as pessoas pensarem'... doeu fundo. Lembrei de quando ouvi na faculdade sobre um lugar que as pessoas não tinham onde cagar, "mas o pior mesmo é elas são analfabetas", disseram. O pior mesmo é que ele escreve bem; ele tinha uma boa idéia; mas ele precisava jogar tudo fora como jogou?
Quando já não tinha mais o que dizer sobre a peste e sobre reflexão de dor e isolamente, Camus começa a matar seus personagens. Faz sentido quando milhares de pessoas morrendo de peste. Ele mata justamente quem tomou todos os soros e se cuidou (e teve um que foi o único a morrer na história inteira de outra doença). Ou seja, mata só para dizer que peste é isso mesmo e que todo mundo morre. Só sobrevive o narrador que deixa sua mensagem de: "pense nisso, ui!".
A conclusão é uma daquelas do tipo: 'ó meu Deus! Vamos sempre lembrar da peste e do que ela nos causou'. Enfim... decepciona.
Mesmo assim, não largarei meu hábito. Já peguei aleatoriamente "E Jimmy foi ao Arco-Íris" de Simmel. Pode até ser ruim, mas não resisti ao título.
quinta-feira, 12 de junho de 2008
Aliviado
Sabe... estou bêbado. Não só pouco bêbado, mas completamente ébrio (só para usar uma palavra diferente). Mas tudo tem um motivo, é bem verdade. O meu é muito simples. Meu time me surpreendeu e vai agora disputar a Libertadores da América. Lembrando que ganhar do Coringão sempre é bão!
ps: será que cabe mais uma estrela?
ps: será que cabe mais uma estrela?

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